Precisamos pegar esta onda

 

b i t t e r l e m o n s |B R

06|02|2012

As Revoluções Árabes e a Paz Israel-Palestina

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UMA VISÃO PALESTINA
Precisamos pegar esta onda
entrevista de Yusef Harb

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bitterlemons: Como você acha que a “primavera árabe” está afetando o palestino comum?

Harb: A primaverá árabe tem suas causas. É uma resposta natural aos regimes políticos e sociais que estiveram no poder dos países árabes nos últimos 50 anos.

Mas a sociedade palestina faz uma clara distinção entre os regimes do mundo árabe. Ela é conduzida por um regime novo e moderno, criado em 1994 pelo acordo de Oslo, que protege os recursos do povo palestino.

O conflito singular que existe hoje entre o povo palestino e sua liderança, a Autoridade Palestina, é que a ocupação [israelense] não terminou. Assim sendo, a primavera árabe não está tendo um grande impacto interno, embora virá a ter um amplo impacto na questão palestina mais ampla, porque cada mudança no mundo árabe gera pressão por resultados mais positivos na questão palestina.

À medida que esses regimes se tornem mais próximos e avançados em suas posições políticas vis-a-vis os palestinos, especialmente no que toca à ocupação israelense, irão crescentemente exercer pressões reais.

Socialmente, existe um impacto limitado. Na comunidade e economicamente, sentimos ultimamente que existe alguma atividade popular palestina nos protestos contra aumentos de preços e taxas.

Mas, no momento, tal movimento não chega ao nível da primavera árabe.

bitterlemons: Nestes tempos, pode-se ouvir palestinos dizendo que tudo o que está havendo nos países árabes é caos, implicando que seria melhor se a primavera árabe não tivesse ocorrido. De onde viria tal sentimento?

Harb: Na minha opinião, a primavera árabe é uma resposta naturaI a regimes politicos, sociais e econômicos que não trouxeram resultados positivos. Nasceu em condições naturais e com o tempo se desenvolveu. Não foi guiada por uma regra; houve infuências. Qualquer revolução, intifada ou movimento popular também teria seus lados negativos. Mas acredito que esta é uma ocorrência real, natural e saudável na procura de estabilidade, quando havia um único regime e uma única pessoa no controle.

Mahmoud Abbas defende na ONU o reconhecimento do Estado Palestino nas fronteiras de 1967.

Mahmoud Abbas defende na ONU o reconhecimento do Estado Palestino nas fronteiras de 1967.

Por que isto continuará por um, dois ou até três anos? Os próximos 10 anos deixarão claro se a primavera árabe criará regimes verdadeiramente democráticos com avanços em políticas econômicas e sociais que dêem ao cidadão árabe um papel e poder de decisão. É direito de cada cidadão árabe afirmar sua opinião diante de qualquer líder árabe, e todo líder árabe deve ser capaz de abrir espaço para críticas e análises. Mas esses resultados possivelmente não serão sentidos por anos. Democracia é um país monitorado pela cultura da sociedade e isto dependerá dos regimes que foram criados neste período – no Egito, na Tunísia e, em breve, no Yemen.

bitterlemons: Você vê mudanças dentro da liderança palestina, particularmente na Fatah, da qual participa?

Harb: Lamentavelmente, a liderança palestina e as facções políticas não se estão beneficiando muito da atmosfera da primavera árabe. A presença prévia da OLP e seu amplo campo de representação parece ter amenizado os efeitos agudos da primavera árabe. O regime faccional que temos aqui persiste e as facções tem impacto na vida diária da comunidade e são uma fonte de estabilidade.

Mas as facções, Fatah, Hamas e outras, precisam alcançar as mudanças que estão acontecendo na vida de cada cidadão árabe e se beneficiar do investimento nas vidas dos jovens. Esses jovens podem beneficiar-se do intercâmbio com o mundo árabe. Esta próxima geração tem mais capacidade do que as anteriores. Será mais politizada e engajada na vida econômica e social.

bitterlemons: O que você acha do encontro que acaba de acontecer entre o presidente palestino Mahmoud Abbas e Khaled Meshaal, líder do Hamas? É otimista quanto à reconciliação entre as duas facções?

Harb: Parece que o processo de reconciliação é sério. A reunião entre eles foi claramente séria. Em dias, ou horas, veremos passos concretos no terreno.

 

Yusef Harb chefia a União de Centros Juvenis da Cisjordânia.

 

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