Price Tag = Terrorismo.

 Os  colonos  extremistas  chamam de  ‘Price  tag’ . 

Nós  sempre  o  chamamos  pelo  que é:  Terrorismo.

 

Mesquita incendiada em Tuba, Israel - 03|10|2011

Mesquita incendiada em Tuba, Israel - 03|10|2011

O  Serviço  Secreto,  o  alto  escalão  do  exército  e  o  gabinete  de  coalizão  de  Israel  agora  concordam  conosco.

 

Na  segunda-feira,  uma  mesquita  foi incendiada  numa  aldeia  árabe-israelense  na  Galiléia. Próximo a ela, estava pixada a expressão  ‘Price  tag’ [etiqueta de preço].  O  ministro  da  segurança  interna  Yitzhak  Aharonovitch  –  membro  do  partido  de  extrema  direita  Israel  Beitenu  –  disse  a  uma  rádio  israelense  que  preferia  não  usar  o  jargão  dos  perpetradores.  “Isto  é  um  ato  de  terrorismo”,  disse.

Terrorismo dos colonos cruza a Linha Verde

O  problema  é  que,  principalmente  por  negligência  na  aplicação  da  lei,  a  campanha  de  terror  que  foi  deflagrada  na  Cisjordânia,  por  mais de três  anos,  frutificou  para  um  fenômeno  muito  amplo  –  tanto  na  Cisjordânia  como dentro do  próprio  Israel.  E  se  dirige  não  apenas  a  palestinos  na  Cisjordânia,  mas  também  contra  cidadãos  árabes-israelenses,  ativistas  do  campo  da  paz  de  Israel  e  agentes  encarregados  de manter a  Lei.

O  ‘Price  tag’,  também  conhecido  entre  seus  perpetradores  como  ‘Arvut  Hadadit’  [responsabilidade  mútua],  começou  como  uma  tática  violenta,  empregada  por  jovens  colonos  militantes  na  Cisjordânia  e  outposts  ilegais  para  impedir  policiais  e  soldados  israelenses  de  remover  estruturas  construídas  ilegalmente.  A  tática  inclui  ataques  a  palestinos  e  suas  propriedades,  assim  como  ataques  às  próprias  forças  de  segurança  israelense,  para  obstruir  e  impedir  a  aplicação  da  Lei  dentro  de  assentamentos.

Evacuação de Kfar Darom - Gaza 2005

Evacuação de Kfar Darom - Gaza 2005

A  tática  nasceu  do sentimento  de  frustração  de  alguns  colonos,  após ver a  sua  liderança   incapaz  de  deter  o  desligamento  da  Faixa  de  Gaza  em  2005.  Foi  se  tornando  gradualmente  popular  –  e  muito  eficiente  –  numa  campanha  terrorista  de  baixa-intensidade  contra  os  palestinos.  Recentemente  transbordou  para  dentro  de  Israel,  começando  a  ser  vista  como  um  perigo  real  pelas  autoridades  de  segurança.  Estas  tendem  a  ser  mais  tolerantes  com  a  violência  contra  palestinos  na  Cisjordânia,  e menos  dentro  de  Israel. 

Como  muitas  vezes  acontece,  o  que  foi  tolerado  na  Cisjordânia  acabou cruxando  a  Linha  Verde.

Na  Cisjordânia,  colonos  extremistas  montaram  e  aperfeiçoaram,  por  anos,  esta  tática  terrorista  e  conseguiram  alcançar  dois  objetivos  importantes.

1. Impediram  as  autoridades  israelenses  de  fazer  valer  a  lei  e  demolir  construções  ilegais  nos  assentamentos.

2. Fizeram-no  sem  afastar  o  israelense  médio  que  vive  dentro  da  Linha  Verde  e  não  se  preocupa  muito  com  o que acontece com colonos  ou  palestinos.

A  campanha  de  ‘Price  tag’  dos  colonos  foi  um  sucesso  importante  e  uma  forma  singular  de  terrorismo  na  experiência  occidental:    violência  politicamente  motivada,  dirigida  contra  membros  civis  inocentes  de  uma  sociedade  adversária  (palestinos),  com  o  propósito  primário  de  impedir  o  seu  próprio  governo  (Israel)  de  agir  contra  sua  comunidade.

