Direitistas repensam o domínio sobre a Cisjordânia

Toda revolução tende a acreditar que é eterna. Em nenhum lugar isto é mais evidente do que em Israel, por seis décadas em meio a várias revoluções ao mesmo tempo.

Mas o destino de todo movimento revolucionário é envelhecer, decair com fissuras e fraturas, e perceber, um dia, que tudo virou História.

Agora é a vez dos colonos.  Embora os frutos do seu sucesso passado continuem, sua revolução quebrou. O movimento de assentamento – junto com a revolução pacifista cuja bandeira era terra por paz – foi despedaçada no caos da intifada de Al-Aqsa.

Kfar Maimon 2005

Colonos protestam em Kfar Maimon (2005). No cartaz: "só um regime totalitário usa o exército contra o povo".

Em apenas seis dias de 2005, a personalidade mais indispensável ao enraizamento de assentamentos nos territórios, Ariel Sharon, derrubou um quarto de século de assentamento na Faixa de Gaza – com a aprovação de 2/3 do eleitorado israelense.

A revolução de assentamento nunca mais se recuperou totalmente. Mesmo quando insistem que os assentamentos da Cisjordânia jamais serão desfeitos, o movimento está tão obcecado quanto enfraquecido por sua própria Naqba particular, a perda do sonho de um Grande Israel, com o desligamento do governo do Likud.

Nos últimos tempos, personalidades significativas na direita – das comunidades judaicas israelenses e americanas, começaram a repensar o futuro do coração dos redutos dos colonos: a Cisjordânia.

Quando as negociações israelenses-palestinas recomeçaram neste mês, o influente colunista do Washington Post,  Charles Krauthammer, surpreendeu muitos companheiros da direita ao observar que “Nenhum participante sério acredita que será possível manter para sempre a Cisjordânia.

“Isto criou um fenômeno singular em Israel – um amplo consenso nacional para entregar quase toda a Cisjordânia em troca de paz”, continuou Krauthammer. “O momento é duplamente único porque o único homem que pode fazer tal acordo é o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu do Likud – e ele está disposto a fazê-lo”.

Os comentários coincidiram com uma série de indicações de um começo de mudança na direita e no próprio movimento de colonos.

Entre as coisas mais intrigantes está um grupo de jovens israelenses – alguns dos quais cresceu em assentamentos da Cisjordânia – que se mudaram de volta para Israel para rehabitar o kibutz abandonado de Retamim, perto de Ashdod.

O grupo inclui o filho de Pinchas Wallerstein, que por muito tempo foi líder do Conselho Yesha, o verdadeiro governo do movimento de assentamento.

Ao mesmo tempo, alguns moradores de colônias – fora dos blocos que diplomatas americanos prevêem que poderão ser anexados a Israel no contexto de uma retirada – têm consultado agências do governo de Israel sobre eventuais compensações caso saiam voluntariamente para Israel no futuro.

Outra guinada de pensamento é o crescente sentimento da possibilidade de uma retirada unilateral da Cisjordânia fora do contexto de negociações com os palestinos. Para muitos israelenses, isto reflete a volatilidade de esperanças em um acordo de paz com um organismo político palestino profundamente dividido.

O analista israelense Guy Bechor, que freqüentemente defende posições duras frente aos palestinos, escreveu na semana passada que Israel precisa agora dar um ultimato ao presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas: “Esta é a última chance deste governoi. Se não conseguirmos assegurar um acordo rápido, onde as demandas de Israel sejam reconhecidas, iremos evacuar unilateralmente a maior parte da Judéia e da Samária, anexaremos os blocos de assentamento e a Cidade Velha de Jerusalém, e abandoná-lo e ao seu regime para a compaixão do Hamas e da Jordânia.

