Sionismo(s) no século XXI


Yesh T’Guvá (*) – O que existe num nome?

‘Vocês são a corporificação do sionismo’, disse a ministra da educação de Israel, Limor Livnat sobre os colonos durante um debate no Knesset sobre a retirada de Gaza.

Para muita gente pelo mundo, desde ativistas da esquerda em marchas em Londres contra a guerra até boa parte da população palestina, esses cidadãos israelenses em assentamentos fortificados, enquistados dentro do território palestino, são a imagem do sionismo. Para essas pessoas, a definição de sionismo é a de uma agressiva tomada de terras.

O sionismo tomou conotações tão pejorativas, que é difícil definir e separar entre aqueles que são realmente sionistas e os que não o são.

Os detratores do sionismo são incapazes – e muitas vezes indispostos – de distinguir entre bons e maus sionistas. Para muitos pelo mundo todo, o empreendimento sionista é uma conspiração judaico-americana que deve ser condenada por muitos dos problemas mundiais.

O comentário de Limor Livnat espelha esta visão mundial. Ao procurar legitimar (em termos israelenses) os colonos, chamando-os de verdadeiros sionistas, ela deslegitima todos nós que nos classificamos com este nome.

São os israelenses que fazem trabalhos sociais em áreas depauperadas no norte de Israel menos merecedores do título? Os incontáveis israelenses comuns, orgulhosos de sua nação não devem ser incluídos?

Falando de forma ampla, sionismo é a crença num lar nacional para o povo judeu, mas os ‘onde’ e ‘porquês disso são abertos a um grande espectro  de interpretações diferentes.

Se a palavra tem sido tão distorcida por alguns, devemos então substituir a palavra ‘sionista’ por outra? ‘Israelense’ é uma boa descrição do que somos? Não. Ela exclui os judeus da Diáspora que apóiam a continuada existência de um Estado judeu, chamado Israel. Também exclui os não-judeus que similarmente apóiam Israel, embora se isto significasse a ‘maioria moral dos EUA’, eu talvez preferisse ter inimigos do que amigos como esses.

O problema para mim é que fiquei preso entre a posição sionista agressiva dos colonos de um lado e a rejeição palestina a qualquer coisa sionista, do outro. Mas não sou aquele tipo de racista, nem cultor de uma ‘supremacia’. E isto é verdade para um grande número de sionistas em todo o mundo.

A CONSTRUÇÃO DE ASSENTAMENTOS ESTÁ DESTRUINDO ISRAEL

A CONSTRUÇÃO DE ASSENTAMENTOS

ESTÁ ARRUINANDO ISRAEL!

A maioria de nós rejeita a perversão do sionismo, adotada pelos colonos e legitimada por Livnat. Para muitos, também há um triste reconhecimento de que o Israel que amamos e apoiamos foi culpado por crimes de guerra, como o professor Benny Morris relatou em suas histórias. E é culpado pelo menos por ter tratado atualmente com uma mão tão pesada o problema palestino.

Há muitos sionistas que acreditam que nem todos os palestinos são terroristas suicidas. A maioria não pode ignorar, como os governos Sharon e Bush têm procurado fazer, o status mitológico de Arafat entre seu próprio povo. Por fim, quero acreditar que a maioria não ignora que os palestinos merecem uma História separada, construída de seus próprios sonhos e frustrações.

A despeito de respostas de meus próprios amigos palestinos ao termo ‘sionista’, e apesar do seqüestro da palavra por israelenses belicistas e racistas, nem eles, nem qualquer outra pessoa produziu ainda uma palavra que melhor descreva minha posição.

Mais ainda, não apenas é possível ser um sionista e acreditar em Dois Estados para Dois Povos, mas quero dizer que é essencial acreditar numa ideologia paralela de auto-determinação nacional para os palestinos para legitimar a dos israelenses.

Mas esta é apenas uma perspectiva sionista, que existe ao lado de muitas outras. Enquanto me queixo da definições constritivas de sionismo criadas por colonos e palestinos, acredito que sionistas moderados e pensantes devem batalhar para fazer o mesmo: resgatar o termo ‘sionismo’ como a filosofia humanista e progressista que tem sido por muitas pessoas.

Mais notável, é que foi assim para os jovens ideólogos que procuraram mudar a sociedade através do movimento socialista do kibutz, e a multitude de ativistas pela paz e coexistência, que ainda se orgulham de se denominar como os verdadeiros sionistas agora.

Isto também é crucial para os judeus na Diáspora que se consideram como sionistas, mas temem se expressar contra as ações do governo israelense por medo de serem vistos como traidores.

O sionismo nasceu na Diáspora, e sempre foi moldado por judeus de todo o mundo. Se você acha que o governo de Israel não está agindo de forma apropriada, diga. Porque se você diz que é um sionista, e o governo de Israel diz que é um governo sionista, mesmo agindo fora dos princípios sionistas, você tem o direito de se manifestar.

Se você acredita que Israel é a expressão do sionismo, e  que seu futuro está sendo ameaçado na medida em que persiste em sua ocupação de outro povo, diga.

E se você acredita que a única forma de assegurar o futuro de Israel é acabar com a ocupação e alcançar um acordo definitivo com os palestinos, através de negociações, diga.

O Acordo de Genebra, uma proposta completa para a paz, alcançado por políticos israelenses e palestinos no ano passado, que trabalharam apesar de seus governos, foi um testamento para aqueles que acreditam que uma solução entre os nacionalismos sionista e palestino demanda a reestruturação do relacionamento entre israelenses e palestinos.

Para isto levar à coexistência pacífica, Israel tem que definir suas fronteiras e os palestinos precisam de contigüidade territorial, livre de assentamentos judeus.

Embora ambos os lados tivessem feito concessões dolorosas em Genebra para chegar a um acordo, as conversas foram realizadas numa atmosfera de humildade, civilidade e humanidade. Estas três palavras caracterizam o sionismo no qual eu acredito, e a positividade dos negociadores israelenses, dispostos a trabalhar duro na reconciliação, torna-os uma corporificação do sionismo mais acurada e inspiradora do que a do movimento de colonos admirado por Limor Livnat.

 

(*) Yesh T’Guvá é um expressão em hebraico que significa o oposto de ‘Sem Comentários’.

 

Paul Usiskin é presidente do PEACE NOW/UK – Amigos do PAZ AGORA na Grã-Bretanha – http://www.peacenowuk.org/

 

[ publicado pelo PEACE NOW/UK em 07/11/2004 e traduzido por Moisés Storch para o PAZ AGORA|BR ]

Comentários estão fechados.