Colonos tomam outra casa palestina na Cidade Velha de Jerusalém


Acabo de chegar da Cidade Velha, triste por ter testemunhado mais uma tomada de uma casa de palestinos por colonos.

Cerca de 20 palestinos estavam sentados em cadeiras plásticas na Sa’adiye St. próximo ao portão de Herodes, enquanto policiais israelenses se postavam diante da entrada do que tinha sido, até a noite passada, a casa deles.

Familias despejadas (parte árabe da Cidade Velha)

Familias despejadas (parte árabe da Cidade Velha)

Nove famílias palestinas viviam na casa, alugada de outra família desde os anos ’30.  O proprietário palestino, que emigrara para os EUA, aparentemente vendeu a casa para os colonos.

Há poucos anos, os moradores ficaram sabendo que seu senhorio não era mais o palestino que conheciam, mas uma empresa estrangeira chamada “Blue Stars World Investments”, representando os colonos. Nesta noite, oito das famílias  foram a um casamento e, quando voltaram, descobriram que suas casas estavam ocupadas por um grupo de cerca de 30 colonos, protegidos pela polícia. A nona família não tinha ido à festa e viu os colonos entrando.


Esta é uma edificação muito grande na cidade sagrada. Umas 50 pessoas viviam nela até ontem. Bem na frente da casa, existe outra que foi tomada há alguns anos por colonos e – do outro lado – outra casa. A nova tomada irá expandir significativamente a presença dos colonos nesta região

A nível legal, os palestinos reivindicam ter a posse protegida, o que significa que não podem ser despejados a não ser que violem certas obrigações. Os colonos provavelmente têm uma história pouco diferente – a de que eles venderam seus direitos ou os perderam.

Quando cheguei ao local, a maior parte da mídia e da aglomeração havia se dispersado. As famílias estavam esperando para ouvir da Corte de Justiça se seria aceito o seu apelo urgente para permitir que voltassem para casa.

Então veio a ordem judicial para despejar os colonos até o domingo, quando a audiência principal seria realizada. Houve um sorriso de alívio e alegria. Os palestinos entregaram a ordem aos policiais e lhes pediram para retirar os colonos. A polícia não fez nada. Os colonos apelaram contra a decisão e a polícia ficou à espera dela. À noite, a Corte aceitou o apelo dos colonos e decidiu que os colonos podiam continuar na casa.

Extrema-direita quer tomar a parte árabe de Jerusalém.

Extrema-direita quer tomar a parte árabe de Jerusalém.

Não consigo falar sobre o que tive de ouvir e ver, sobre quem legalmente estaria certo. Isto é atribuição da Justiça. Entretanto, legal ou não, esta ação é, mais do que tudo, um ato político destinado a criar uma situação irreversível na Cidade Velha, de forma que -quando chegarem as negociações sobre um status definitivo – será bem mais difícil obter uma solução. Enquanto isto, mais atrito e tensão são criados na delicada situação da Cidade Velha.

Esta não é a primeira vez que colonos se mudam para casas palestinas na Cidade Velha. Desde o início dos ’80, grupos de colonos conseguiram tomar cerca de 50 casas nos quarteirões muçulmano e cristão, valendo-se da ‘Lei de Propriedades Abandonadas’, ou reclamando a propriedade de judeus antes de 1948, ou por compra direta de palestinos.

O ‘timing’ muitas vezes não é acidental. Sempre que houver uma esperança de avanços para a paz, os colonos farão o máximo para impedi-los ou prejudicá-los.

Desta vez, são os esforços para iniciar conversações diretas. Hoje, a liderança da Liga Árabe definiu termos que permitem aos palestinos caminhar para negociações diretas com Israel. Os colonos estão fazendo uma provocação para sabotar esses esforços.

Este poder que os colonos têm – através da sua atividade de assentamento – de afetar diretamente as mudanças políticas rumo à paz, deve nos alarmar a todos. O projeto dos colonos, de ‘judaizar’ mais a Jerusalém Oriental, não se trata apenas de assumir a propriedade de imóveis. Trata-se das chances de se ter nesta cidade um futuro diferente e melhor.




 [ traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]

Comentários estão fechados.