Colonos prontos para renunciar às suas casas

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Uma saída para compras significa uma viagem de 50 km, sendo parte dela num comboio militar. Cada passeio corre o risco de uma emboscada por militantes palestinos.

Dois residentes da colônia de Ganim foram mortos em emboscadas, e vários foram feridos. Vinte famílias já deixaram a comunidade, que é próxima à cidade palestina de Jenin, e na semana passada, as 35 remanescentes enviaram uma carta a Ariel Sharon, o primeiro-ministro israelense, solicitando negociações sobre evacuação.

A carta dizia: “Pedimos-lhe e aos encarregados do governo o início de uma negociação conosco para evacuar decididamente a colônia”.  Os moradores escreveram que desejavam essas negociações por causa da “difícil situação de segurança de nosso assentamento e do progresso no processo de paz em nossa região”.

Ganim

Ganim

Foi um raro exemplo de moderação entre os 225.000 colonos judeus na Cisjordânia e Gaza, que se tornaram um sinônimo de extremismo, e que são vistos como um grande obstáculo para o tipo de paz aparentemente esboçado por George W. Bush, Sharon e Mahmoud Abbas, mais conhecido como Abu Mazen, o primeiro-ministro palestino, em Aqaba na semana passada.

Um exemplo mais comum foi visto entre os milhares de colonos que se agruparam em Jerusalém na última quarta-feira, manifestando sua radical oposição a qualquer aspecto do ‘road map’.  Suas faixas diziam: “O Road Map de Deus: a Bíblia nos deu a terra“, e “Road Map = Prêmio ao Terror“.

Mas Ari Achdari, pai de três filhos, rejeita tal atitude. “Nós não somos como eles”, diz ele: “Quase todas as famílias em Ganim vivem aqui porque é um lugar agradável, não por razões ideológicas. Eu acredito no road map. Deixe que cada um viva na sua própria terra, mesmo que isso signifique que nós tenhamos que renunciar às nossas casas. Se eles decidiram que Ganim é pequena, isolada e deve ser evacuada, que o seja.”

Seu vizinho, Avner Sinuani, membro do comitê central do partido Likud de Sharon, assinou a carta representando a comunidade: “O Estado está nos mantendo como reféns”, disse ele. “Se o Estado sabe que irá nos evacuar, porque nos mantém aqui? O Estado nos mandou para cá há 20 anos e agora parece que consideram que fizemos nossa parte e podemos partir.”

“‘Eu também vejo a ideologia mudando com o tempo. Eles diziam “nem um centímetro”, e falavam sobre “ambas as margens do Jordão”. Hoje estão falando sobre um Estado palestino. Então eu pergunto por que vocês me seguram aqui? … Assentamentos vão ser cortados como nada. Não quero que gente de Elon Moreh [considerado uma colônia de extremistas] me diga o que fazer. Deve ser declarado que existem assentamentos que desejam ser evacuados de uma maneira própria e ordenada.”

Sinuani ainda não sente dessa maneira. Ele mudou para Ganim em 1983 por razões ideológicas, como a crença de que para assegurar que a Cisjordânia remanesça como parte de Israel ela deve ser colonizada. Ele está agora mais preocupado que seus filhos se recusem a visitá-lo por causa do perigo.

Assentamentos na Cisjordânia do plano de desligamento

Assentamentos na Cisjordânia do plano de desligamento

Sinuani e Achdari pertencem à comunidade judaica iemenita, falam bem árabe e mantém contato telefônico com amigos na vizinha Jenin. Achdari conta: “Quando a intifada começou eu estava tomando café com amigos árabes em Jenin, assistindo TV. Agora é muito perigoso para nós ir lá. Arriscamos levar uma bala na cabeça e eles não podem vir aqui porque alguém pode dizer que são informantes israelenses.”

Sua esposa Dinah diz que, apesar dos problemas nos últimos três anos, eles têm permanecido em contato com Jenin. ‘Nós tratamos as pessoas como pessoas. Tenho um amigo, um homem de 80 anos que ainda nos liga, mesmo depois que sua neta foi morta por soldados israelenses quando ia à escola.”

Uma parte de suas motivações é o medo de que em algum momentos sejam forçados a se mudar, sem que lhes seja oferecida qualquer compensação ou moradia alternativa. Dinah comenta: “As pessoas em Israel acham que vivemos de graça por aqui, mas pusemos tudo que tínhamos em nossas casas. Não queremos nos tornar milionários, mas queremos algum tipo de compensação. Eu sairei, mas partirei com grande tristeza.”

Os moradores de Ganim ainda tem que receber uma resposta de Sharon. Sinuani diz: “Eu espero que ele responda logo. Estamos sentados sobre nossa bagagem, mas queremos saber o que nos espera no futuro.”

Ganim - 02|05|2005 - colonos evacuam voluntariamente, como parte do plano de desligamento

Ganim - 02|05|2005 - colonos evacuam voluntariamente, como parte do plano de desligamento

[ publicado no “The Observer”  – traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]

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