O discurso racista de Netanyahu

 

 

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu criou uma nova definição para o lema “dois Estados para dois povos”.

Um povo, o povo judeu, “completamente israelense”, não é infectado pelo terrorismo e sente-se leal até os ossos ao Estado. O outro povo, os árabes israelenses –  ou mais precisamente os muçulmanos israelenses – vive em enclaves sem lei, hordas armadas e se engaja em incitações islamistas e no terrorismo.

Oficialmente, ambos os povos são cidadãos do mesmo Estado. Mas em termos de consciência – segundo Netanyahu, eles são dois povos hostis.

Netanyahu irá, certamente, vangloriar-se do fato de que o seu governo, com gerações de atraso, concordou em alocar 15 bilhões de shekels (U$3.8 bilhões) à minoria árabe, para de alguma maneira aproximá-la do espaço judeu israelense. Mas, no mesmo momento, ele repele os árabes israelenses como se fossem leprosos.

Benjamin Netanyahu no local do atentado. Tel Aviv - 02|01|2016

Benjamin Netanyahu no local do atentado. Tel Aviv, 02|01|2016

Quando o primeiro-ministro diz que “não está disposto a aceitar dois Estados de Israel, um Estado de lei para a maioria dos seus cidadãos e um outro Estado dentro do Estado para alguns deles, em enclaves nos quais a lei não se aplica e nos quais há uma incitação islamista, crimes ferozes e abundância de armas ilegais”, a questão que vem à tona é: Quem o impediu de aplicar a lei até agora? Quem o impediu de construir delegacias de polícia, educação avançada e abraçar os árabes como parte inseparável da israelidade?

Muito mais perturbador do que isto, entretanto, é a sua verborragia cheia de insultos contra a minoria árabe de Israel. “Enclaves,” “incitação islamista” e “abundância de armas”, não sugerem instâncias isoladas de crime, ou terrorismo realizado por alguns indivíduos. Todo israelense, árabe ou judeu, sabe quais e onde estão os ditos “enclaves”. Cerca de 20% da população de Israel vive neles.

Netanyahu se diz ultrajado por pessoas que culpam coletivamente os sionistas religiosos, ou rabinos ou moradores dos assentamentos —  que também podem ser considerados enclaves onde a lei israelense não é respeitada e onde existem armas em abundância.

Mas ele não vê problema em traçar linhas racistas de separação. Na sua visão, assim como “os árabes ameaçaram” conquistar as urnas na última eleição  [segundo apelos feitos por ele pela rádio e TV no curso das votações] , agora eles estariam tentando destruir o Estado pelo terror.

Em vez de se mostrarem gratos pela benevolência do governo, queixa-se Netanyahu, aqueles árabes estão mordendo a mão que os alimenta — como se fossem cães que se esqueceram do seu treinador.

Nós estamos com Tel Aviv

Nós estamos com Tel Aviv !

Parece não ser mais possível conter a fonte poluída da qual Netanyahu colhe os insultos com que enche o discurso oficial israelense. Mas é possível –  e necessário – criar um diálogo, uma alternativa ao discurso racista do primeiro-ministro.

Uma discussão que torne inequivocamente claro que ser “israelense por inteiro” é a posição natural e indisputável de cada cidadão, tanto judeu quanto árabe.

 

 

[ Editorial do  Haaretz | 04|01|2016 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]


 

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