Carta de um amigo de Ashkelon | Gaza-Sderot

Especial para os Amigos Brasileiros do PAZ AGORA 

Uma semana muito ocupada me impediu de escrever antes. A publicada morte de um estudante no campus da Sapir (**) na quarta feira passada não relata as outras feridas, inclusive várias de traumas psicológicos. Uma colega da minha equipe, que mora em Ashdod, não consegue desde então chegar ao trabalho. No momento em que ela entra no carro, começa a tremer, suar e chorar e não consegue continuar no caminho. Uma estudante beduína grávida, que estava ao lado do estudante, desmaiou no lugar e quase deu a luz.

>> veja Mapas iterativos de Gaza e Sderot

Não há duvida que no outro lado, em Gaza, podem ser vistas cenas semelhantes, ainda mais chocantes. Mas existem duas assimetrias meridianamente claras:

 1.   Israel se retirou completamente de Gaza, voltou às linhas de 1967 e reconheceu o direito dos palestinos a um Estado. Desde o primeiro dia da retirada, são disparados de Gaza foguetes destinados a metas  propositadamente civis. Israel reage, procurando as fontes de fogo, visa metas militares, e por acidente atinge civis.

 2.    Em ambos os lados são mortos civis, crianças e mulheres. Em Israel, ninguém acha motivo de jubilo.  Partes dos cidadãos protestam, se manifestam. Médicos israelenses exigem ajuda aos hospitais de Gaza. Do outro lado, em Gaza, vimos hoje na televisão manifestações de alegria pela morte de oito jovens que estavam estudando Torá em Jerusalém (dentro das linhas de 1967…): danças nas ruas, distribuição de doces e balas, fogos de artifício, discursos jubilantes nas mesquitas.  Ninguém para lamentar mortes inúteis.

Muitos palestinos sabem a simples verdade: nos últimos dois anos, Gaza poderia se ter transformado na Hong Kong do Oriente Médio, uma prospera região, porto livre, com desenvolvimento  e fim da pobreza. Aportes financeiros massivos da Europa, Japão e EUA permitiriam a criação de infra-estrutura, ilhas artificiais, moradias e indústrias. Seria uma demonstração clara de que de onde Israel se retirasse para as linhas de 1967, deixando o regime de ocupação, reinaria paz e progresso a todos. Incentivaria o público israelense a fazer o mesmo na Margem Ocidental (e mesmo na Síria), fazendo com que o custo de evacuar a população judaica e desmontar as colônias se provasse ser um preço que vale a pena ser pago.

Ao contrario, o povo palestino permitiu a uma liderança obscurantista trazer só miséria e tristeza – a si e aos israelenses, indicando que não há nenhuma vantagem numa retirada israelense de territórios ocupados: o resultado é o mesmo da ocupação, ou ainda pior.

Israel fez muitos erros, e continua a fazê-los. A retirada de Gaza deveria ter sido negociada, e não unilateral. Sim, Israel causa morte inútil de civis. Mas a situação é de uma assimetria clara, e a responsabilidade cai no lado palestino: Toda concessão israelense (tanto nos acordos de Oslo quanto na retirada de Gaza) foi respondida por violência (lembre os ônibus explodindo em Tel Aviv).

Os ataques palestinos visam declaradamente alvos civis, em territórios claramente israelenses (Sderot, Jerusalém Ocidental, Ashkelon) – em nome de “libertação da ocupação”. A mensagem para Israel e clara: mesmo se Israel se retirar da Cisjordânia para as linhas de 1967, a violência não cessará.

 Chegou a hora de a liderança palestina racional tomar uma posição clara e corajosa, e parar de ter medo de ser vista como colaboradora de Israel e traidora da causa palestina.

Chegou a hora de um líder palestino dizer claramente: Deixem o culto da morte, não se rejubilem com a morte do inimigo, não eduquem as crianças a desejar a morte como Shahidim (Mártires) ou de qualquer forma. Exijam liberdade, dignidade, direitos.

Escolham a vida!


(*) Rimon (Raimundo) Levy mora em Ashkelon e trabalha na Universidade Sapir, próxima a Sderot.


(**) A Universidade Sapir, situada próximo a Sderot, foi criada em Shaar Haneguev pelos kibutzim da região. É um centro educacional em que há uma grande integração entre as diferentes culturas que compõem a população israelense.

Sapir - Escola de Cinema e TV

Sapir - Escola de Cinema e TV

Cerca de 25% dos estudantes são beduínos (principalmente da cidade de Rahat), drusos e árabes-israelenses. Estudantes de todas as partes de Israel procuram em Sapir, especialmente, cursos de cinema e comunicações.

Projeto ‘Gaza-Sderot: Vida Apesar de Tudo’

O curso de cinema participou de um projeto (gazasderot.blog) inédito onde, no auge do conflito entre Israel e o Hamas foram entrevistados habitantes de Gaza (Palestina) e de Sderot (Israel), mostrando a cada lado o sofrimento do outro, e gerando empatia entre israelentses e palestinos.

 

Gaza Sderot
Gaza Sderot

O Projeto “Gaza-Sderot – Vida Apesar de Tudo” (veja os filmes indexados por assunto AQUI) relata a vida experienciada por homens, mulheres e crianças: nas duas cidades e a sua sobrevivência na rotina diária sob ameaças de ataques aéreos e bombardeiros.

 As pessoas continuam trabalhando, amando e sonhando. Vida apesar de tudo.

Após a ofensiva israelense em dezembro e janeiro, as duas equipes, entrevistaram e filmaram 4 videos de cada lado, publicados no blog. Alguns deles estão nos links abaixo.

31|03|09 – video de Sderot
06|04|09 – video de Gaza
10|04|09 – video de Sderot
14|04|09 – video de Gaza  
 

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