Oliveiras derrubadas

Oliveiras derrubadas

Ataques  violentos  de  colonos  contra  palestinos  na  Cisjordânia  não  são  um  fenômeno  novo.  Datam  dos  primeiros  anos  do  empreendimento  de  colonização.  E,  claro,  tampouco  são  novos  os  ataques  mortais  palestinos  contra  colonos.  O  que  aconteceu  de  novo,  quando  os  colonos  iniciaram  sua  campanha  de  ‘Price  tag’  há  cerca  de  três  anos,  foi  o  uso  de  violência  pelos  colonos  não  apenas  para  influenciar  o  comportamento  dos  palestinos,  mas  também  –  e  principalmente  –  para  pressionar  o  governo  israelense.

É  impossível  entender  as  raízes  desta  campanha  sem  examinar  o  impacto  traumático  provocado  sobre  os  colonos  pela  retirada  israelense  da  Faixa  de  Gaza  –  e  de  quatro  assentamentos  no  norte  da  Cisjordânia  –  em  agosto  de  2005.

O  “Desligamento  de  Gaza”  traumatizou  os  colonos  de  várias  formas.  A  percepção  pública  e  a  auto-percepção  dos  colonos  foi  a  de  um  tigre  de  papel.  O  despejo  dos  colonos  de  Gaza  –  cerca  de  8.500  pessoas  –  durou  oito  dias,  e  foi  realizado  frente  a  uma resistência  fraca dos  colonos.  Foi  um  anti-clímax.  A  retirada  seguiu-se  a  uma  campanha  de  protestos  de  colonos  e  simpatizantes  dentro  de  Israel  que  se  alongara  por  dez  meses,  incluindo  manifestações  de  massa  e  dois  assassinatos  de  árabes  e  israelenses-palestinos  por  terroristas  judeus.  Os  colonos  resistiram  a  serem  evacuados  de  Gaza,  mas  não  conseguiram  mobilizar  uma  campanha  de  desobediência  civil  em  massa  ou  uma  campanha  de  objeção  entre  os  soldados.

As  forças  israelenses  de  segurança  conseguiram  retirar  rapidamente  os  colonos  e  desmantelar  os  assentamentos  em  Gaza,  o  que  alarmou  profundamente  os  colonos.    Estes  ficaram  preocupados  com  que  o  precedente  estimularia  os  líderes  israelenses  a  se  retirar  da  maior  parte  –  ou  de  toda  –  Cisjordânia.    Os  colonos  fracassaram  em  capturar  corações  e  mentes  da  maioria  dos  israelenses.

Àquele  tempo,  o  desligamento  foi  popular.  Quase  dois  terços  dos  israelenses  o  apoiaram.  Dentre  os  outros,  só  uma  minoria  se  opunha,  por  razões  ideológicas,  que   fossem cedidas partes  da  Terra  de  Israel .

 

Ativistas jovens vs  liderança velha

A  batalha  contra  o  desligamento  fracassou.  A  intensa  campanha  de  relações  públicas  que  os  lideres  tradicionais  dos  colonos  realizaram  ao  longo  de  quase  um  ano,  tentando  –  nas  suas  palavras  –  “assentar-se  nos  corações”  israelenses,  usando  slogans  “positivos”  tais  como  “temos  amor  e  ele  triunfará”,  não tinha funcionado.    Ao  final  desta  ofensiva  de  sedução,  a  maior  parte  dos  israelenses  apoiou  a  decisão  do  primeiro-ministro  Ariel  Sharon  de  tirar  os  colonos  das  suas  casas.    Naquele  tempo,  a  simpatia  pelos  colonos  estava  em  baixa.

Os  ativistas  jovens  acusaram  os  líderes  tradicionais  de  criar  uma  situação  que  tornaria  muito  mais  fáceis para o governo futuras  retiradas  da  Cisjordânia .

Líderes  do  Kadima,  partido  governante  de  Ariel  Sharon,  falavam  abertamente  de  planos  futuros  para  se  retirar  unilateralmente  de  vastas  áreas  da  Cisjordânia,  evacuando  milhares  de  colonos.  Aliás,  esta  foi  a  principal  proposta  da  plataforma  do  Kadima  para  as  eleições  gerais  de  março  de  2006.  Ehud  Olmert  adotou  esta  plataforma  e  venceu.

