Tratamento do Líbano aos Palestinos é auto-destrutivo

560b

O governo libanês está mais uma vez se confrontando com a questão de como tratar os refugiados palestinos no seu solo – e como tem sido o caso por mais de duas gerações até agora, Beirute continua ignorando o principal. A obsessão é a de evitar qualquer coisa que lembre um “reassentamento” de palestinos no Líbano. A prioridade deveria ser assegurar que, tão longamente ela dure, a presença palestina jamais será permitida como erosiva como foi nos anos que levaram à guerra civil libanesa. A diferença entre o que é e o que deveria ser tem feito de um país já fraco ainda mais vulnerável.
Como em várias outras capitais árabes, muito da política de Beirute nesta questão é traçada sobre decisões da Liga Árabe, ao final da guerra de 1948 que produziu a primeira onda de refugiados palestinos. Mas as medidas concebidas para manter os despossuídos desenraizados dos países vizinhos, evitando assim que abandonassem a esperança de retornar à sua terra natal, tinham uma intenção temporária. Supunha-se que seriam necessárias por 2 ou 3 anos, talvez 5 ou até 10, mas não 55... 
 
Hoje, quando as restrições entram no seu segundo cinquentenário, estão exacerbando o que sempre foi uma situação difícil.
 
As limitações em questão vão muito além de uma negligência benigna, e, ao contrário, se constituem num programa agressivo que, tanto impede palestinos de terem vidas normais no Líbano, como levanta obstáculos para que eles partam para praias mais hospitaleiras. O básico da condição humana é negado à vasta maioria dos refugiados, assim como qualquer base para esperança de que seus filhos possam conhecer um futuro melhor.
 
O resultado é uma cadeia de campos (de refugiados palestinos) que só suscitam problemas. Sendo tratados como vermes está endurecendo os corações de seus habitantes, e quem pode culpá-los? Cada vez mais, eles vêem os libaneses com raiva, enxergando-os como mais um atormentador tentando tirar vantagem de seus infortúnios. Tais desilusões e ressentimentos disseminados são os tijolos de construção do radicalismo, que explica porque os recrutadores de grupos extremistas tem tido tanto sucesso nos campos.
 
Não há questionamento da incapacidade de Beirute se tornar o lar permanente que qualquer número significativo de palestinos: Demografia, economia, geografia e história simplesmente não permitem ao Líbano a capacidade de absorver uma nova comunidade sem reviver o pior tipo de tensões. Isto não é desculpa, entretanto, para o cego entusiasmo com que o oficialato libanês brande as abordagens fracassadas do passado.
 
O Líbano não pode ser o novo lar dos palestinos, mas tampouco deve ser sua prisão. A devoção (ou antipatia) à causa palestina é irrelevante para este tema. Tudo que deve importar é a estabilidade do estado libanês e o bem-estar de seus cidadãos.
 
Aqui é onde o trato por Beirute da presença palestina tem sido o mais contra-producente: Ao criar e alienar uma sub-classe de estrangeiros, ameaça nossa própria preservação."
 
Editorial do The Daily Star – Beirute, 06|11|03 – traduzido pelo PAZ AGORA|BR ] 
http://dailystar.com.lb/opinion/06_11_03_a.asp


Comentários estão fechados.