Alerta Vermelho em Jerusalém!

 

Relatório  do PAZ AGORA  08|12|2008

Jerusalém sempre foi uma questão central no debate político em Israel. E ainda mais nos últimos meses, após a nova líder do Kadima, Tzipi Livni, ter fracassado em forjar um governo de coalizão, em boa parte por ter recusado se curvar às exigências do partido Shas de que Jerusalém não faria parte de futuras negociações com os palestinos.

Agora, com várias transições ocorrendo simultâneamente nos governos de Israel, dos Estados Unidos e do município de Jerusalém, a questão de Jerusalém vai se tornando cada vez mais delicada, tansa e potencialmente explosiva.

Para os colonos israelenses de Jerusalém Oriental, esta situação representa a a “perfeita tempestade’ de condições para se criar – e estão criando – novos fatos consumados que podem tornar difícil, ou impossível, uma solução pacífica do conflito israelense-palestino. Já houve uma séria deterioração em Jerusalém, e achamos que novos fatos estão por vir.

A lição de anos de experiência em Jerusalém – repetida inúmeras vezes mas talvez nunca aprendida – é que é muito mais fácil para Israel, com o apoio e pressão da comunidade internacional, evitar que os colonos criem tais fatos consumados logo de início do que procurar “desfazê-los” depois. Ao não tomar ações preventivas, o governo israelense tem mostrado raramente capacidade e vontade política de reverter esses fatos, e quando o fazem ou tentam, o preço político é muito alto.

Muita gente diz que Jerusalém, um símbolo fortíssimo tanto para palestinos como para israelenses, é o coração do conflito. Mas a cidade também poderá ser a chave para sua solução, quando os dois lados decidirem partilhá-la fazendo dela duas capitais para dois povos. É vital que todas as partes ajam responsávelmente para proteger Jerusalém e evitar que colonos a transformem no obstáculo definitivo para se chegar à paz entre Israel, os palestinos e os árabes.

Mapa da Ocupação de Jerusalém Oriental

Mapa da Ocupação de Jerusalém Oriental

 

 

 

 

 

 

 

Vários elementos se combinam para tornar a situação de Jerusalém mais perigosa nestes dias, e para que os colonos busquem impor sua agenda sem receio de resistências ou repercussões:

1. Transição do governo israelense: as próximas eleições nacionais em Israel estão programadas para fevereiro de 2009,. Isto significa que nesse interim não há um governo com credibilidade e poder com a suficiente autoridade, capacidade ou vontade política para tratar do assunto.

2. A campanha eleitoral israelense:  Já com acusações de que um ou outro partido ou candidado irá “trair” os interesses judeus em Jerusalém, a cidade já é um forte apelo eleitoral na disputa. Nenhum partido ou candidato irá dizer ou fazer qualquer coisa que o torne mais vulnerável nessa questão, sabendo que no dia da votação irão certamente um alto preço político por tê-lo feito.

Mais ainda, para alguns partidos políticos, especialmente a direita israelense, outro conflito sobre Jerusalém ou mesmo outra onda de violência na cidade, poderá ter um papel importante na promoção de sua agenda. Tais disputas e violência sempre servem o interesse daqueles que se opõem à paz.

3. Transição do governo dos EUA:  A fase de mudança da administração norte-americana implica em não haver autoridade em Washington para se opor a ações de colonos em Jerusalém, e se tais objeções forem feitas, haverá a impressão em Israel de que não têm importância. Mais ainda, a ausência de liderança em Washington torna mais difícil para a comunidade internacional que defina uma agenda para o processo político no Oriente Médio, inclusive para Jerusalém.

4. Transição na prefeitura de Jerusalém:  Em menos escala, essa transição, com um novo prefeito eleito em 11/11, deixa a cidade no limbo, com o novo prefeito – que foi eleito numa plataforma que incluiu promessas desmedidas para grupos e interesses de colonos – está agora trabalhando para formar sua própria coalizão de governo.

Organizações de colonos estão capitalizando esses condições para intensificar seus esforços para criar fatos consumados em Jerusalém Oriental. Estão fazendo isto com ou sem a assistência de elementos do governo israelense, e com ou sem autorização legal.

Estes esforços representam uma ameaça direta e imediata à solução de dois Estados. Alguns dos fatos que estão sendo consumados podem impossibilitar uma solução pacífica de dois Estados para o conflito israelense-palestino, ao tornar impossível  chegar a uma solução para Jerusalém.

