'Abbas vai ganhar tempo', diz jornalista palestino

Entrevista por Daniela Kresch,

Bassam EidTEL AVIV – O jornalista palestino Bassem Eid, diretor-executivo do Grupo Palestino de Monitoramento de Direitos Humanos (GPMDH), acredita que o presidente Mahmoud Abbas não vai abandonar imediatamente as negociações de paz com Israel por causa do recomeço das obras em assentamentos. Para ele, “alguma novidade está prestes a ser anunciada”.

O GLOBO: Como o presidente palestino Mahmoud Abbas vai reagir ao fim do congelamento?

BASSEM EID: Abbas vai ganhar tempo. Ele vai esperar até a próxima reunião da Liga Árabe, dia 4, no Cairo, para discutir o assunto das colônias. Depois, vai esperar de novo, até 9 de outubro, para mais um encontro da Liga Árabe, na Líbia. E vai empurrar com a barriga até as eleições para o Congresso americano, em 2 de novembro.

Por quê?

EID: Provavelmente porque quer ajudar Obama a conseguir votos. Se deixar as negociações de paz agora, pega mal para ele. Fora isso, o próprio Obama disse a Abbas e a Netanyahu que “não estaria disponível” até 2 de novembro.

E depois?

EID: Ele deve pedir aos americanos garantias. Os israelenses vão ter que se comprometer com algo que encoraje o presidente a continuar com as negociações diretas.

O fim do congelamento pode levar a uma onda de violência na Cisjordânia?

EID: Acho que nenhuma violência vai acontecer. Abbas se comprometeu de que isso não iria acontecer. Ele está tentando dar força ao movimento da não-violência na região, que pode melhorar a imagem dos palestinos junto a americanos e europeus e fazer com que eles pressionem os israelenses.

Mas houve um ataque de palestinos neste domingo contra uma colona grávida…

EID: Há extremistas nos dois lados que querem acabar com o processo de paz. Mas os dois líderes têm boa vontade para evitar violência.

Netanyahu não demonstraria boa vontade se prorrogasse o congelamento?

EID: Pode ser. A verdade é que essa negativa dele o transformou numa pessoa dúbia frente aos americanos. Se ele quisesse, poderia manter a medida. O confronto de Netanyahu, agora, é com os colonos.

[ Entrevista de Bassam Eid por Daniela Kresch – publicada n’O Globo ]

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