12 anos na Praça Rabin


Na noite de sábado, como venho fazendo todo ano desde a noite fatal de 12 anos atrás, fui à Praça Rabin, no coração de Tel Aviv, em frente à prefeitura, para marcar o aniversário do assassinato do primeiro-ministro Yitzchak Rabin. Parece um ritual tribal, mas é um ato que sou compelido a fazer a cada ano, qualquer que seja o clima, meu estado de espírito ou minha saúde.

Luto por Rabin

Luto por Rabin

Eu estava ali na noite de 4 de novembro de 1995, há 12 anos. À época existia uma sensação de que estávamos retomando as ruas, de volta dos extremistas da direita. O ex-prefeito de Tel Aviv, Shlomo Lahat era o chefe do comitê organizador, e o filantropo judeu Jean Friedman teve um papel importante. Como membro da liderança nacional do Movimento PAZ AGORA, meu papel foi ajudar a trazer manifestantes.

Havia preocupação de que não viria bastante gente, e que talvez houvesse franco-atiradores hostis estacionados nos telhados em volta da praça. Mas as pessoas vieram. Mais de 100.000 para tomar de volta a noite das forças rejeccionistas da escuridão.

Recordo de ter ficado particularmente emocionado após a fala de Rabin. Ele não era um grande orador. Tendia freqüentemente a colocar a ênfase errada dentro de suas frases, talvez pelo fato de que nunca se ter acostumado totalmente às necessidades da vida pública. Mas desta vez, comentei com os que estavam à minha volta, ele falou bem, talvez ganhando força das massas que estavam com ele. Seu chamado à paz soava como se estivesse saindo das profundezas de seu ser. E, ao final, ele até pareceu sorrir enquanto cantava o Shir Lashalom (Canção à Paz) com a cantora loira Miri Aloni e outros políticos sobre o palco.

200.000 pessoas na Praça Rabin

Nos últimos anos, o ato de homenagem sempre começou com uma imagem de vídeo e gravações de trechos do discurso final de Rabin, seguidos pelos anúncios chilling por seu chefe de gabinete Eitan Haber de que “o governo de Israel anuncia, com estupefação, que o primeiro-ministro Yitzchak Rabin foi baleado e morto por um assassino judeu”.

Nesta vez, no 12º aniversário daquela noite trágica, 150.000 reuniram-se na praça, o maior número dos últimos anos. Talvez tivessem sido motivados a vir como contrapeso ao fato de o assassino, Yigal Amir, estivesse por comemorar na prisão o nascimento de seu filho. Talvez vieram para manifestar esperança quando nos aproximamos da Conferência de Annapolis, outra encruzilhada no desafio da paz entre israelenses e palestinos. Uma das faixas que flutuavam sobre a praça dizia: “Olmert, chegou a hora de decidir”. E talvez eles tivessem vindo para ganhar força um do outro.

O manifestante mais velhos, com mais de 91 anos, era provavelmente Fiska, o lendário empresário cultural, que tocou por muitos anos o clube Tzavta, centro de cultura e política progressistas, e costumava gravar cinco horas de performances para a TV israelense em seus primórdios no final dos anos ’60 e início dos ’70. Ele sempre esteve ali, em todos eventos de homenagem a Rabin.

Mas o elemento mais encorajador desta manifestação foi o fato de que a visível maioria da multidão era de jovens de vinte e poucos anos.

Quando o presidente Shimon Peres, que estiver ao lado de Rabin como seu ministro do exterior naquela noite 12 anos atrás, e Yuval, filho de Rabin, disseram para a audiência – vocês, a nova geração, têm a chave para o futuro. Talvez haja alguém no público que leve estas palavras a sério e considere sua presença naquela noite como uma experiência fundamental em suas vidas.

Havia veteranos que já estavam cansados de tantas manifestações e tão poucos resultados, e que decidiram não vir. E houve aqueles que não gostaram do fato de que o líder do partido Avodá e ministro da defesa, Ehud Barak, foi um dos oradores convidados. O partido Meretz mostrava cartazes dizendo: “Barak, você esqueceu o legado de Rabin”. Em resposta, pela primeira vez desde sua volta à política, Barak declarou que a Conferência de Annapolis era uma oportunidade e que ele estava comprometido a buscar a paz.

O momento mais interesse da noite se deu no meio do discurso do prefeito de Jerusalém, o religioso ortodoxo Uri Lupolianski. Seu aparecimento foi uma surpresa. Uma anomalia entre a quase totalidade de oradores, cantores e público seculares. Lupolianski decidiu recordar a audiência de que, duas semanas antes de ser assassinado, Rabin declarara que uma coisa que une todos os israelenses é a crença numa Jerusalém unida. Ele então fez uma pausa… e foi recebido por um silêncio absoluto. Nem uma única palma. Se tivesse dito isto em Jerusalém, numa demonstração da direita, ele teria sido saudado por um aplauso estremecedor. Mas aqui, no coração de Tel Aviv, apenas silêncio. Um silêncio que projeto esperança no futuro. As pessoas estão cansadas de slogans. Querem soluções viáveis.

Peres estava cansado. O prefeito de Tel Aviv, Ron Huldai, disse as palavras didáticas corretas, lendo de um texto. Barak estava visivelmente desconfortável, tentando recapturar o apoio do campo que perdeu quando declarou que não existia nenhum parceiro palestino para a paz e correu da política para fazer dinheiro.

Os cantores cantaram suas canções, para dar uma chance à paz.

E o tom emocional mais potente foi dado por Yuval Rabin. Todos quiseram citar a Canção à Paz. Mas Peres e Lupolianski só foram capazes de citar as primeiras linhas: “Deixe o sol brilhar / E que a manhã traga sua luz”.

O jovem Rabin teve a corajem de concluir seu discurso com as últimas palavras do segundo verso: “Não diga que um dia chegará / Traga esse dia / E em todas as praças das cidades / Só grite só pela paz”.


[ publicado no The Guardian – traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]