Deixem-nos votar!

y723      

Gaza está respondendo ao plano de retirada de Ariel Sharon. O pendente plano de desligamento despertou o atual tumulto, na medida em que os chefes de milícias armadas e outros líderes da jovem-guarda competem para assegurar sua supremacia no período pós-retirada.

Eles calculam que uma vez que Israel esteja fora de Gaza, perderão sua justificativa para se armarem e manter suas milícias independentes (como as Brigadas de Mártires de Al-Aqsa), o meio mais efetivo que tem hoje para se afirmar e enfraquecer o domínio de seus rivais da velha-guarda no movimento nacional palestino. Conforme o resultado de seus esforços, terão um interesse na continuação da violência palestino-israelense após a retirada de Israel de Gaza. A solução deste luta pelo poder, portanto, tem implicações sobre todas as partes no conflito palestino-israelense.

Enquanto Israel se prespara para sair de Gaza, líderes da jovem-guarda nacionalista têm explorado o fato de que a maior parte dos leais a Yasser Arafat são corruptos e ineptos, e odiados pela população. Por Israel se estar retirando unilateralmente, os líderes da velha-guarda não mais são necessários para negociar o fim da ocupação israelense. Assin, aos olhos da nova geração, eles se tem tornando crescentemente irrelevantes. O ascendente clamor popular por reformas fundamentais e por um governo limpo tem encorajado os líderes da jovem-guarda a desafiar Arafat diretamente, e o atual confronto em Gaza representa o mais sério desafio para a liderança de Arafat desde 1983.

A maior parte das causas subjascentes para o conflito, porém, sempre estiveram presentes, Um sistema político palestino inoperante levou a sérias divisões e fragmentações dentro do campo nacionalista, a um fortalecimento do poder do Hamas e outros islamitas, e a um espectro de desintegração e perta de legitimidade da Autoridade Palestina,

PSRA intifada armada dos últimos 4 anos permitiu que jovens nacionalistas intensificassem sua luta contra um quadro que é percebido pela população como responsável por fracassos na construção do Estado e da Paz. A falta de visão de Arafat e sua incapacidade de projetar uma direção clara durantes esses difíceis anos de intifada, e a resultante paralisia política palestina, levou muitos palestinos a questionar seu bom senso e liderança. A crescente auditagem das finanças da Autoridade Palestina (AP) pela comunidade internacional, e a consequente diminuição do controle por Arafat dos recursos públicos, tornaram mais difícil para ele manter sua ascendência através do dinheiro.

A percepção pela população palestina de ampla corrupção na AP e nos serviços de segurança, tem criado mais frustração e desesperança do que nunca. Uma pesquisa realizada no mes passado pelo Centro Palestino de Pesquisa Política descobriu que 87% dos palestinos em Gaza e na Cisjordânia acreditam que existe corrupção na AP, enquanto dois treços acreditam que haja autoridades públicas que, envolvidas, ou acusadas de corrupção, frequentemente não são indiciadas ou investigadas.

A pesquisa revelou um apoio de 92% a apelos internos e externos para reformas políticas fundamentais na AP, mas apenas 40% acreditam que a AP está de fato realizando tais reformas. Talvez tão importante, a pesquisa mostra uma preocupação alarmante entre a população: 59% se preocupam com uma possível luta interna palestina após a retirada israelense de Gaza, apenas 30% acreditam que a AP tenha grande  capacidade de controlar problemas internos após a retirada e apenas 31% acreditam que a vida em Gaza irá ser retomada de maneira ordeira.

São essas condições que proporcionaram um terreno fértil para aqueles desejosos de desafiar Arafat, e que os encorajou a sair à luz. Um desafio político similar está se processando na Cisjordânia, mas num ritmo menor. A época da velha-guarda poderia estar chegando ao fim.

A atual crise provavelmente enfraquecerá o controle de Arafat e pode ser seguida por consequencias mais profundas nos próximos 18 meses, culminando em tornar apenas nominal o seu (e o da AP) controle de Gaza. O controle de Arafat ali mais possivelmente será substituído pelo dos islâmicos. Para ser capaz de ganhar e consolidar poder, chefes de milícias e outros jovens líderes terão que reforçar suas alianças com os islamitas e fazer um trato com Israel no qual Israel – qie se recusa em negociar sua retirada com a AP de Arafat – concorde com uma retirada total em troca da cessação total de violência vinda da Faixa de Gaza.

No curto prazo, Israel pode ganhar um pouco de paz e calma, mas isso não será sustentável no longo prazo. Israel, que continuará a ocupar a Cisjordânia e a Jerusalém Oriental árabe, se verá diante de um adversário bem mais forte atrás da fronteira de Gaza, e a violência irá retornar.  Enquanto isso, os islamitas provavelmente irão se tornar mais fortes e irão testar os nacionalistas quando a primeira oportunidade de apresentar. A luta interna entre os nacionalistas e os islamitas poderiam sinalizar o início de um conflito interno de longo-prazo e a ameaça de uma guerra civil. Ninguém teria nada a ganhar, todos – palestinos, israelenses, e a comunidade internacional – irão ser perdedores.

Apenas eleições nacionais AGORA, antes da retirada israelense de Gaza, podem ajudar os palestinos a evitar este resultado. Eleições poderiam ajudá-los a se livrar da velha-guarda, e assim proporcionar à jovem-guarda os meios de renuncias à luta armada sem perder poder político. Na verdade, eleições irão dar a eles a oportunidade de traduzir sua base de populaidade em poder político. As eleições também iriam enfraquecer o autoritarismo de Arafat (mesmo que ele seja reeleito), integrar os islâmitas no sistema político, e formar uma coalizão de governo entre a jovem-guarda e os independentes.

Apenas eleições podem trazer um fim à atual anarquia política, caos, ausência de lei e paralisia política. Apenas eleições podem fazer um sistema político palestino realmente confiável.

 A capacidade da comunidade internacional de influenciar as condições caóticas nas áreas palestinas hoje não é grande. Apenas ao facilitar eleições nacionais palestinas podem Israel, os E.U. e outros países contribuírem para uma estabilidade imediata, para a criação de uma Palestina democrática com uma liderança mais confiável, e para um relacionamenteo mais pacífico entre israelenses e palestinos.


O Dr. Khalil Shikaki é diretor do Palestinian Center for Policy and Survey Researchwww.pcpsr.org, instituto independente de pesquisas palestino, sediado em Ramala, Cisjordânia.

 

[ publicado no Wall Street Journal em 30/07/04 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]

Comentários estão fechados.