‘E Deus endureceu o coração do Faraó’

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Seder de Pessach

Seder de Pessach

No Seder de Pessach, muitos recitam o verso “E todo que continuar contando a estória do êxodo do Egito será gratificado”. Realmente, vale a pena recontar o Êxodo, se o contador e os ouvintes puderem aprender alguma lição disto, para si próprios e para seu tempo. Por milênios, judeus que lêem a Hagadá automaticamente têm se identificado com os antigos hebreus.

 Recentemente, nos nossos tempos, a estória do Êxodo do Egito foi uma fonte de inspiração e encorajamento para muitos judeus na União Soviética. “Deixe meu povo ir” se tornou um dos slogans da histórica luta dos que eram privados do direito de deixar aquela terra, menos de uma geração atrás.

Mas a estória do Êxodo contém outro elemento, um elemento humano.

Aquela saga gira em torno de Moisés e os hebreus, de um lado, e o Faraó, seus mágicos e seu povo, do outro.

Depois de 53 anos da independência de Israel, talvez tenha chegado o tempo de explorar a estória do Êxodo da perspectiva do Faraó.

Quando lemos a narrativa do Livro do Êxodo, esta faceta da história levanta questões estimulantes. Por que dez pragas, cada uma cheia de sofrimento, foram necessárias para libertar os hebreus do cativeiro egípcio? Por que tiveram o Faraó e seus magos que experienciar a morte de seus primogênitos antes que reconhecessem os limites de seu poder e o fato de que o único meio de se livrar dos hebreus era deixá-los partir livremente?

O narrador bíblico conhece o problema. Ele o resolve de duas maneiras. Depois de sete das pragas, ficamos sabendo que “o coração do faraó foi endurecido”, ou “o coração do faraó foi enrijecido”. Depois de três novas pragas, lemos: “Deus enrijeceu o coração do faraó”. Em outras palavras, a teimosia do faraó foi às vezes espontânea, e por vezes produto da intervenção divina.

A obstinação do Faraó é descrita de duas formas – como um “endurecimento do coração” e por um “enrijecimento do coração”. Endurecimento do coração é retratado como uma atitude descompromissada. Quando o coração do Faraó endureceu, este concluiu que não era de seu interesse libertar os escravos que trabalhavam para ele.

Na realidade atual de Israel, endurecer o coração é a falta de desejo de renunciar a partes da histórica Terra de Israel – porque elas têm valor sentimental, porque elas são boas para o turismo, porque as fontes de água dependem delas, porque elas são importantes para a defesa.

Enrijecer o coração é algo diferente. É a mudança do medo para a coragem. As pragas que golpearam o Egito introduziram o medo. Apesar do proveito econômico de ter uma nação de escravos à sua disposição, um certo temor despontou nos corações dos egípcios. Quando o coração do Faraó foi enrijecido, houve uma renovação de sua coragem, um passo adiante para vencer o medo. Um coração forte é o que acredita que já passou pelo pior.

Outra questão feita por todos os comentaristas bíblicos é por que o Faraó foi punido por três decisões que ele não tomou por sua própria e livre vontade – aquelas instâncias em que o texto especificamente diz que Deus enrijeceu seu coração. Por que ele manteve a responsabilidade de recusar-se a libertar os hebreus nestes casos também? Houve ali alguma ruptura, ou possivelmente uma mais séria falha, na justiça divina?

A intervenção divina, deve ser notado, veio a cada vez que o coração do Faraó é “enrijecido”. Deus inspirou o faraó com um tipo de coragem tola. ‘Os hebreus, com Moisés à sua frente, desferiram contra o Egito alguns golpes sofridos, mas eu o Faraó, e meus magos, sei como tratar da situação’.  A intervenção divina tomou o espírito do faraó, e suas renovadas força e vigor lhe trouxeram consigo uma nova onda de apoio público.

De repente, o povo de Israel se decepciona com a inflexibilidade do governo e sua recusa a libertar os escravos e com as pragas insuportáveis. Alguns o enxergam em passeatas e demonstrações, em manifestos, em opiniões publicadas em jornais, e até em resultados de eleições locais no país.

Deus enrijece o coração do faraó com a ajuda de um governo de união nacional, formado de acordo com o desejo dos eleitores. O governo do “Egito” é revigorado e o faraó recebe um amplo respaldo para implementar sua política de subjugação continuada dos “hebreus”, acompanhada de paz, segurança e prosperidade para os cidadãos do “Egito”.

Na noite do Seder, quando recontamos a história do Êxodo do Egito, talvez possamos aprender alguma lição dela. Talvez ela nos ajude a ver que não há razão para aguardar por todas as dez pragas. Que valeria mais a pena evacuar Ariel e outros assentamentos  para aquém da Linha Verde AGORA, antes que percamos nossos primogênitos.


Elia Leibowitz, astrônomo da Universidade de Tel Aviv, é filho do saudoso Yeshaiahu Leibowitz z”L


[ publicado no Haaretz em 30|03|2001  e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]

 

Escravos Fomos no Egito – AGORA somos LIVRES ! 

 

Livres para viver livremente como judeus e brasileiros.

Livres para não oprimir outros povos.

Livres para viver como iguais entre diferentes.

 

Livres para criar uma verdadeira justiça social,

que contemple os pobres, as minorias e os fracos.

Livres para nos aproximar dos outros através do diálogo.

 

Livres para sonhar … e para fazer !

Livres para, juntos, buscarmos a

PAZ AGORA !

 

Uma Feliz Festa da Liberdade para Todos !

Chag Sameach !

 

abril de 2004

Amigos Brasileiros do PAZ AGORA

 

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