Promessas de um novo mundo

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Os filhos de Jerusalém

Desde sua exibição no último Festival do Rio BR, criou-se uma onda de simpatia em torno de “Promessas de um Novo Mundo”. A mesma coisa tem acontecido em diversos países, onde o documentário arrematou diversos prêmios e elogios sonoros como o do jornal israelense Kol Ha’Ir: “Se fosse um filme obrigatório para todos os políticos, economizaria muitos futuros derramamentos de sangue.”

Promises posterRealizado entre 1997 e 2000, num período em que os ânimos entre judeus e palestinos não estavam tão exaltados quanto hoje, “Promises” encontrou um aspecto que, se não é totalmente original, pelo menos foge aos lugares-comuns mais freqüentes no enfoque daquela questão. A crer no que pensam e dizem sete crianças residentes em Jerusalém e redondezas, com idades entre 9 e 13 anos, não há soluções fáceis à vista para o conflito entre os seguidores da Torah e do Corão. Os protagonistas são um menino judeu ortodoxo, dois irmãos gêmeos avessos à religião, um filho de colonos que sonha em se tornar líder militar para erradicar os árabes, a filha de um líder palestino preso em Israel, um pequeno atleta de um campo de refugiados palestinos e um garoto pró-Hamas que não admite sequer trocar um “olá” com algum colega judeu.

A franqueza e a candura com que eles se expressam podem provocar arrepios. Alguns representam o fanatismo e o ódio racial em seu estado mais puro, herança de várias gerações. Cada um se preocupa em mostrar as “provas” documentais de que Jerusalém pertence ao seu respectivo povo. Numa das cenas mais impressionantes, uma menina faz previsões sobre o seu futuro de esposa judia enquanto tenta arduamente resolver um pequeno problema doméstico. A obstinação da garota reflete toda a formação de um caráter inflexível, que se projeta para o futuro da família e do país.

Há também os que, não sem alguma hesitação, acabam concordando em participar de um encontro ecumênico promovido pela produção do filme. O co-diretor e repórter B.Z. Goldberg, um judeu-americano criado em Jerusalém, aposta, então, todas as suas fichas nessa iniciativa – um sinal de que a boa vontade das crianças poderia selar um pacto de convivência entre os dois lados do Monte do Templo. Quando deixa de lado a simples (mas reveladora) documentação do ressentimento e do desconhecimento mútuos, partindo para a construção desse encontro, o filme perde força e se aproxima de uma peça pacifista da Unicef. É uma pena. A solução fácil diante da câmera não se adequa à imensa complexidade do que fora apresentado até ali.

De qualquer forma, o apelo à emoção de um congraçamento precário não chega a apagar a perspectiva mais realista e honesta que orienta todo o filme. “Promessas de um Novo Mundo” é um raro mergulho na realidade de uma cidade onde os inimigos se cruzam costumeiramente nas ruas e a vida precisa vencer o ódio a cada minuto. O que o documentário de B.Z. Goldberg, Justine Shapiro e Carlos Bolado acaba mostrando, apesar do título promissor, é que a vitória definitiva ainda custará mais de uma geração para chegar.

[ por Carlos Alberto Mattos  – no.com.br 20|12|2001 ]   

 


Em 1997, então com 34 anos, B.Z. GOLDBERG retorna a Jerusalém, cidade onde foi criado, motivado pela curiosidade de encontrar as crianças que lá estão crescendo nos dias de hoje. É uma época de relativa calma, logo após a assinatura do Acordo de Oslo e antes da última intifada, em 2000.

Estimulado por seu trabalho anterior como repórter no Oriente Médio, Goldberg viaja até as comunidades Palestinas e territórios “ocupados” – lugares nos quais ele nunca ousou entrar enquanto criança ­ e até a vizinhança familiar de Jerusalém. Junto com sua equipe de filmagem, Goldberg encontra e torna-se amigo de 7 crianças de idades entre 9 e 13 anos:

YARKO & DANIEL são gêmeos israelenses e judeus seculares preocupados com questões como o exército, a religião e voleibol. Eles passam tempo com seu avô, interrogando-o por maiores detalhes sobre suas experiências no campo de concentração alemão. Eles também tentam pressioná-lo a responder uma questão com a qual eles também lutam: ele acredita em Deus?

MAHMOUD, loiro, olhos azuis, e apoiador do Hamas. Em sua escola, o Corão é ensinado como um manifesto pela emancipação Palestina. Mahmoud nos leva ao Quarteirão Muçulmano na Cidade Velha, onde sua família mantém uma mercearia por 3 gerações. A alguns minutos da loja está a mesquita de Al Aqsa ­ um dos santuários do Islã ­ onde Mahmoud vem rezar.

SHLOMO, um judeu ultra-ortodoxo, reza no Muro das Lamentações. Shlomo estuda a Torah 12 horas por dia. Uma tarde, andando entre os quarteirões Judaico e Muçulmano na Cidade Velha, Shlomo tem uma discussão com um garoto Palestino. O que poderia tornar-se uma sucessão de socos e chutes, transforma-se em uma seqüência metafórica, ao passo que as crianças revelam sua hostilidade e curiosidade sobre o outro em uma competição de arrotos.

