Abbas faz malabarismos enquanto Israel não toma nenhuma iniciativa

 

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06|02|2012

As Revoluções Árabes e a Paz Israel-Palestina

 

UMA VISÃO ISRAELENSE

Abbas faz malabarismos enquanto Israel não toma nenhuma iniciativa

Yossi Alpher

O processo de paz israelense-palestino estava morto bem antes de a onda revolucionária árabe ter começado há pouco mais de um ano. E não parece provável que as revoluções árabes, por si, irão catalizar seu renascimento. Mas elas afetam o processo de paz de várias maneiras.

Antes de tudo está a atual metamorfose do Hamas – um subproduto da legitimação do islamismo político no Egito e na Tunísia e da desestabilização da base política do Hamas na Síria.

Com apoio ativo egípcio, o Hamas tem moderado seu tom com relação a Israel e entrado num processo de reconciliação com a Fatah. O Hamas, com sua vitória eleitoral abortiva nas eleições de 2006 para a Autoridade Palestina, também pode-se dizer pioneiro na emergência do islã político no cenário revolucionário árabe.

O Egito, por outro lado, sob a crescente influência da Irmandade Muçulmana e preocupado com questões de ordem pública, recuou do patrocínio ativo do processo de paz.

A Jordânia está tentando preencher o vazio. Paradoxalmente, a decisão do Rei Abdullah II de patrocinar pré-negociações israelenses-palestinas parece ser igualmente motivada por preocupações com pressões islamistas e a estabilidade do seu regime. Mas, no caso jordaniano, o “velho regime” ainda está no lugar. Tanto o governo de Binyamin Netanyahu em Israel quanto o da OLP na Palestina compareceram às conversas de Amã, em grande parte, para ajudar a estabilizá-lo.

Contornando o cenário da influência regional no processo está a Síria. Aí encontramos um singular efeito “empurra e puxa”. Se o Egito está puxando o Hamas para dentro, a Síria – com seu regime atacado e a orientação iraniana o está empurrando para fora. E, como quase tudo na onda revolucionária árabe, o efeito sobre a orientação política e ideológica do Hamas ainda está indefinido.

Mesa de negociações

Mesa de negociações

Talvez o mais fascinante e complexo de tudo é o efeito desses acontecimentos sobre as manobras políticas do presidente da OLP, Mahmoud Abbas. Ela já estava ciente, bem antes de janeiro de 2011 quando as revoluções começaram, que as distâncias entre as posições para um acordo final entre a OLP e Israel eram intransponíveis e que Washington não tinham nenhuma idéia realista para alterar a situação.

A onda revolucionária distanciou o Egito do seu papel de patrocinador do processo, mas visivelmente moderou o Hamas a tolerá-lo. Agora Abbas encontra-se lutando para reconciliar esses fatos e fazendo malabarismos com três bolas de uma vez: o seu próprio “apelo revolucionário” à ONU pelo reconhecimento do Estado, o processo de reconciliação Fatah-Hamas e as pressões árabes e do Quarteto para retornar a algum tipo de processo de paz.

Quanto às pressões do Quarteto – sobre OLP e Israel – elas representam a abordagem mais conservadora aos acontecimentos revolucionários no mundo árabe e seus efeitos sobre o processo de paz: mais do mesmo. Se as partes não conseguem discutir território e segurança, que troquem medidas de construção de confiança. Não há espaço para o Hamas e nada para a iniciativa da OLP na ONU. No coração desta abordagem está a recusa do governo Obama a assumir qualquer novo risco num ano eleitoral.

Enquanto Israel contempla o mundo árabe revolucionando-se em seu entorno, só reage – cautelosamente – frente a sinais claros de perigo imediato: instabilidade hashemita, problemas no Sinai e ameaças no Egito de se cancelar o tratado de paz.

Israel mostra uma saudável reticência a interferir de qualquer forma diretamente na tempestade que o cerca, por exemplo na Síria. Mas não vê motivo para se lançar num processo de paz mais dinâmico. Recusa-se a ler nas revoluções a necessidade de mostrar um progresso genuíno no front palestino, mesmo que fosse para melhorar suas opções e sua manobrabilidade no mundo árabe.

O governo Netanyahu, como constituído hoje, seria incapaz de fazê-lo, mesmo que o quisesse. É confortável citar as revoluções árabes como uma boa razão para “manter sua pólvora seca” no fronte palestino. E o governo de Israel não parece ter-se perguntado como a sua crescente preocupação com a ameaça nuclear do Irã pode interagir com a “primavera árabe” na ausência de um processo de paz.

Alguns membros da coalizão de Netanyahu parecem muito confortáveis com o isolamento internacional e regional que essas políticas têm imposto. Israel deverá pagar um preço alto por elas.

 

Yossi Alpher é coeditor da família bitterlemons de publicações via internet. Foi diretor do ‘Jaffee Center for Strategic Studies’ da Universidade de Tel Aviv.

 

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