Annapolis: ou paz ou Hamas

A conferência de paz em Annapolis, que deverá reunir-se ao fim de novembro, não irá resolver o conflito israelense-palestino, nem culminará na assinatura de um acordo de paz entre os dois povos.

Mais ainda, a conferência não irá levar a qualquer mudança significativa imediata. Não trará a remoção de bloqueios de estradas, nenhum território irá ser entregue ao controle palestino, e nenhuma casa móvel será removida de qualquer assentamento judeu.

Ainda assim, a conferência de paz e o documento que está tomando forma sobre questões centrais estão transformando totalmente a atitude do governo israelense com relação à liderança palestina, e jogando fora a abordagem unilateral que se enraizou a partir do fracasso da conferência de Camp David em julho de 2000.

Por uma ironia do destino, são precisamente os grandes defensores da abordagem unilateral – Haim Ramon e Ehud Olmert – que agora estão no foco das negociações e nelas estão apostando suas carreiras e o futuro do país. Pode se imaginar que se o governo Sharon tivesse tido a sabedoria de adotar uma linha idêntica antes do desligamento, e se retirado de Gaza sob um acordo político com Abu Mazen (o presidente palestino Mahmoud Abbas), a situação política e de segurança seria hoje totalmente diferente.

Mas o diálogo por si só não é produtivo e pode trazer mais prejuízos do que benefícios. Os líderes das equipes de negociação têm que entender que uma cúpula anêmica, sem mensagens nem concessões dolorosas, irá servir aos extremistas, ao retratar tanto Olmert como Abu Mazen como irrelevantes e pouco sérios. Uma “vitória” diplomática israelense que delete do documento de princípios as questões centrais, poderá acabar se revelando como uma vitória de Pirro pois, ao causar a humilhação de Abu Mazen por Israel,  fortaleceria o Hamas.

Oportunidades para fotos em conjunto e declarações vazias sobre a visão de Dois Estados não bastam mais. Só negociações substantivas, que discutam as questões centrais – como refugiados, Jerusalém e as fronteiras – de maneira concreta, darão uma resposta enérgica à todas aquelas forças no Oriente Médio que têm interesse em perpetuar o derramamento de sangue entre israelenses e palestinos.

Apenas uma declaração de princípios substantiva, que toque nas feridas, será capaz de mover adiante um autêntico processo de paz, levando ao fim do conflito.

Deve-se esperar que o instinto de sobrevivência política do primeiro-ministro e seus ministros não se sobreponha à necessidade política de progresso e que, apesar das previsíveis ameaças à coalizão, Israel vá à conferência de Annapolis com planos reais para uma solução do conflito em sua bagagem.

Sem novas e significativas declarações sobre as questões mais críticas, seria melhor não realizar a cúpula e poupar ambos os lados de constrangimentos públicos.

 

Yariv Oppenheimer é secretário-geral do Movimento PAZ AGORA

[ publicado no Maariv 09|10|07 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]

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