Bechor também propôs que Israel renuncie à anexação da maior parte de Jerusalém Oriental árabe e ceda o controle sobre ela. “Uma carga imensa – nas frentes política, econômica, de defesa e de ralações públicas – será tirada dos nossos ombros, quando o status dos palestinos na Jerusalém Oriental for igual ao dos palestinos da Cisjordânia”, escreveu no início deste ano.

“Isto acabará acontecenod de qualquer maneira, de acordo com todo o mundo, então por que não agora?”

Mais assustador para os colonos e seus apoiadores é o medo de que Benjamin Netanyahu possa optar por seguir os passos dos falcões que fundaram o Likud, Sharon e Menachem Begin, e promova uma retirada histórica. Foi Begin, lembram os colonos, que declarou quando assumiu o cargo de primeiro-ministro, que um dia iria se retirar para um assentamento na então ocupada península do Sinai. E depois devolveu a península inteira e demoliu os assentamntos dali sob o tratado de paz de 1979 com o Egito.

Israel Harel, fundador e antigo líder do Conselho Yesha, e uma das vozes mais proeminentes do movimento, advertiu na semana passada sobre a “grande mudança ideológica” que Netanyahu estava sofrendo.

Observando que Netanyahu tinha começado a falar de “dois Estados para dois povos” e a chamar de “Cisjordânia” a Judéia e a Samária, Harel escreveu no Haaretz que os muitos críticos ao primeiro-ministro “não podem ignorar o fato de que ele, através das suas declarações, havia embarcado numa estrada sem retorno”.

O grande temor é o de que Netanyahu assuma uma posição alinhada à visão de Washington para concessões, e o Likud e o gabinete – com toda sua bateria de compromisso eterno com os colonos – o acompanhem.

Líderes dos colonos também sugeriram que a disposição do movimento para resistir a tal mudança diminuiu muito desde o desligamento de Gaza.

O líder do Yesha Shaul Goldstein frisou, perto do final do congelamento dos assentamentos que a maioria dos colonos eram “moderados demais” para sair de empregos e participar de manifestações, mesmo que diga que o congelamento “significa que vida pode parar”.

Desde a evacuação de Gaza, o Conselho Yesha também perdeu muito da sua influência junto aos jovens ativistas inflamados, muitos dos quais hoje descartam o Conselho como ‘mashtapim’ [colaboradores] e ‘burgueses’.

Existem também temores de que ações radicais da “juventude das colinas”, as voláteis tropas de choque do movimento, possam afastar ainda mais a maioria dos israelenses, acrescentando apoio ao consenso pela retirada da Cisjordânia.

A falta de movimento rumo a um acordo de paz formalizado também está atiçando o interesse geral israelense numa retirada, baseando-se na sensação de que se nenhuma ação for tomada logo para separar Israel dos mais de 2,5 milhões de palestinos da Cisjordânia, o Estado judeu irá se tornar de fato um país árabe.

Com tudo isto, Netanyahu fica como o pivô para qualquer movimento de alteração do status da Cisjordânia. Se Netanyahu for jogar a carta do Irã, citando a pressão americana por concessões em troca de garantias de segurança, mesmo rabinos resolutamente opostos à retirada terão que repensar suas posições, sustenta Harel:

“Qualquer rabino concordaria que, em se tratando de salvar a nação da bomba iraniana, o ‘pikuach nefesh’ [salvação de vidas] nacional é mais importante que a Judéia e a Samária”.

Tão sério é o medo de que Netanyahu possa se comprometer com uma grande mudança na Cisjordânia e tenha sucesso em mobilizar o apoio de um consenso de judeus israelenses e americanos, que está se espalhando até para alguns dos maiores – até agora – admiradores do primeiro-ministro,

“A postura de Netanyahu pelo apaziguamento é irônica e destrutiva”, escreve Caroline Glick no Jerusalem Post.

Enquanto o “retrato arrogante e falso da realidade” de Krauthammer enfraquece, continua, “é Netanyahu o encarregado de liderar e defender Israel… E Netanyahu é o homem que nos está conduzindo para a estrada da degradação e da derrota”.



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