Macartismo em Israel?


Muitos estão usando o rótulo de ‘macartismo’ para advertir sobre a situação presente na academia, grupos de direitos humanos e outros segmentos da sociedade israelense. Realmente, existem muitas semelhanças.

Nos Estados Unidos do início dos anos ’50, enquanto  a Guerra Fria ganhava força, o temor ao inimigo – o comunismo – deflagrou uma caça às bruxas sobre supostos simpatizantes na universidade, nas artes, e outros setores além (mas incluindo) dos militantes políticos.

O argumento era de que tais elementos podiam envenenar as mentes dos americanos com idéias anti-americanas.

Esvaziando a academia

Existe sim um elemento de macartismo nos ataques sobre grupos da sociedade civil em Israel, como o NIF (New Israeli Fund) , mas na verdade o que estamos experienciando hoje lembra mais a União Soviética do que a América dos anos ’50. No sistema soviético marxista-leninista, uma ideologia e não apenas um tema necessário em todas as áreas da educação, era o critério essencial para pesquisar e ensinar nas universidades. O administrador maior – o chefe da universidade  – era responsabilizado perante o Estado pela natureza marxista das bibliografias e aulas,  contratando e demitindo conforme credenciais marxistas.

Pode-se afirmar que o marxismo (diferente do sionismo) é de fato uma visão de mundo que lida explicitamente com a natureza da sociedade – econômica a e política, pois este critério ideológico também foi aplicado nas artes e ciências naturais.

Diferentemente do macartismo, isto não foi feito (ou não apenas)  por medo das idéias do inimigo, mas por uma vontade de impor uma visão totalmente exclusiva, barrando qualquer desafio ideológico ou diversidade. E, claro, sob o macartismo as pessoas “apenas” eram demitidas  e suas vidas destruídas, enquanto na União Soviética elas foram presas e mesmo assassinadas.


Ainda não chegamos aqui a nenhuma destas situações, mas a semelhança e a preocupação estão na questão de se exigir uma uniformidade, baseada num suposto “sionismo”.

Por que e como poderia o sionismo ser o critério para o que ensinamos ou fazemos?

Na academia, por exemplo, o que o sionismo tem a ver com sociologia, com teoria política, com sistemas de governo, mudança social?

E alguém poderia perguntar: Qual sionismo? Existia sionismo antes de surgir o sionismo político; Há diferentes correntes do sionismo, muitas interpretações e idéias de aplicação, particularmente depois da criação do Estado de Israel. Mas, acima de tudo, é preciso de perguntar por que uma determinada visão do sionismo – ou qualquer outra ideologia ou inclinação nacional deve ser um critério para a busca de conhecimento.

Na verdade, há uma grande dose de hipocrisia em jogo. Afinal, o Estado sustenta sistemas educacionais  geridos por movimentos  e comunidades que não aceitam – e em alguns casos rejeitam explicitamente – o sionismo.  E isto é  o que se deveria esperar de um Estado democrático.

Pergunta-se, então, por que começou esta caça às bruxas, contra a academia e a sociedade civil .

Uma possível explicação  é que seria uma reação às crescentes críticas e a deslegitimação de Israel no exterior, causando-nos uma piora de imagem, xenofobia e fundamentalismo que demandam, como no macartismo, sinais claros de lealdade para que o inimigo não se aproveite das nossas fraquezas.

Mas poderia também ser algo diferente, talvez como na União Soviética – uma confiança e mania que emana do poder.  Aqui temos um governo direitista com uma maioria extremamente forte no Knesset, finalmente capaz de impor suas idéias.

Eles podem estar longe de empregar os meios extremistas de implementação escolhidos pelos líderes soviéticos, e mesmo daqueles dos macartistas – esperamos, mas já existem sinais alarmantes de esforços para suprimir oposição e críticos.  Há um sério desafio ao pluralismo e à democracia,  para assegurar uma versão política do que pode ser trazido às classes de aula. E, quem sabe, logo na mídia?


Galia Golan,  professora emérita do Departamento de Ciências Políticas da Universidade Hebraica de  Jerusalém,  leciona Governo, no Centro Interdisciplinar de Herzlia, Israel. É uma das principais líderes do Movimento PAZ AGORA.

Publicado no Maariv de 25|08|2010 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR

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