Pouco  antes  das  eleições,  em  fevereiro  de  2006,  os  colonos  receberam  uma  oportunidade  para  mudar  o  curso.  O  governo  estava  se  preparando  para  fazer  valer  a  lei  e  desmantelar  várias  casas  no  outpost  ilegal  de  Amona,  próximo  da  cidade  palestina  de  Ramallah,  ao  norte  de  Jerusalém.  Um  outpost  ilegal  é  um  assentamento  –  geralmente  pequeno  –  construído  sem  autorização  do  governo  israelense,  violando  a  lei  do  país.

01/02/2006 - Colonos de toda Cisjordânia se unem para resistir à ordem de demolir 9 casas em Amona

01/02/2006 - Colonos de toda Cisjordânia se unem para resistir à ordem de demolir 9 casas em Amona

Embora  a  demolição  em  Amona  fosse  de  apenas  nove  casas  –  uma  pequena  fração  das  casas  esvaziadas  e  demolidas  na  Faixa  de  Gaza,  meses  antes  –  os  líderes  dos  colonos  organizaram-se  para  um  grande  confronto.  Desta  vez,  os  líderes  não  eram  da  velha  geração  –  rabinos  e  ativistas  que  haviam  estabelecido  os  assentamentos  nos  anos  ’70  e  ’80.  Eram  ativistas  jovens,  que  rejeitavam  a  reticência  de  rabinos  em  enfrentar  o  establishment  do  país.  Os  novos  líderes  recrutaram  milhares  de  ativistas,  também  conhecidos  como  ‘Hilltop  Youth’  [os  jovens  das  colinas],  que  se  chocaram  violentamente  com  forças  policiais  israelenses,  jogando  pedras,  tijolos  e  barras  de  metal.  Centenas  de  colonos  foram  feridos,  assim  como  policiais.  No  pequeno  outpost houve  muito  mais  feridos  do  que  durante  todo  o  Desligamento  de  Gaza.

A  conduta  violenta  dos  colonos  em  Amona  foi  uma  reação  direta  ao  trauma  do  evacuação  de  Gaza.  Àquele  tempo,  o então  chefe  do  Shin  Bet  [serviço  secreto  israelense] Yuval  Diskin dizia:  “a  motivação  dessas  pessoas  era  modificar  a  imagem  de  desgraça  de  Gush  Katif  [principal  bloco  de  assentamentos  em  Gaza]  e  gerar  uma  mensagem:  ‘Não  triunfaremos  através  do  amor,  mas  através  de  luta  e  guerra’”.

Price Tag - cemitério muçulmano profanado em Jaffa, Israel

Price Tag - cemitério muçulmano profanado em Jaffa, Israel

Numa  reunião  do  gabinete  em  05/02/2006,  Diskin  advertiu  os  ministros  de  que  eles  estava  presenciando  um  “processo  de  ruptura”  entre  os  colonos  e  o  Estado.  Observou  que  alguns  dos  colonos  exibiam  em  Amona  cartazes  com  frases  como  “Na  guerra  venceremos”  e  “São  judeus  os  que  constróem  e  israelenses  os  que  destróem”.

Inicialmente,  os  colonos  e  apoiadores  perceberam  a  experiência  de  Amona  como  um  desastre.  Saíram  de  lá  sangrando  –  fisica  e  simbolicamente.  A  resistência  violenta  não  evitou  a  demolição  das  casas  construídas  ilegalmente  em  Amona,  enfrentamentos  violentos  contra  policiais  israelenses.  E  os  afastou  ainda  mais  da  população  israelense.

Mas,  com  o  tempo,  a  percepção  de  Amona  como  derrota  foi  transformada.  Mais  de  um  ano  após  a  batalha,  o  deputado  Uri  Ariel,  um  dos  líderes  dos  colonos  ideológicos,  publicou  um  artigo  no  diário  nacional-religioso  Hatsofê  intitulado  “Uma  derrota  que  é  só  triunfo”.

