Nós já vimos os sinais em 1994

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Na semana passada, 10 anos após o atentado terrorista com o Centro Judaico AMIA em Buenos Aires, uma corte Argentina inocentou cinco réus acusados de envolvimento indireto no atentado, no qual foram mortas 85 pessoas e feridas mais de 200.

Ao soltar os cinco homens – quatro ex-oficiais da política e um ladrão de automóveis – a investigação voltou ao marco zero: nenhum suspeito e apenas acusações ventiladas por fontes oficiais na Argentina, Israel e E.U. contra o Irã, a Síria e o Hezbolah.

Edifício da AMIA - 83 mortos no atentado em Buenos AiresA Argentina tornou-se uma alegoria. o atentado de 1994, considerado a pior ataque contra judeus desde a 2ª Guerra Mundial, simbolizou dois processos que as pessoas se inclinavam para não enxergar nos idos do início dos anos ’90. Um é a crescente audácia de extremistas islâmicos e seu sucesso em realizar ataques terroristas de grande escala em capitais do mundo livre. O segundo é a forma como os judeus da diáspora se tornaram um alvo direto e primário de grupos terroristas e do anti-semitismo, o qual começou a ser chamado de “o novo antissemitismo”, aquele que persegue judeus por causa de atos cometidos por Israel.

Daquela vez, o mundo exibiu uma impressionante apatia. Os E.U. sob Bill Clinton – a superpotência nº 1, que levou o mundo para a globalização e democratização após o colapso da União Soviética, foi incapaz de entender que a falta de uma resposta ao ataque terrorista na Argentina iria trazer o terror islâmico para a sua própria porta. Israel, à época dos acordos de Oslo e do estabelecimento de relações com os países do leste europeu, o Vaticano e países árabes, inclinou-se a ignorar a tomada pelo extremismo islâmico da agenda mundial árabe.

Corte Internacional de Haia
Corte Internacional de Haia

Em sua decisão contra a cerca de separação, a Corte Internacional de Haia recusou-se a reconhecer o direito de Israel a se defender contra o terrorismo suicida, argumentando que os ataques não podem ser vistos como um atentado organizado de um Estado soberano. Apenas o juiz americano no tribunal, Thomas Buergenthal, judeu sobrevivente do Holocausto, declarou como voto vencido que não havia base para restringir a seção 51 da Carta da ONU, que legitimiza o direito a autodefesa contra um ataque armado, a ataques promovidos por um Estado soberano (os juízes da Holanda e Inglaterra, que votaram com a maioria, também expressaram suas reservas sobre a interpretação da seção 51).

A ONU continua confusa sobre definições conflitantes dos vários grupos terroristas, que freqüentemente, especialmente com referências ao terror palestino, recebem legitimação para o emprego de todos meios possíveis contras as “forças de ocupação e repressão” israelense.

A discussão sobre a definição de terrorismo e da luta contra ele é dificilmente teórica. Ela tem implicações críticas sobre o posicionamento internacional numa luta que tem todos os componentes de uma guerra mundial.

Em observações feitas à ONU após a decisão da Corte de Haia sobre a cerca, o “muro” no palavreado da ONU, o embaixador americano disse que a interpretação radical que restringe o princípio do direito à autodefesa fere a luta contra o terrorismo internacional. Baseado nesta lógica, disse, quando terroristas dirigem aviões de encontro a arranha-céus ou explodem ônibus, não é possível invocar o direito de autodefesa contra eles.

AMIA - A ESPERA DA JUSTIÇA

AMIA - A ESPERA DA JUSTIÇA

O presidente argentino Nestor Kirchner declarou antes de sua eleição em 2003 que não abandonaria a investigação do atentado terrorista ao prédio da AMIA até que os culpados fosse trazidos à justiça, e que a investigação iria incluir o Estado que estava por trás do ataque. A Argentina oficialmente acusara o Irã de ser
aquele Estado.

Após o fracasso da Argentina no ano passado em conseguir a extradição de um diplomata iraniano, suspeito de ajudar no atentado terrorista, e que estava então na Inglaterra, tornou-se clara a extensão em que a comunidade internacional, mesmo após o 11 de setembro, não estava preparada para uma luta contra a infra-estrutura estatal que apóia o terrorismo islâmico.

O erro da Argentina em 1994 persiste até hoje, acompanhado de uma cínica resposta de um mundo que ainda não internalizou o significado da ameaça terrorista. O sistema judiciário argentino se apóia na inabilidade, ou mesmo oposição, de países europeus tratarem com um Estado extremista islâmico como o Irã, que continua a promover abertamente seu programa nuclear contra as decisões dos organismos internacionais.

Estava tudo escrito em 1994, e o mundo ainda não aprendeu suas lições.

[ publicado no Haaretz e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ] 

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