Líderes sionistas divergem do governo de Israel

 Resoluções do Congresso Sionista Mundial mostram desacordo entre Israel e Diáspora


Com a condenação internacional de sua política de Gaza, bem como da expansão dos assentamentos e do recente ataque mortal a uma flotilha de auxílio para Gaza, Israel certamente encontra-se sob pressão. Este mês, Israel também se viu em desacordo com outra poderosa presença judaica – o Congresso Sionista Mundial.

O Congresso Sionista Mundial (CJM) – maior encontro de judeus sionistas de todo o mundo – acontece de quatro em quatro anos. Para a 36ª reunião, que ocorreu de 15 a 17 de junho passado, a Organização Sionista Internacional convocou 750 delegados a Jerusalém.

As principais divergências que o CJM possui com o atual governo israelense estão retratadas nas resoluções aprovadas. Elas não chamaram a atenção dos meios de comunicação israelenses, mas podem ser entendidas como uma ferramenta inestimável para avaliar o estado de espírito do mundo judaico.

Este ano, o Congresso teve como alvo algumas leis que o atual governo israelense está promovendo, sinalizando uma divisão entre Israel e a diáspora judaica em várias frentes.

O Congresso também abordou preocupações ambientais, que aparecem como parte do sonho sionista. Resoluções verdes aprovadas pelo Congresso fizeram apelos pela “redução das mudanças climáticas” e pela “melhoria no ensino sobre as ameaças ambientais enfrentadas por Israel e pelo resto do mundo”.


Enquanto muitos israelenses estão cientes das ameaças ambientais que o país enfrenta, incluindo a terrível escassez de água, a agenda ambiental não é prioridade para o Estado de Israel. Enquanto a maioria dos países desenvolvidos exorta seus cidadãos a fazerem  reciclagem, em Israel essas medidas são opcionais, na melhor das hipóteses, e em muitos lugares simplesmente não existem.

Em uma nota diferente, depois de dar boas-vindas com cânticos contra o “macartismo”, o Congresso Sionista rejeitou, por esmagadora maioria, uma proposta apresentada pelo Likud mundial que propõe obrigar “todas as instituições acadêmicas em Israel a expulsar os professores que fizerem propaganda contra o Estado”, e “subordinar o apoio financeiro para essas instituições à demissão de tais professores”.

A decisão do Congresso veio apenas algumas semanas antes do Knesset, em meados de julho, ter aprovado a leitura preliminar de um projeto de lei que propunha multar em NIS 30.000 (R$7.500,00) qualquer pessoa que sugerisse boicote a Israel. A atmosfera política em Israel é cada vez mais hostil às organizações que criticam o Estado. No mundo judaico, no entanto, parece que estão sendo tomadas medidas para garantir que esses valores sejam respeitados no Estado judeu, em um esforço para preservar seu caráter democrático.

Finalmente, o Congresso rejeitou, por esmagadora maioria, a inclusão de locais sagrados judaicos na Cisjordânia – incluindo a Gruta dos Patriarcas em Hebron – como parte da lista oficial de lugares considerados como patrimônio religioso; isto contraria um projeto de lei que o governo aprovou em fevereiro. Além disso, a resolução do Congresso é um chamado para que “o Governo de Israel aja no espírito do discurso de Bar-Ilan, de forma a manter o caráter democrático e sionista do Estado de Israel”, apoiando o primeiro-ministro “na sua decisão de congelar as construções nos territórios ocupados”.


Estas são declarações importantes contra os esforços para legitimar a construção de assentamentos e outras atividades israelenses na Cisjordânia. Em um momento em que Netanyahu está sob pressão para não renovar a moratória sobre o congelamento das construções na Cisjordânia, o Congresso Sionista claramente apóia o congelamento e quer vê-lo estendido.

A 36ª reunião do Congresso Sionista Mundial provou que existe uma lacuna entre o mundo judaico e o governo de Israel. O mundo judaico é liberal e quer liberdade religiosa. Ele apóia a renovação do sonho sionista do ponto de vista ambiental. Defende a democracia e a liberdade de expressão. E, finalmente, oferece apoio  a uma solução de dois Estados e ao congelamento da construção de assentamentos.

Tais diferenças gritantes poderiam ser resolvidas, ou sinalizariam tempos duros para a relação entre a diáspora judaica e Israel?


Original publicado pelo Haaretz  em 30|07|2010

Traduzido por Esther Kuperman para o PAZ AGORA|BR

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