O movimento sionista e os árabes: uma questão ignorada?


Bandeiras de Israel e Palestina lado-a-ladoPosição:  Os movimentos nacionais judeu e árabe em Israel/Palestina

O sionismo, como ideologia que legitima um Estado Judeu na Palestina/Terra de Israel, assim como o movimento nacional palestino que defende as justas aspirações nacionais do povo árabe-palestino, congrega várias correntes políticas, que não podem ser simplificadas e vistas como blocos únicos.

Em ambos os movimentos nacionais existem várias correntes, mais ou menos próximas a ideais humanistas e democráticos,  ou a posturas radicais e excludentes.

Publicamos, a seguir, a primeira parte de um artigo recente que analisa um tema essencial, mas pouco ventilado: a multiplicidade das atitudes do movimento sionista, em seus vários matizes ideológicos, frente à questão da minoria árabe no Estado de Israel.

Visamos com isto alimentar um diálogo esclarecedor e a desmistificação de uma tendência em voga em setores que tendem a apressadamente condenar e desqualificar, apoiados em palavras-de-ordem simplificadoras e maniqueístas, a legitimidade dos anseios nacionais de cada um dos povos.

Israelenses e palestinos, respeitadas suas legítimas aspirações nacionais, haverão – mediante a superação de preconceitos e estereótipos iniciada no Processo de Paz de Oslo –  por conseguir uma paz justa e duradoura baseada numa solução de Dois Estados para Dois Povos, convivendo harmoniosamente lado-a-lado. 

Amigos Brasileiros do PAZ AGORA

 


A questão árabe no pensamento de Achad Ha’Am

O movimento sionista e os árabes: uma questão ignorada?

O movimento sionista não é monolítico. Se um projeto de lei pretende a criação de povoado “só para judeus”, isto não significa, como querem pintar propagandistas no mundo, que “fica demonstrado que o sionismo é e será racismo”. A mencionada proposta de lei, embora tenha sido “enterrada” no curso do debate legislativo, nos dá uma oportunidade de analises em profundidade qual foi a verdadeira visão dos pais do sionismo, acerca dos árabes presentes no Estado de Israel.

Há alguns dias, os líderes do Partido Religioso Nacional – PRN (Mafdal) e a Ministra de Educação [israelense] Limor Livnat tentaram promulgar uma lei, proposta inicialmente pelo deputado Rabino Druckman, que propunha legalizar, por supostas razões de segurança, a criação de povoados “somente para judeus”. Felizmente, a proposta de lei foi “enterrada” na Comissão Neeman para legislação de Leis Fundamentais. É curioso que essa proposta de lei, de tinturas claramente racistas com relação à população árabe, havia sido qualificada pelo líder do PRN Efi Eitam, como uma proposta  tipicamente “sionista”.

Curiosamente, essa visão excêntrica do sionismo não é patrimônio exclusivo dos que propuseram esta drástica lei. Do outro lado da cortina, após tomar conhecimento do projeto de lei, se apressaram os escritórios de representação da Autoridade Palestina de todo o mundo  a convocar a imprensa para explicar que esta seria uma nova prova de que o sionismo é e será racista, como segundo os mesmo, sempre foi desde seus princípios.

Desta forma, coincidindo a estrema direita judaica com o “mainstream” palestino em uma versão similar e alarmante do que o sionismo supostamente é e foi, me parece muito oportuno fazer uma parada, e tentar olhar de forma um pouco mais profunda qual foi a verdadeira posição dos primeiros sionistas frente à existência de árabes em Israel, e às relações que os primeiros se propunham a ter com os últimos.

Edward Said

Edward Said

” A Palestina era – aos olhos dos … primeiros sionistas, um deserto que esperava ser florescido; os habitantes [árabes] do país, se é que existiam, eram supostamente nômades sem importância alguma, que não tinham nenhum direito real sobre a terra, e daí não tem realidade cultural ou nacional” 1 Com estas palavras, o intelectual palestino-americano Edward Said nos proporciona um suposto relato da posição dos “primeiros sionistas”. De fato, o objetivo de Said é basear  – desta vez de uma forma “acadêmica”- o famoso e suposto mito sionista de “uma terra sem povo para um povo sem terra”, que tantos palestinos adjudicaram aos principais pensadores e pioneiros sionistas. Segundo esta suposta máxima, o sionismo não só se apropriou de uma terra que não era sua, mas também negou historicamente aos árabes seus direitos mais básicos: o reconhecimento cultural e nacional.