Colonos Armados

Colonos Armados

A  principal  razão  para  aquele  “triunfo”  era  que  os  colonos  alcançaram  um  objetivo  fundamental:  Dissuadiram  o  governo  de  Israel  –  por  mais  de  um  ano  –  de  realizar  mais  demolições  de  outpost  ilegais.  O  governo  sabia  que  qualquer  nova  implementação  de  ordens  de  demolição  iria  causar  mais  derramamento  de  sangue.  Inquéritos  policiais  internos  e  investigações  mostraram  que  boa  parte  do  sangue  derramado  foi  resultado  do  uso  excessivo  de  força  pela  policia  e  exército.

Em  seu  artigo,  o  deputado  Ariel  escreveu:  “O  fato  de  que  desde  Amona  nem  um  único  outpost  tenha  sido  desmantelado…  deriva  diretamente  do  fato  de  a  forma  da  luta  em  Amona  ter  apresentado  aos  soldados  e  policiais  um  preço  [price-tag]  intolerável.  A  experiência  ‘dissuadiu  o  establishment  de  segurança’.  Ariel  exortou  a  se  “alavancar  os  eventos  de  Amona”,  para  evitar  que  se  repetissem.

Foi  exatamente  isso  que  a  Hilltop  Youth  fez.  Usaram  as  lições  de  Amona  para  desenvolver  sua  campanha  de  dissuasão.

Como  resultado,  nos  últimos  4  a  5  anos,  sempre  que  policiais  ou  soldados  israelenses  chegam  a  um  assentamento  ou  outpost  para  executar  mandados  de  demolição,  jovens  ativistas  de  vários  assentamentos  se  reúnem  para  resistir.  Se  casas  são  demolidas,  colonos  se  vingam  atacando  propriedades  palestinas  ou  interrompendo  o  tráfego.

Cerca  de  um  ano  após  os  eventos  de  Amona,  quando  o  governo  Olmert  lançou  uma  iniciativa  seletiva  e  tímida  para  demolir  estruturas  ilegais,  a  Hilltop  Youth  e  outros  líderes  colonos  organizaram  esforços  para  resistir.  Chamaram-nos  de  “Responsabilidade  Mútua”  [Arvut  Hadadit  –  termo  hebraico  que  representa  o  valor  judaico  de  se  cuidar  um  ao  outro  dentro  da  comunidade].

A  idéia  era  prosaica,  conforme  um  dos  líderes  da  Hilltop  Youth.  Numa  entrevista  anônima  em  maio  de  2011  ao  jornal  israelense  Yedioth  Ahronoth,  esse  líder  explicou  que  algumas  das  famílias  cujas  casas  tinham  sido  demolidas  estavam  ausentes  no  momento  da  demolição  e  não  puderam  resistir.  “Uma  noite,  cerca  de  três  anos  atrás,  algumas  pessoas  reuniram-se  num  pequeno  assentamento  na  Samária  [denominação  dos  colonos  para  o  norte  da  Cisjordânia]  à  procura  de  uma  solução.  O  EDI  [Exército  de  Defesa  de  Israel]  demoliria  outposts  sem  reação,  porque  as  pessoas  simplesmente  não  eram  capazes  de  chegar  (aos  locais  destinados  a  evacuação)”,  explicou.  Para  essas  pessoas,  que  não  tinham  o  privilégio  de  se  opor  à  demolição,  o  conceito  de  “Responsabilidade  Mútua”  nasceu  naquela  noite.  Mais  tarde,  a  mídia  decidiu  chamá-lo  de  Price  tag  [etiqueta  de  preço].

Naquele  tempo,  a  resistência  dos  colonos  era  dirigida  principalmente  contra  soldados  e  policiais  israelenses  que  vinham  executar  ordens  de  demolição.  Yitzhak  Shadmi,  diretor  do  Conselho  de  Colonos  da  Samária  –  guarda-chuva  que  representa  os  colonos  do  norte  da  Cisjordânia  –  colocou  assim  numa  entrevista  em  junho  de  2008:  “Desmantelar, para nós,  é  um  crime.  E  um  crime  deve  ser  evitado”.  Com  referência  aos  líderes  tradicionais  dos  colonos  que  advogavam  evitar  um  confronto  com  o  governo  e  as  forças  de  segurança,  ele  disse:  “Quem  não  evitar,  é  um  cúmplice.  É  simples  lógica…    Durante  a  luta,  eles  [os  líderes  tradicionais]  decidiram  que  era  inadequado  derrotar  o  Estado  e  o  exército.  Nós pensamos  que  quando  o  EDI  dá  ordens  inadequadas,  ele  deve  ser  derrotado”.   Perguntado  sobre  planos  futuros,  disse:  “conduziremos  uma  luta  áspera  e  penetrante,  e  não  necessariamente  na  arena  que  estão  prevendo.  A  arena  será  [determinada]  conforme  a  nossa  consideração”.

