A reocupação: uma continuação natural dos fatos

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Uma Visão Palestinia

A reocupação israelense da maior parte dos territórios palestinos, antes sob controle da Autoridade Palestina conforme os acordos de Oslo, tem criado algumas questões significativas sobre o que virá a seguir.

Antes do estabelecimento da Autoridade Palestina, e antes do processo de paz, Israel controlava na prática e pela força quase todos aspectos da vida palestina. Isso incluía controle sobre terras, fronteiras, legislação, administração e serviços tais como educação, saúde, etc.. Num certo ponto, Israel até indicou autoridades israelenses para atuar na posição de prefeitos palestinos. Quando os acordos de Oslo foram assinados entre Israel e a OLP, as áreas de controle israelense foram reduzidas. Os acordos de paz iniciaram um processo de compromisso territorial, pelo qual a Autoridade Palestina controlava “Áreas A”, enquanto outras partes dos territórios continuavam sob controle israelense. Negociações posteriores deveriam continuar essa transferência de territórios da jurisdição israelense para a palestina.

O governo israelense conduzido pelo Likud, chefiado pelo ideólogo Ariel Sharon tem idéias muito diferentes sobre o futuro dos territórios palestinos, por outro lado. Desde o início da ocupação israelense em 1967, foi promovida o que se tornou conhecida como uma “divisão funcional”. Baseado numa ideologia onde o povo judeu tem direitos históricos sobre toda a Palestina, incluindo a Cisjordânia e a Faixa de Gaza (qie a lei internacional e os palestinos consideram áreas sob ocupação beligerante), o [Partido] Likud se opõe a qualquer compromisso territorial. Agora que está no poder, o Likud recuperou o controle militar direto sobre todos os territórios, deixando para a Autoridade Palestina a função impossível da administração diária. O objetivo principal do governo Sharon a esse respeito é ou forçar os palestinos a renegociar outros acordos, que sejam baseados em compromissos funcionais, em vez de compromissos territoriais – ou, simplesmente, impor essa divisão pela força, o que hoje estamos vivendo.

Dessa forma, a liderança palestina foi deixada com um de duas difíceis escolhas: se adaptar a esta situação forçada por Israel, e tentar cuidar das necessidades do dia-a-dia palestino enquanto sacrifica seu papel político e de segurança (que é incapaz de manter pelo desequilíbrio de poder), ou recusar todos esses arranjos. Isto deixaria Israel com a opção de ou assumir ambas as responsabilidades administrativas e de segurança, ou deixar ambas para trás, ou seja, deixar a situação retornar àquela anterior a 29|09|2000, que resultou das implementação dos acordos de Oslo.

É muito esperado que o empenho do povo palestino e de suas lideranças em rejeitar e resistir à ocupação de Israel não deixará oportunidade para a Autoridade Palestina manter seu papel administrativo, aceitando a divisão funcional imposta por Israel. Isto requereria ou uma acomodação com a ocupação, ou fazer a paz com ela. Nenhuma dessas opções combinaria com as inclinações da liderança ou do povo palestino.

De fato, realizar serviços sob a ocupação é uma receita para o fracasso. Certamente a continuação dessas tentativas perderá o respeito e o apoio popular, e, ao cabo significaria um suicídio político. Esta é a razão de a liderança palestina parecer agora estar dando, para a diplomacia árabe e internacional, uma chance para trazer um fim para esta loucura e esse extremismo, antes de se colocar decididamente no campo da resistência e rejeição da ocupação,  e não no campo daqueles prontos para se conformar com uma lei militar.

(**) Ghassan Khatib, co-editor da bitterlemons é ministro do trabalho no novo gabinete da Autoridade Palestina. Serviu por muitos anos como analista político e contato de mídia. Publicado em 14/10/02©bitterlemons.org

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