Através desta concepção, atua Said [no artigo referido], de fato, como um agente da propaganda palestina, cuja primeira intenção é desumanizar o sionismo e esvaziá-lo de sua dimensão moral, tendo como objetivo último desqualificá-lo frente ao mundo, e portanto também o Estado de Israel.

O Sábio do Sionismo

Mas, acaso essa descrição de Said (curiosamente apoiada pela direita fanática israelense) é historicamente verídica? Era essa a verdadeira posição de todos aqueles “primeiros sionistas”? Obviamente, seria muito problemático seguir historicamente o caminho de Said e ter a pretensão de dizer “o sionismo é…”,  por se tratar de um movimento multifacetado. Porisso, me permitam observar a posição de um daqueles “primeiros sionistas” – a quem o historiador David Vital descreve como “o sábio” do sionismo2 – frente aos árabes, um que sem dúvida é aceito por todo pesquisador da história do movimento Sionista, como um de seus primeiros e mais importantes ideólogos: Asher Tzvi Ginzberg, conhecido pelo seu pseudônimo Achad Ha’Am.

Achad Ha'amAchad Ha’Am, “um do povo”, viveu entre os anos 1856 e 1927. Filósofo, ensaísta, jornalista e líder político, iniciou seu caminho sionista em 1886, no movimento  Chovevei Tzion na cidade de Odessa, tendo falecido na Tel-Aviv Mandato Britânico na Palestina. Achad Ha’Am viajou cinco vezes à Terra de Israel, para onde finalmente imigrou no ano de 1922.

Para muitos, ele foi o  “líder espiritual” do movimento Sionista, e eram muitos os que buscavam seus conselhos em temas políticos urgentes. Um de seus mais exemplares discípulos foi o primeiro presidente do Estado de Israel, o Dr. Chaim Weizman.

Entretanto, antes de nos referirmos a Achad Ha’Am, me parece necessário observar qual era o verdadeiro mapa ideológico dos sionistas, quanto à questão das relações com os árabes. Este será o principal objetivo deste primeiro capítulo. 3

Dentro do próprio Sionismo, houve quem acreditava, no início do Século XX, que o movimento não se havia referido o suficiente em sua política oficial à questão árabe. Assim, por exemplo, em 1907 escrevia Itzchak Epstein um artigo sob o título “A pergunta ignorada”, já que “entre as perguntas mais duras relacionadas com a idéias do renascimento de nosso povo em sua terra, existe uma questão, mais importante que todas as outras: a questão de nossa relação com os árabes. Esta pergunta, de cuja correta resposta depende a renovação de nossas esperanças nacionais, não foi esquecida, mas foi totalmente ignorada pelos sionistas e em sua forma atual apenas existe na literatura do nosso movimento.”4 Tinha razão Epstein em sua veemente afirmação ?

A Direção do movimento Sionista estava encarregada da política geral do movimento, cujo objetivo primeiro era, já naqueles dias do princípio de século, o reconhecimento dos direitos nacionais judeus na Terra de Israel, assim como procurar conseguir um status político autônomo para os judeus ali. Dada a organização  governamental do Império Otomano, a liderança sionista não necessitou, até depois da revolução dos “Jovens Turcos” em 1908, negociar com os árabes da Palestina de forma direta, já que todos os contatos políticos se levavam a cabo em Istambul, frente à liderança turca5.


As 4 Posições

Não se deve confundir a política oficial do movimento na Capital turca, ou mais tarde em Londres, com as posições do Ishuv, os judeus que habitavam a Terra de Israel. Já desde os anos ’80 do século XIX, líderes judeus do Ishuv mantinham relações diárias com os árabes da região e eram muito conscientes da importância delas.

O movimento sionista, sendo uma organização absolutamente democrática, continha em seu seio uma ampla gama de idéias e posições frente à questão árabe. Aqui me limitarei a dar uma muito breve explicação sobre cada uma das suas quatro principais correntes (as quais se diferenciam principalmente pela importância que dão aos árabes no êxito do empreendimento sionista), segundo as define o professor Yosef Gorny: a tendência integracionista-altruísta, a isolacionista, a socialista e a liberal-realista.