Colonos atacam pacifistas israelenses

Colonos atacam pacifistas israelenses

Os  colonos  sempre  foram  sensíveis  às  críticas  da  população  israelense.  Quando  tais  críticas  se  avolumaram,  conhecendo  a  baixa  tolerância  dos  israelenses  a  ataques  contra  o  EDI  –  o  exército  do  povo  –  os  colonos  redirigiram  a  maior  parte  dos  seus  ataques  contra  palestinos  e  suas  propriedades.

O  Escritório  da  ONU  para  Coordenação  de  Assuntos  Humanitários  (OCHA)  na  Cisjordânia  documentou  um  total  de  1.451  ataques  de  colonos  contra  palestinos  e  suas  propriedades  desde  janeiro  de  2006:  Ataques  físicos,  a  veículos,  casas,  escolas  e  mesquitas,  arrancamento  de  árvores,  incêndio  de  campos,  etc…    Muitos  desses  atentados  –  talvez  a  maioria  –  foram  parte  do  Price  tag.

Os  dados  mostram  um  forte  aumento  desde  que  o  primeiro-ministro  Netanyahu  anunciou,  em  outubro  de  2009,  a  intenção  de  impor  uma  moratória  de  10  meses  à  construção  de  assentamentos  (o  gabinete  israelense  aprovou  a  decisão  em  novembro  de  2009).

Quando  as  tentativas  de  demolição  do  governo  se  intensificaram,  os  ataques  tipo  Price  tag  também  cresceram.  Os  dados  a  seguir,  documentando  o  número  de  ataques  de  colonos  contra  palestinos  e  suas  propriedades,  foram  especialmente  agregados  pelo  OCHA  em  20/07/2011.

2006: 162 | 2007: 149 |  2008: 271 |  2009: 216  |  2010: 417  e

2011    236  (janeiro  a  junho)

 

Métodos  e impunidade 

Na  maior  parte  dos  casos,  eles  envolvem  vandalismo,  danos  a  propriedade  e  geralmente  pequenos  ferimentos  em  palestinos. Os  perpetradores  dos  atentados  Price  tag  têm  sido  cuidadosos  em  manter  um  nível  relativamente  baixo  de  violência,  se  bem  que  disseminado.

Há  varias  razões  para  o  Price  tag  ter  uma  forma  de  terrorismo  de  baixa  intensidade:  manter  um  nível  alto  de  apoio  popular  em  Israel.  Violência  extrema  pode  afastar  a  população  israelense.  A  violência  de  baixa-intensidade  cria  um    certa  “zona  de  conforto”  para  israelenses,  que  muitas  vezes  vêem  tal  violência  como  forma  legítima  de  protesto.

O  distrito  policial  de  ‘Judéia  e  Samária’,  responsável  para  manutenção  da  lei  nos  assentamentos  é  sub-dimensionado  e  mal  equipado.  Ele  não  tem  recursos  para  investigar  crimes  como  vandalismo.  A  maior  parte  dos  incidentes  de  Price  tag  não  termina  em  indiciamentos.  Por  exemplo,  em  2008,  105  indiciamentos  foram  registrados  contra  civis  israelenses  por  atacar  palestinos  e  suas  propriedades.  Em  2007  foram  61,    conforme  reportagem  do  Yedioth  Ahronoth.

 

Abrindo  espaço  para  uma  escalada

O  impacto  que  os  colonos  esperam  conseguir  com  a  campanha  de  Price  tag,  é  melhor  atingido  numa  escala  gradual.  O  uso  limitado  de  força  em  baixa-escala  para  vingar  demolições  de  casas  implica  no  uso  potencial  de  maior  força  como  retaliação  de  ações  maiores.