SANABEL provém de uma família de refugiados palestinos já em sua terceira geração. É uma família de “modernos” árabes seculares. Ela é uma dançarina e utiliza a tradicional dança palestina como forma de contar a história de seu povo. Seu pai, um jornalista, foi capturado em uma prisão Israelense por dois anos sem direito a julgamento. Nós acordamos com a família de Sanabel, com o sol ainda por nascer, para viajar até a prisão para a visita mensal a seu pai.

FARAJ é um refugiado Palestino que vive no campo de Deheishe. Aos 5 anos ele testemunhou o assassinato de um amigo por um soldado israelense. Após participar de um comício anti-Israel, Faraj e sua avó conseguem passar por um posto de controle fronteiriço e entrar em Israel para visitar a antiga vila de onde ela escapou durante a Guerra de 1948. Sentados em pedras que um dia já foram a casa de sua família, Faraj promete um dia retornar e reconstruir sua propriedade.

MOISHE, um judeu de extrema direita e habitante dos territórios “ocupados”, formaliza a essência do conflito: “Deus deu a Abraão a terra, mas os árabes vieram e pegaram-na!”. Embora nunca tenha encontrado um árabe, Moishe nos assegura de que quando tornar-se Primeiro Ministro, ele “limpará Jerusalém de todos eles!”. Visitando o túmulo de um amigo assassinado por terroristas Palestinos, Moishe jura vingança.

AS CRIANÇAS ENCONTRAM-SE: Quando B.Z. mostra a Yarko e Daniel uma foto Polaroid de Faraj, eles perguntam, “Por que não o visitamos?”. Faraj imagina que não encontrará nada em comum com crianças Israelenses até que Sanabel o desafia: “Não conheço uma única criança Palestina que tenha tentado explicar nossa situação a um Israelense.”

Os gêmeos viajam ao campo de refugiados. Esta é a primeira vez que ambos encontrarão alguém “do outro lado”. Eles compartilham uma refeição, jogam futebol e começam a aproximar-se. Mas a promessa de amizade dura pouco na medida em que os obstáculos físicos e culturais interceptam suas esperanças de aproximação.

DOIS ANOS DEPOIS: Num moderado, mas honesto epílogo, as crianças ­ agora entre 13-15 anos ­ falam sobre sua visão do “outro”, seus pensamentos e sobre a possibilidade de encontrar-se e seus sonhos para o futuro.

O conflito no Oriente Médio visto através dos olhos das crianças israelenses e palestinas que vivem em Jerusalém.

Mais do que retratar as pesadas notícias e eventos políticos, este filme vencedor de vários prêmios, vê o conflito Israelense-Palestino e profere a paz levando o público aos corações e mentes das crianças de Jerusalém. O filme conta a história de sete crianças Israelenses e Palestinas. Cada criança demonstra dramáticas, emotivas, e por vezes hilárias perspectivas ao tratar de assuntos fundamentais ao desenrolar do conflito no Oriente Médio.

As crianças têm entre 9 e 13 anos, um grupo de idade que raramente fala por si. Sem o discurso consciente de um adolescente, nem a educação de um adulto, eles se comunicam sem auto-censura. Embora vivam a uma distância de apenas 20 minutos, as crianças estão presas a mundos separados. O filme explora os limites que existem entre estas crianças e conta a história de algumas poucas que ousaram cruzar as fronteiras e encontrar seus vizinhos.

Poucos visitantes do Oriente Médio ­ e mesmo poucos residentes ­ aventuram-se a visitar os lugares dos quais o longa se aproxima. Mesmo o público que pensa que “entende” este conflito, ou aqueles que já não agüentam mais ouvir falar sobre ele, têm sido repetidamente surpreendidos pelo aprendizado que tiveram junto a estas crianças.

Desde sua estréia no Festival Internacional de Roterdã, PROMESSAS DE UM NOVO MUNDO vem acumulando elogios de crítica e público por todo o mundo. O filme fez história em Roterdã por ser o primeiro documentário em 30 anos a ganhar o prestigioso “Prêmio Canal + de Audiência” ­ vencendo “O TIGRE E O DRAGÃO”, “BEM-VINDOS” e “AMOR A FLOR DA PELE”.

Nos EUA, o filme ganhou o prêmio de público e do júri por Melhor Documentário no Festival Internacional de São Francisco e ainda fez parte da seleção oficial de muitos festivais internacionais, incluindo Locarno, Karlovy Vary, Sydney, Festival do Rio BR e outros.

PROMESSAS DE UM NOVO MUNDO foi produzido e dirigido por Justine Shapiro, apresentadora da aclamada série de TV “LONELY PLANET” e por B.Z. Goldberg, um americano-israelense que cresceu em Jerusalém e foi jornalista durante a intifada (revolta palestina). O filme foi co-dirigido e montado por Carlos Bolado, diretor do premiado filme “BAJO CALIFORNIA” e responsável pela edição de numerosos filmes, incluindo “COMO ÁGUA PARA CHOCOLATE”. Eles começaram a produção de PROMESSAS DE UM NOVO MUNDO em 1995 e completaram o filme no começo de 2001. A fotografia principal foi feita entre 1997 e 2000, antes da última revolta Palestina que teve início no outono de 2000. Este é o primeiro filme de Shapiro e Goldberg. A equipe precisou de 2 anos para fazer a edição de 200 horas de filmagem.