A tendência integracionista-altruísta reconhecia a existência de uma nação árabe no Império Otomano em geral, e na Palestina em particular; seus seguidores avaliavam altamente (e até romanticamente) as qualidades do povo e a cultura árabe-muçulmana. Esta tendência propunha que o movimento Sionista estendesse ao máximo a ajuda ao movimento Nacional Árabe que começava a nascer naqueles dias, como necessidade moral e política. Os seguidores desta variante, condicionavam em geral a realização do ideal sionista à sua aceitação pelos árabes. Itzchak Epstein, sem dúvida um dos primeiros e mais importantes expoentes desta tendência, pedia recordar aos sionistas que “nos equivocamos ao não compreender a psicologia de um grande povo, vigoroso e fanático. Ao tempo que nós sentimos com toda intensidade nosso amor à pátria de nossos antepassados, nos esquecemos que também o povo que agora reside nela tem um coração sensível e uma alma amante”.6  Juntamente com o dito, a posição desse sionistas era maximalista, e assim pediam incluir os árabes no projeto sionista, considerando a possível posterior assimilação cultural dos mesmos no judaísmo.

A concepção isolacionista contradizia no todo a integracionista. Frente a uma posição de respeito aos árabes, os partidários desta tendência preferiam se referir à cultura árabe com desdém; em lugar de propor igualdade de direitos, esta concepção professava o direito exclusivo do povo judeu à Terra de Israel; frente à cooperação cultural, demandavam a separação; à esperança de paz, opunham a inevitabilidade da guerra7. Um exemplo desta visão nos oferece Ish Ivri (pseudônimo de Israel Klausner), o qual escrevia que ” a nós, os judeus, que,  há mais de dois mil anos, vivemos entre povos cultos, é impossível e indesejável que desçamos outra vez ao nível de cultura dos povos semi-selvagens. Além disso, toda esperança reside em que algum dia seremos donos do país, e essa esperança não se baseia nem na espada, nem nos punhos, mas na vantagem cultural que temos sobre os árabes e os turcos, vantagem que nos irá outorgando paulatinamente uma maior influência”.8  Quanto maiores eram as tensões entre os judeus e os árabes, mais numerosos eram os seguidores desta concepção.

Outro seguidor desta tendência, ainda que mais sofisticado que Ish Ivri, foi Zeev Jabotinsky. Ele acreditava que justamente frente à emergência de um movimento nacional árabe, o governo turco preferiria apoiar o nacionalismo judeu. De uma forma que hoje surpreenderia a muito seguidores do Beitar [NT: movimento sionista de direita que teve nele seu principal ideólogo], explicava Jabotinsky que “nós necessitaremos operar com tato e cautela, de modo que ao nos valermos dessas simpatias para o desenvolvimento de nossos povoados e o aumento de nossa influência, levemos em consideração, ao trabalhar, os justos sentimentos dos árabes“.9

Uma visão diferente e denominada na tipologia de Gorny, a concepção socialista-construtiva. Entre os pensadores e líderes socialistas na Terra de Israel não havia acordo a partir de um princípio sobre a natureza política dos árabes, quer dizer, sobre a pergunta se os árabes são ou não uma nação. Ao tempo que um dos mais influentes filósofos socialistas, Ber Bórochov, acreditava em 1906 que “os nativos da Terra de Israel não são uma única nação, nem o serão durante muito tempo…”,10  quatro anos mais tarde David Ben Gurion publicava um artigo, no qual advertia sobre a congruência do conflito de classes com o conflito nacional, já que “como todo operário, também o operário árabe odeia quem o explora, mais ainda quando além do enfrentamento classista existe aqui una diferença nacional entre operários e camponeses proprietários, recebe o ódio uma coloração nacional, o elemento nacional termina por se impor ao fator de classe, e um ódio virulento contra os judeus se instala nas massas trabalhadoras árabes.”11


Solidariedade de Classe Não Aplicável

Ao  reconhecimento da precedência do fator nacional ao de classe chegaram, eventualmente, a maioria dos membros do Partido Trabalhadores do Sion (Poalei Tzión), o qual obviamente acabaria por definir a relação dos socialistas sionistas com os árabes em Israel. Assim, os seguidores da concepção socialista chegaram à conclusão que o termo “solidariedade de classe”, em sua acepção comum, não era aplicável à realidade específica da Palestina. Ademais, dado o fato que os ativistas socialistas se viam a si mesmos na vanguarda da construção da sociedade judia em Israel, acreditavam que sua liderança se media segundo sua capacidade realizadora e sua disposição a se sacrificar: porisso, queriam ser a ponta de lança da luta contra a oposição árabe à empresa sionista.12 

Durante a Primeira Guerra Mundial, finalmente, aceitaram os líderes do Poalei Tzión (essencialmente Itzchak Ben Tzví e Ben Gurión) o direito nacional dos árabes, e declararam que o assentamento judeu ba Terra de Israel continua sendo justificado, já que a criação de uma maioria judia não comprometeria o reconhecimentos dos direitos nacionais dos árabes da Palestina.13

Outra versão do pensamento socialista expunham o Partido Jovem Trabalhador (HaPoel HaTzair) e seu líder, Iosef Sprintzak, o qual chegou 1914 a similar conclusão: que na Palestina coabitam duas nações diferentes, e que isto demandava uma política adulta e responsável, com o objetivo de conseguir uma coexistência entre os dois povos no futuro, através da delimitação de uma fronteira entre eles. 