As  autoridades  de  segurança  israelenses  estimam  que  vários  milhares  de  ativistas  jovens  participam  dos  ataques.  Ativistas  jovens  comunicam-se  por  mensagens  de  texto  em  seus  celulares.  Normalmente,  os  ataques  ocorrem  em  retaliação  a  demolição  de  estruturas  ilegais  em  assentamentos  ou  outposts,  ou  para  evitá-las.

Assassinato de família no assentamento de Itamar por terrorista palestino alimentou extremismo de colonos.

Assassinato de família no assentamento de Itamar por terrorista palestino alimentou extremismo de colonos.

Em  alguns  casos,  ondas  de  ataques  contra  palestinos  vêm  em  resposta  a  acontecimentos  políticos.  Como  em  novembro  de  2009,  após  a  decisão  de  congelar  a  construção  em  assentamentos.    Em  outros  casos,  como  vingança  a  ataques  terroristas  palestinos  contra  colonos  –  por  exemplo,  a  onda  que  se  seguiu  ao  assassinato  de  cinco  membros  de  uma  família  no  assentamento  de  Itamar,  perto  de  Nablus,  em  março  de  2011.  Aquele  mês  bateu  um  recorde,  com  81  ataques  Price  tag,  segundo  dados  da  OCHA.

Uma  pesquisa  de  opinião  publicada  em  28/03/2011  –  quando  os  ataques  Price  tag  dispararam  e  o  público  israelense  ainda  estava  sob  efeito  do  atentado  em  Itamar  –  mostrou  que  quase  metade  da  população  israelense  (46%)  apoiava  a  tática  do  Price  tag.

Enquanto  48%  achavam  os  ataques  Price  tag  injustificáveis,  22%  os  aceitavam  como  “perfeitamente  justificáveis”  e  23%  os  definia  como  “justificáveis”;

A  maioria  dos  judeus  seculares  israelenses  se  opunha  às  atividades  de  Price  tag    (36%  a  favor  e  57%  contra).  Mas  a  maior  parte  dos  judeus  mais  tradicionais,  nacional-religiosos  e  ultraortodoxos  consideravam  tais  ações  justificadas  (55%,  70%  e  71%,  respectivamente).

Em  outras  palavras,  entre  os  colonos  ideológicos  –  nacional-religiosos  e  ultraortodoxos    –  uma  sólida  maioria  expressava  apoio  à  tática.  Mas,  mesmo  entre  os  judeus  seculares,  mais  de  um  terço  mostrou  apoio.

É  muito  provável  que  o  momento  da  pesquisa  tenha  influenciado  as  respostas.  Os  israelenses  ainda  estavam  sob  a  influência  do  horror  sofrido  pela  família,  incluindo  crianças  pequenas  em  seus  leitos  na  noite  de  Shabat.  Mas,  mesmo  levando  em  conta  o  impacto  do  massacre,  um  apoio  tão  significativo  a  ações  violentas  contra  civis  palestinos  inocentes  significa  que  os  colonos  conquistaram  um  objetivo  importante.  Evitaram  o  afastamento  de  um  segmento  muito  grande  do  público  israelense  e  galvanizaram  apoio  considerável  entre  os  próprios  colonos.

establishment  israelense  de  segurança  lidou  por  anos  com  o  desafio  de  dissuadir  o  terrorismo  palestino,  com  sucesso.    Também  firmou  o  princípio  de  não  permitir  aos  terroristas  palestinos  o  uso  da  ameaça  de  terror  para  frustrar  ou  reduzir  a  liberdade  de  ação  política  de  Israel.  Em  outras  palavras,  sempre  trabalhou  para  impedir  os  terroristas  de  conseguir  um  “balanço  de  dissuasão”.

Netanyahu é parceiro dos radicais

Netanyahu é parceiro dos radicais

A  tática  de  Price  tag  dos  colonos  teve  sucesso  onde  o  terrorismo  palestino  fracassou.  Influenciou  as  decisões  de  curto-prazo  do  establishment  israelense  de  política  e  segurança  e  seus  cálculos  de  longo-prazo.

No  curto-prazo,  impediu  as  autoridades  legais  de  Israel  de  honrar  seus  compromissos  internacionais,  de  impor  a  lei  e  de  demolir  estruturas  construídas  violação  a  lei  israelense.

