Estratégia Errada em Gaza

O colapso da fronteira entre Gaza e Egito representa, mais do que outra coisa, o colapso do conceito israelense de que o Hamas pode ser derrubado através do sufocamento e completo bloqueio das pessoas que vivem dentro da Faixa.

Sair de Gaza AGORA

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Após o desligamento unilateral de Gaza e a ascensão do Hamas, o governo israelense e a Autoridade Palestina (AP) uniram-se para enfrentar esse novo desafio político e militar, desejando afastar o Hamas de poder e reunificar a AP sob a liderança de Mahmoud Abbas.

A hipótese de trabalho de Israel foi a de que um bloqueio completo, tornando a vida intolerável dentro de Gaza, iria potencializar o descontentamento geral e traria a queda do Hamas. A tática de Israel – fechamento de todas as passagens, restrição de produtos básicos, incluindo combustível e eletricidade – provocariam a perda de fé da população palestina de Gaza na liderança do Hamas. Cedo ou tarde, iriam derrubá-lo.

Entretanto, a “política de sufocamento” de Gaza acabou servindo ao Hamas, tornando a situação ainda mais complicada e perigosa. Os fechamentos das fronteiras forçaram os palestinos a sobreviverem com produtos já contrabandeados através de túneis sob a fronteira entre Gaza e Egito. A nova situação foi habilmente manipulada pelo Hamas, que assumiu o controle dos túneis, monopolizando produtos e preços. O palestino comum tornou-se completamente dependente do Hamas, controlador exclusivo da distribuição de bens essenciais.

Além disto, o isolamento físico e cultural da Faixa, a pobreza e o desemprego, também foram utilizados pelo Hamas e grupos de oposição. Sem outra opção, as mesquitas e locais de oração se transformaram em centros culturais para a população de Gaza. Os sermões anti-Israel pregados pelos líderes religiosos ficaram cada vez mais populares, e o processo de radicalização da sociedade palestina piorou. Oprimida e pobre, Gaza tornou-se mais religiosa, mais radical e mais hostil a Israel.

O endurecimento do bloqueio levou o Hamas a romper a fronteira com o Egito e desestabilizar ainda mais a região. Os palestinos, confinados em Gaza desde o desligamento, foram presenteados de repente com alguma esperança. Comida, materiais de construção, água, gasolina e animais começaram entrar na Gaza sitiada. Após meses de isolamento e desesperança, até a Rafah egípcia era vista como um “Eldorado”.

Agora, após o colapso das teses de Israel, só podemos esperar que o país mude sua estratégia e busque outra solução para a situação de Gaza. O governo precisa abrir todas as passagens entre Israel e Gaza para permitir importações e exportações. Numa etapa posterior, o governo autorizaria palestinos a virem de Gaza para trabalhar em Israel.

O ano passado serviu como lição de que o isolamento e o bloqueio não surte os resultados desejados e que as dificuldades causadas apenas beneficiam o Hamas e outros grupos terroristas.

 publicado no Jerusalem Post em 28|01|2008 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]


 

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