O último grupo da tipologia, é o que Gorny denomina a concepção liberal-realista, que,  junto à socialista, se situava entre os dois extremos (a assimilacionista e a isolacionista). Esta tendência, de um caráter moderado mas prático, pretendia deter o desenvolvimento de um conflito nacional árabe-judaico, uma vez que se continuava ampliando a comunidade judaica na Terra de Israel. Os seguidores desta concepção, paralelamente à prédica em favor de um tratamento justo e correto para os árabes, suspeitavam das intenções do nacionalismo árabe que nascia naqueles dias do fim do Século XIX e princípios do XX. Eles acreditavam na necessidade de cooperação dos sionistas com as elites árabes, mas no marco do Império Otomano e não contra seus interesses. 

Os sionistas próximos a esta concepção criam que o melhoramento das condições da Palestina conduziria à sua suavização do ódio contra os judeus por parte dos árabes, ainda que conscientes  de que uma anulação do conflito seria impossível. Aparentemente, a maioria dos “liberais-pragmáticos” reconhecia a existência e legitimidade de um movimento nacional árabe na Palestina. É possível pensar que não estavam dispostos a aceitar a igualdade de direitos sobre a Terra de Israel-Palestina para árabes e judeus. Enquanto que a “Terra de Israel” é a pátria do povo judeu, segundo eles, para os árabes só se tratava de sua terra de residência.14

No círculo de seguidores desta visão, podemos encontrar dirigentes do movimento Sionista  (na Terra de Israel-Palestina) como Arthur Ruppin e Yaakov Tahon, representantes do movimento em Istambul como Avigdor Yacobsohn e Richard Lichtheim, um grupo de literatos sefaradím em Israel, agrupados ao redor do jornal liberal Cherut, assim como Asher Tzvi Ginzberg e Achad Ha’Am.15


Moderar o Ódio dos Árabes

Achad Ha'amAchad Ha’Am foi o primeiro pensador sionista que advertiu, a partir das páginas de seu artigo “A verdade da Terra de Israel”, aos primeiros pioneiros para não menosprezar os árabes.16  Assim, como veremos a seguir, em sua primeira viagem a Eretz Israel no ano de 1891, reportou de forma explícita e controversa sobre o tratamento incorreto dos jovens do Chovevei Tzión aos árabes e advertiu sobre um possível conflito judeu-árabe como conseqüência de um desbalanceamento das forças nacionais na Palestina. Achad Ha’Am  acreditava que através de um tratamento fundamentalmente diferente, seria possível moderar o ódio dos árabes.

Uma posição semelhante à de Achad Ha’Am mantinha “Chermoní” (Aharón Ginzburg, 1882-1960), o qual já a princípios do século XX soube apreciar o nascimento do nacionalismo árabe e as diferentes tendências em seu seio, assim como os perigos e desafios que este nacionalismo criaria para o movimento Sionista. Em seu artigo (que foi publicado no prestigioso periódico sionista HaShiloach en 1905), Chermoni recomendava atuar de duas maneiras diferentes. Por um lado, o movimento Sionista devia ser consciente do desenvolvimento deste novo fenômeno político, e ao mesmo tempo reforçar o desenvolvimento de novos povoamentos judeus.

Em suas palavras “a redenção da terra, a expansão do Ishuv, a concentração de judeus na Terra de Israel pouco a pouco, através de todos os caminhos verdadeiramente possíveis”; mas ao mesmo tempo “não devemos provocar inveja e ódio nos corações dos residentes no local”. Pelo contrario, se deve demandar um tratamento justo e correto para os árabes “e é imprescindível que se apague toda recordação de tirania e senhoria nas relações, conforme se tem desenvolvido nas colônias do Barão. Os árabes, os residentes do país, hão de sentir que lhes seremos bons vizinhos, nem amos tiranos nem escravos, mas vizinhos próximos, que não buscam seu mal, vizinhos que se respeitam a si mesmos e que sabem respeitar aos outros.”17