A  longo-prazo,  a  campanha  de  Price  tag  serve  os  colonos  na  construção  de  um  poder  de  dissuasão  cumulativo.  Impedem  os  líderes  e  a  população  israelense  de  agir  para  chegar  a  um  acordo  israelense-palestino  que  demande  remover  em  massa  colonos  da  Cisjordânia,  ao  semear  entre  israelenses  e  o  governo  os  temores  de  uma  escalada.  Muitos  israelenses,  incluindo  altas  autoridades,  expressam  freqüentemente  algo  como:  ‘Se  a  remoção  de  um  punhado  de  casas  de  um  outpost  ilegal  põe  os  colonos  num  alvoroço  tão  incontrolável,  imagine  o  que  aconteceria  se  o  governo  assinasse  um  acordo  comprometendo-se  a  remover  dezenas  de  milhares  de  colonos  de  vários  assentamentos.

Em  novembro  de  2008,  seguindo-se  a  uma  onda  de  ataques  de  colonos  contra  palestinos,  o  chefe  do  serviço  secreto,  o  Shin  Bet,  comunicou  novamente  o  gabinete  israelense  sobre  a  radicalização  entre  jovens  colonos  da  Cisjordânia.  Conforme  o  jornalista  Alex  Fishman,  o  chefe  do  Shin  Bet  Yuval  Diskin  teria  dito  ao  gabinete:

Moradia de ativista do PAZ AGORA pixada com ameaças

Moradia de ativista do PAZ AGORA pixada com ameaças

“Se  você  não  pretender  exercer  a  autoridade  governamental  e  aplicar  a  lei  sem  piscar,  não  mexa  com  eles,  porque  irá  apenas  acender  fogueiras  desnecessarias.  Se  não  pretende  seriamente  removê-los,  estará  impotente  para  lidar  com  o  vandalismo  deles  contra  os  palestinos.  Não  faça  o  jogo  deles.  Eles  são  sérios.  Ainda  irão  atirar  na  polícia,  em  soldados,  em  líderes  politicos”.

Assim,  Diskin  capturou  o  impacto  da  vitoriosa  campanha  de  intimidação  dos  colonos.  O  governo  israelense  entendeu  a  mensagem  e  agiu  de  acordo.  Embora  tenha  continuado,  nos  últimos  três  anos,  a  evacuar  ou  demolir  estruturas  construídas  ilegalmente  em  assentamentos  e  outposts,  ele  o  fez  muito  pouco  e  seletivamente.  Não  foi  demolido  nenhum  dos  100  outposts  que  pipocaram  pela  Cisjordânia  na  última  década  e  não  puniu  decisivamente  nenhum  dos  perpetradores  do  Price  tag.  Assim,  não  reverteu  suas  conquistas  de  dissuasão,  nem  preparou  o  terreno  para  remover  outposts  ilegais  no  futuro.  E  certamente  não  criou  um  ambiente  necessário  para  remoção  de  assentamentos  no  contexto  de  um  futuro  acordo  de  paz.

Price  tag  foi,  até  agora,  uma  história  de  sucesso.  É  o  sucesso  de  uma  tática  criminosa  e  terrorista  voltada  para  perpetuar  a  construção  ilegal  e  o  roubo  de  terras.  As  ações  de  Price  tag  limitam  a  manobrabilidade  política  dos  governos  israelenses  futuros,  caso  estes  venham  a  buscar  um  acordo  de  paz  com  os  palestinos.

ISRAEL QUER PAZ

ISRAEL QUER PAZ

Agora  que a  campanha  terrorista  cruzou  a  Linha  Verde  e  está  ameaçando  acender  uma  guerra  civil  étnica no  norte  de  Israel,  o  governo  deve  finalmente  acordar  para  o  perigo  que  esse  terrorismo  representa,  e  agir  com  firmeza  para  destruir  e  extirpar  essa  campanha  de  Price  tag. Pela estabilidade  e  a  paz  interna  do país  e  para  pavimentar  o  caminho  para  um  futuro  acordo  de  paz  israelense-palestino.

 

Ori Nir é portavoz da APN –  Americans for Peace Now www.peacenow.org

[ publicado pela APN dm 04/10/2011 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]

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