Impeçamos que Israel se torne uma teocracia

Aqueles, entre nós, que acham que o debate interno na comunidade judaica de Israel está ainda focado nas necessidades de defesa ou no número de assentamentos que devem ser evacuados, foram desmentidos pelos seguidores do rabino Dov Lior de Kiriat Arba.

"Redenção Armada"

"Redenção Armada"

A verdadeira controvérsia é sobre a imagem da sociedade israelense e a natureza da governança do país. O conflito com os palestinos é apenas uma plataforma para definir posições nesta questão.

Quem tem mais força?  A lei redigida por instituições e autoridades democraticamente eleitas, ou o domínio dos rabinos que tomam decisões de acordo com a Torá?  A antigo rabino-chefe, de abençoada memória, expressou a posição daqueles que seguem a lei judaica assim: “Não há lei nacional que possa alterar a nossa posição e os nossos direitos, dados pela Torá.”

Deve Israel ser uma democracia na qual uma minoria goza de direitos iguais, ou uma etnocracia para os judeus cujo direito à Terra de Israel é maior do que qualquer outro direito humano? O rabino Zvi Yehuda Kook disse: “Esta terra é nossa, não existem aqui terras árabes… dentro de todas as fronteiras bíblicas ela pertence aos israelenses… esta é a decisão da política divina, que nenhuma política terrena pode sobrepujar”.

Durante deliberações sobre uma petição à Suprema Corte de Justiça contra o estabelecimento de [assentamento] Elon Moreh em 1979, Menachem Felix, um dos líderes do Gush Emunim [organização racista de extrema-direita], argumentou que o significado do empreendimento de colonização é “Tirarás os habitantes da terra, e a habitarás.” Àquele tempo, os olhos das pessoas não estavam abertos para perceber que a expressão continha em si uma visão de mundo diferente do sionismo secular de Chaim Weizmann e Zeev Jabotinsky. Da visão de mundo expressa por Felix emergiu, aliás, que na Terra de Israel a lei para judeus é diferente da lei para os árabes.

Naquele ano, Yitzhak Rabin dizia: “No Gush Emunim, eu vi o fenômeno mais terrível, um câncer para o organismo da democracia israelense”.  Suas palavras caíram em ouvidos moucos.

Às vésperas do deligamento da Faixa de Gaza, Hillel Weiss reiterou a visão messiânica do Gush Emunim: “A fonte de autoridade no Estado judeu … não é o Knesset, suas leis, nem o governo de Israel –  é o Israel eterno [Deus]. Na medida em que o Knesset e suas instituições representem a entidade do Israel eterno [Deus], eles são legítimos. Se eles não a representarem, são ilegítimas.”

Nem todos os colonos apoiavam Weiss e suas idéias. Zeev Hever, o bulldozer dos colonos nacional-religiosos, disse que “vocês chegarão à conclusão de que, sob crcunstâncias muito difíceis, devem se retirar… mas sem nenhum questionamento ao direito [à terra]”. Hever, com o Conselho Yesha, contribuíram para a implementação do desligamento sem conflitos muito sérios. Mas, pagaram um preço pessoal e foram descartados.

Poucos anos antes do desligamento, em 2008, um dos chefes da facção, Hanan Porat, disse que o sionismo não é nada além do “estabelecimento de um reinado de sacerdotes e de uma nação sagrada, restaurando o espírito divino a Sion, reino da casa de David, e a construção do Templo”. 

Mas os judeus de Israel optaram por assistir a reality shows, como o “Big Brother”. As pessoas guardaram sua força para lutas no Facebook e protestos contra o preço do queijo cottage.

Theodor Herzl - pai do sionismo político

Theodor Herzl

Vale a pena recordarmos a filosofia de Theodor Herzl, que tinha algo a dizer sobre isto. No seu livro “O Estado Judeu”, Herzl escreveu:

“Nós teremos uma teocracía? Não! … Não permitiremos que imperem as tendências teocráticas de nossas lideranças religiosas. Saberemos como mantê-los dentro das sinagogas…  eles serão muito bem respeitados … mas não deverão interferir em matérias de Estado …”

Se não apreciarmos e implementarmos o que Herzl disse, os amotinados em Jerusalém não serão parados na Suprema Corte. Preferirão nos levar todos a Masada, mais uma vez.

 

[ por Shaul Arieli no Haaretz de 06|07|11 – traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]

Comentários estão fechados.