Lemon tree

Limoeiros da discórdia

O público e o privado se entrelaçam sem possibilidade de conciliação em Lemon Tree, drama que examina a eterna tensão entre palestinos e judeus a partir de um pequeno sítio, transformado do dia para a noite em assunto de segurança nacional. Numa pequena propriedade na fronteira entre Israel e a Faixa de Gaza, uma viú­va palestina de 45 anos, Salma Zidane (Hiam Abbass), arranca uma sobrevivência precária de algumas fileiras de velhos limoeiros. Seus três filhos emigraram para longe da terra árida, e ela conta apenas com a ajuda de um velho empregado.

Quando ao seu lado instala-se um novo vizinho, o ministro da Defesa israelense, Israel Navon (Doron Tavory), a terra de Salma torna-se o epicentro de uma guerra de fronteiras, deflagrada sem nenhuma tentativa de negociação. Arame farpado passa a separar os dois quintais, até então contínuos. A segurança do ministro decide que a plantação de limoeiros é local potencialmente perigoso, pela possibilidade de servir de esconderijo para terroristas. Para evitar qualquer perigo para Navon e sua mulher, Mira (Rona Lipaz-Michael), o serviço secreto decreta a derrubada de todas as árvores. Indiferente à oferta de compensação financeira – que, aliás, os líderes palestinos a proíbem de aceitar -, Salma decide recorrer à Justiça pelo direito de manter a plantação iniciada por seu pai há 50 anos e cuja história se confunde com a dela própria. 

Lemon Tree

Salma Zidane (Hiam Abbass) e Ziad (Ali Suliman) em Lemon Tree. Fuga do maniqueísmo ao mostrar o interesse político que está por trás do conflito.

O fato de a viúva envolver-se romanticamente com seu advogado, Ziad (Ali Suliman), alguns anos mais jovem, transforma-a em objeto de outra pressão, de cunho moralista, de sua própria comunidade. Um dos pontos fortes do roteiro — desenvolvido pelo diretor Eran Riklis (A Noiva Síria) e pela ex-jornalista Suha Arraf a partir de histórias ­reais — está em desviar-se do maniqueísmo. Durante o processo que move contra o ministro, a simplória Salma é instrumentalizada, à sua revelia, por líderes políticos de seu próprio povo, mais empenhados em exibi-la como símbolo de sua causa do que na efetiva proteção de seus interesses.

Evitando o habitual esquematismo dos dramas de tribunal, Lemon Tree mantém seus cenários quase o tempo todo longe da corte judicial, onde se jogará a sorte de Salma. A intervenção em seu pequeno quintal mostra-se, mais do que um incidente menor, um efetivo desdobramento da mesma política que é responsável, não muito longe dali, pela construção do enorme muro que divide palestinos e judeus e cuja sombra cresce a olhos vistos no horizonte.

[ por Neusa Barbosa – publicado na Revista BRAVO! de agosto!2008 ]

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