Apesar da intensificação das ações violentas por parte de árabes contra judeus, não abandonaram os seguidores desta tendência moderada sua concepção. Apesar das dúvidas sobre a disponibilidade dos árabes para moderar suas ações, continuaram estes pensadores e ativistas convencidos da necessidade de chegar a um acordo com eles. Como expôs no Congresso Sionista de 1913,  Ruppin, diretor do escritório em Eretz Israel do Movimento, “é nosso deve, que ninguém duvide, converter nossa convivência com os árabes em uma de paz, e se possível, uma de amizade. “18 

A Primeira Guerra Mundial mudou a face das coisas no movimento Sionista. Em Londres se criou, pouco antes do principio da Grande Guerra, um grupo de jovens sob a liderança do Dr. Chaim Weizman, cujo objetivo era trabalhar frente aos funcionários britânicos. Este grupo se converteria, graças às mudanças geopolíticas que a guerra trouxe, no principal centro de ação do movimento. Este grupo –diferentemente do de Istambul- foi recebido em um ambiente pouco amistoso pela liderança britânica, que o convidava a uma cautelosa cooperação.

 Baseados na convicção que entre os sionistas e os britânicos existiriam interesses comuns (e dada a suposição que para conseguir êxitos políticos apenas os britânicos, e não os árabes, poderiam ajudar), o grupo de Londres abandonou o tema das relações com os árabes como tema de preocupação principal. Para Weizman, as mudanças totais que Grande Guerra trouxe ao mundo (e fundamentalmente o novo Mandato Britânico da Palestina), exigiam levar a cabo manobras políticas conjuntas do movimento Sionista com o governo britânico, sobretudo, dado que até esse momento (desde 1897) não se havia adquirido nenhum reconhecimento internacional – e muito menos o de uma grande potência- às aspirações nacionais dos judeus. Neste contexto, a questão das relações com os árabes em Eretz Israel foi postergada como tema de importância capital na política da direção sionista.19 

 Apesar do exposto, a um nível ideológico-prático, a linha que apoiava Weizman no relativo à questão árabe era, de fato, una expressão da influência de Achad Ha’Am. Assim, por exemplo, no típico tema de Achad Ha’Am sobre a necessidade de “prudência política”, Weizman explicava que “se necessita uma tática evolutiva. Por exemplo, não se deve perguntar [ao governo britânico] se entraremos em Eretz Israel como governantes ou com igualdade de direitos com os árabes. Tudo depende da quantidade de judeus que habitam –ou venham a habitar num futuro- em Eretz Israel…”.20


Notas

 E. Said, Orientalismo, Tel Aviv, 2000, p. 251. (tradução em hebraico) / [N.T:  pg. 290 da versão em português (Ed. Companhia das Letras, 2001)] 

D. Vital, “Ahad Ha’-Am as the Sage of Zionism”, Jewish History, Vol. 4, No. 2, Haifa, Fall 1990, pp. 25- 32

Esta primeira parte está baseada, em parte, no artigo de Yosef Gorny, “As raízes da consciência do conflito nacional judeu-árabe e seu na imprensa hebraica nos anos 1900-1910”, O Sionismo- Antología para a história do Movimento Sionista e o Ishuv judeu em Eretz Israel, Tel Aviv, 5736, (trad. do hebraico)

Gorny, p. 108

A. Elsberg, “A questão árabe na política da direção sionista antes da Primeira Guerra Mundial”, Shibat Tzión , 5715- 5716, p. 161

Gorny, p. 77, 82

Ibid., p. 82

Ish Ivri, “Temor”, HaShiloach, 17, (5667- 5668). Citado en Gorny, p. 83

Z. Jabotinsky, “A nova situação na Turquía”, HaOlam,3, Fevereiro 1909. Citado en Gorny, p. 86

Gorny, p. 99

Ibid., p. 101

Ibid., ibid.

Ibid., p. 105- 107

Ibid., p. 98

Ibid., p. 90

Achad Ha´am, Todos os escritos de Achad Ha´am, “A verdade de Eretz Israel“, 1947, p. 29

Chermoni, “O movimento árabe e suas tendências”, HaShiloach, 15, 1905, p. 390

Citado em Gorny, p. 93

Y. Gorny, A Questão árabe e o problema judeu, Tel Aviv, 1985, p. 126- 127

Citado en Gorny, questão árabe, p. 128


[ por Ron Facundo Lerer em 05|08|02 – publicado pela Organização Sionista Mundial e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]

Comentários estão fechados.