PROMESSAS DE UM NOVO MUNDO foi produzido pela “THE PROMISES FILM PROJECT”, uma organização sem fins lucrativos, compromissada a utilizar o filme no intuito de educar o público sobre a paz e o processo de paz no Oriente Médio. O filme foi produzido em associação à INDEPENDENT TELEVISION SERVICE, com fundos parcialmente providos pela CORPORATION FOR PUBLIC BROADCASTING. Outros patrocinadores incluem: THE OPEN SOCIETY INSTITUTE (George Soros), THE NATIONAL ENDOWMENT FOR THE ARTS, THE NATIONAL FOUNDATION FOR JEWISH CULTURE (Steven Spielberg) e a LYN & NORMAN LEAR FAMILY FOUNDATION. O quadro de conselheiros do filme inclui o Primeiro Ministro de Israel YOSSI SARID, a então representante do povo Palestino HANAN ASHRAWI, o reverendo JAMES PARKS MORTON, LEA RABIN e DEBRA WINGER.

SOBRE A EQUIPE:

JUSTINE SHAPIRO (Direção/Produção) nasceu na África do Sul e foi criada em Berkeley, Califórnia. Ela apresenta e co-roteiriza o premiado seriado de viagens e aventuras LONELY PLANET desde a sua concepção em 1994. A série é transmitida mundialmente com uma audiência global de 35 milhões de pessoas (Discovery Channel; Travel Channel; France 3; Channel 4-UK, etc.). Em 1994, durante uma filmagem para seu programa em Israel e nos territórios “ocupados”, Justine encontrou-se mergulhada nas discussões das crianças. As fortes palavras e violentas emoções que ela encontrou em suas jovens primas Israelenses e em crianças Palestinas que encontrou, a emocionaram profundamente. Ela e seu amigo B.Z. descobriram ter um interesse em comum no drama e no poder do conflito no Oriente Médio da maneira como expressada pelas crianças e daí o THE PROMISES FILM PROJECT foi criado.

B.Z. GOLDBERG (Direção/Produção) nasceu em Boston e foi criado nas redondezas de Jerusalém. Estudou cinema na New York University. B.Z. trabalhou como jornalista durante a primeira intifada (revolta palestina). Também trabalhou internacionalmente como consultor para resolução de conflitos. B.Z. é fluente em hebraico e fala um pouco de árabe. A experiência de B.Z. serviu de comprovação para ele mesmo de que o crucial na resolução de qualquer conflito é : a) a criação de fóruns onde as pessoas possam falar diretamente, abertamente, e sem pre-concepções de um determinado lado, e b) cultivar a fome da curiosidade e conhecimento ao invés de procurar pela justiça “objetivamente”. Em 1995, armado de seu comportamento curioso e seu sonho de fazer um filme sobre crianças, B.Z. juntou-se a Justine Shapiro para fazer PROMESSAS DE UM NOVO MUNDO.

CARLOS BOLADO (Co-direção/Edição) nasceu no México. Sua estréia na direção, BAJO CALIFORNIA ­ EL LIMITE DEL TIEMPO foi selecionado para vários festivais por todo o mundo. Carlos recebeu reconhecimento internacional por seu trabalho na edição de COMO ÁGUA PARA CHOCOLATE. Ele foi consultor de edição do filme AMORES BRUTOS, indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

JANET COLE (Produção Executiva) foi também produtora de REGRET TO INFORM (Lamentamos Informar), que recebeu o prêmio Peabody e uma indicação para o Oscar. Janet também produziu PARAGRAPH 175 com os diretores vencedores do Oscar ROB EPSTEIN e JEFFREY FRIEDMAN para a HBO e ABSOLUTELY POSITIVE, com o diretor PETER ADAIR.

STEPHEN MOST (Consultor de Roteiro) é roteirista de teatro e cinema. “BERKELEY IN THE SIXTIES”, filme de sua autoria, recebeu indicação para o Oscar. MOTHERS OF THE PLAZA e FREEDOM ON MY MIND receberam também indicações para o Oscar. Outros documentários roteirizados por Stephen incluem: HEALTHY AGING, THE POWER OF CHOICE e LIFE BEYOND EARTH.

YORAM MILLO (Câmera) tem uma longa e distinta carreira como fotógrafo de primeiro calibre. Filmou muitos documentários premiados incluindo: BISHA: THE AWESOME FIRE TEST, THE COLLABORATORS, ARAB AND JEW AND THE HOLY LANDS. A carreira de Yoram também inclui trabalhos para o Channel 4 (UK), Discovery Channel, BBC e PBS.

ILAN BUCHBINDER (Câmera) cobriu notícias do Oriente Médio por 10 anos. Seu trabalho tem sido visto em todas as maiores redes de TV dos EUA e Europa. Por muitos anos Ilan foi o principal câmera do escritório da Reuters TV em Jerusalém.


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