Estas ações de colonos também representam um ataque direto e imediato à segurança e estabilidade dentro de Jerusalém, e ameçam incendiar a cidade. As incessantes ações dos colonos, e a ausência de respostas do governo israelense, podem disparar reações violentas e retaliações que poderiam se espalhar para bem além das áreas específicas da da cidade alvejadas pelos colonos.

Estas atitudes representam uma ameaça direta e imediata aos esforços para promover a paz. A desestabilização e violência em Jerusalém pode impactar dramaticamente a opinião pública e prejudicar as chances de ser eleito um governo pró-paz.

Eventos preocupantes nas últimas semanas em Jerusalém:

• 05|11 – no dia em que toda a atenção da população estava voltada para as eleições nos Estados Unidos, a prefeitura de Jerusalém destruiu seis casas palestinas em Jerusalém Oriental, deixando 31 pessoas desabrigadas. As demolições dispararam enfrentamentos violentos entre a polícia e os moradores. Alguns palestinos foram feridos.

• 09|11 – enquanto acontecia o encontro do Quarteto em Sharm A-Sheikh, a família Al-Kurd foi despejada de sua casa em Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental, para a expansão do assentamento de um grupo de colonos que se apossou algumas casas no meio daquele bairro palestino.   

Demolições em Jerusalém

Demoliçõesem Sheikh Jarrah e Silwan

• 18|11 – a polícia israelense confiscou alto-falantes da mesquita de Zur Baher, por causa de queixas de vizinhos judeus do bairro vizinho quanto ao barulho que vinha dos chamados do Muezin para as orações diárias.

• 18|11 – uma casa palestina foi demolida no bairro de Issawiya em Jerusalém Oriental.

• 19|11 – foram reiniciados trabalhos de infra-estrutura para o projetado “Museu da Tolerância”, em Jerusalém Ocidantal, no local de um cemitério muçulmano histórico.

• 27|11 – a polícia israelense prendeu 20 adolescentes (14 a 15 anos), retirando-os de suas casas em Silwan, levando-os para interrogatório na delegacia central.

• 03|12 – a prefeitura de Jerusalém destruiu outra casa palestina em Silwan, exatamente quando muitos dos moradores participavam de uma manifestação diante da Prefeitura contra demolições de casas.

 Outros atos que podem acontecer e detonar o fogo:

• Como a família al-Kurd, expulsa de sua casa em 09|11, 26 famílias de palestinos de Sheikh Jarrah vivem sob ameaça de despejo imediato. Ninguém sabe quando acontecerá. Se forem despejados, os colonos tomaram uma grande área nesse bairro palestinos situado no coração de Jerusalém Oriental. E completarão um cinturão de contigüidade de população judia, através do bairro até o Monte Scopus, criando fatos consumados que tornariam impossível qualquer acordo pacífico em Jerusalém.

• A delegacia policial em Ras El-Amud, da qual a polícia foi evacuada (para novas instalações em E1 financiadas pelos colonos) como parte de um acordo com os colonos, está vazia. É provável que colonos tentem se mudar para o local nas próximas semanas.

• Há pelo menos mais 87 mandatos de demolição em Silwan (“o Bustan”) que autoridades israelenses pretendem executar para ali criar um parque nacional histórico.

• A Cia. de Desenvolvimento de Jerusalém Oriental (PAMI) planeja realizar um grande trabalho de renovação nas ruas de Silwan, bairro palestino adjascente à Cidade Velha, no qual vivem 300 colonos num assentamento israelense. Essas obras ameaçam prejudicar o tecido social do bairro e poderiam causa dano irreversível à população palestina.

Os moradores de Silwan se opõem aos trabalhos e procuraram se aproximar de várias maneiras da PAMI. Recentemente apresentaram uma petição judicial através da Associação pelos Direitos Civis em Israel (ACRI), para impedir a obra. Mas a empresa continua avançando no projeto, e em 20|11 publicou outra notificação na imprensa referente ao início da execução.

• Existem muitas outras ameaças de novas obras ou novos assentamentos (incluindo projetos formais que foram submetidos a processo de aprovação). Alguns envolvem projetos situados dentro ou próximo à Bacia Sagrada (junto à Cidade Velha) e próximos ao Monte do Templo. Outros são para projetos se aprofundando em outras partes de Jerusalém Oriental. É muito difícil prever qual, entre os muitos projetos dos colonos, será o próximo a ser executado.

[ traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]

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