A reocupação: Não dá para voltar atrás o relógio

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Uma Visão Israelense

A reocupação israelense da Cisjordânia e Gaza é uma reocupação “sofisticada”, onde Israel renovou seu controle militar, mas exibe um controle civil. Como consequencia, a sofrimento diário e as privações infligidas sobre a população palestina pela reocupação são extremados. Israel está ostensivamente mantendo uma divisão funcional: permitindo o funcionamento de ministérios e prefeituras palestinas, para gerir os sistemas de educação e saúde, provimento de segurança, pondo pessoas para trabalhar e administrar programas de bem-estar. Mas simultaneamente impõe restrições militares que impedem o movimento de pessoas e bens e, em geral, tornam uma divisão funcional impossível.

Se a reocupação com divisões funcionais não funciona devido a razões de segurança, então talvez a coisa humanitária a se fazer é renovar o governo militar israelense (que nos anos que levaram a seu cancelamento sob Oslo, Israel eufemísticamente chamava de “administração civil”). Porque Israel seria responsável por todos serviços, escolas seriam abertas e alguns bloqueios de estradas seriam removidos; A liberdade de movimento dos palestinos poderia em certo grau ser restaurada e a economia palestina seria beneficiada. Assim raciocinam alguns palestinos e israelenses, que argumentam que atualmente não temos alternativa.

Alguns dos palestinos defensores dessa posição esperam sinceramente que um novo governo militar seja uma medida temporária, seguida de um retorno a um processo negociado de paz. Mas um número crescente hoje descrê totalmente de uma solução de dois estados. Eles simplesmente preferem investir seu tempo sob a lei israelense, enquanto os assentamentos israelenses se espalham pela Cisjordânia e a população total palestina vai superando em número os israelenses, para então iniciar uma campanha contra um “apartheid” israelense, e simplesmente exigir “uma pessoa, um voto.”.

Alguns dos israelenses defensores de um novo governo militar, apoiados por neo-conservadores no Pentágono, dizem que Israel deveria saudar a oportunidade para um “MacArthur” israelense cultivar uma genuína cultura política democrática palestina, sob a tutela israelense, bem do jeito que os Estados Unidos fizeram no Japão e na Alemanha ocupados após a 2ª G.M., e brevemente poderão fazer no Iraque.

Yossi AlpherAo contemplar a idéia de um novo governo militar, existem alguns temas logísiticos a serem notados. Primeiro, nem todas as cidades da Cisjordânia estão sob ocupação: iria um governo militar israelense excluir Jericó e Belém, assim como as cidades da  Faixa de Gaza – no presente administradas, pelo menos até certo ponto, pela Autoridade Palestina?  Então, também, a restauração do governo militar poderia custar mais que $200 milhões por mês, dinheiro que Israel, hoje na sua maior recessão em 54 anos, não tem.

Ao nível político, a restauração do governo militar prejudicaria seriamente a já desgastada imagem de Israel na cena internacional. A ONU, a União Européia, os países árabes moderados, todos eles tem exercitado contenção nas críticas às medidas israelense contra o terrorismo, até agora. Mas veriam esta nova mudança, justificadamente ou não, como uma total partida de uma guerra anti-terrorismo para um retorno a uma nua conquista militar, e um deliberado desmantelamento do processo de “reforma” que elas instituíram e encorajaram. A administração dos E.U., que sabe bem que a maioria das reformas ainda são incipentes, mesmo assim acompanhariam as críticas de seus parceiros de “Quarteto”, em resposta aos protestos árabes.

Talvez mais próximos, no nível bilateral israelense-palestino, os novos/velhos governantes militares israelenses poderiam rapidamente aprender que não se pode voltar atrás o relógio. O que funcionou de modo relativamente suave por uns 20 anos, desde a conquista da Cisjordânia em 1967 até a erupção da primeira Intifada em 1987, não irá mais funcionar agora.

Duas Intifadas depois, o direito palestino à auto-determinação se tornou um elemento integral no pensamento da comunidade internacional, do mundo árabe e, decerto, da maioria dos israelenses.

Assim, os palestinos continuariam a se opor a um domínio israelense, com crescente apoio internacional. E se os mais sérios observadores são céticos sobre a capacidade americana de transformar o Iraque em uma democracia ocidental, mas ainda moderam suas críticas em deferência ao status de megapotência dos E.U., eles não hesitarão em trazer à tona o peso inteiro da comunidade internacional contra uma tentativa israelense ultrajantemente similar, se realmente for realizada sob a cobertura de um governo militar, para “cultivar uma democracia palestina amigável”, num  Estado truncado, cujas fronteiras seriam traçadas por Sharon e os colonos.

Se a presente situação de reocupação é insustentável, um novo processo de paz é impossível, e Israel tem que escolher entre expandir a ocupação para um governo militar ou alguma outra coisa, então devemos optar por alguma outra coisa: a retirada unilateral, acompanhada pelo desmantelamento de colônias e a construção (que já começou) de cercas de segurança nas (ou perto das) fronteiras de 1967 com a Cisjordânia.

Esta seria uma estratégia muito mais saudável para a renovação do processo de paz, e evitaria a armadilhar do “uma pessoa, um voto”.

 

Yossi Alpher é antigo diretor do Centro Jaffee para Estudos Estratégicos da Universidade de Tel-Aviv. Publicado em 14/10/2002©bitterlemons.org

A Bitterlemons.org é uma newsletter em inglês que apresenta pontos de vista Palestinos e Israelenses sobre importantes temas do conflito. Cada edição aborda um tema específico de controvérsia. A Bitterlemons.org mantem uma completa simetria organizacional e institucional entre seus lados palestino e israelense. www.bitterlemons.org.

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