Objetivo é democratização

 

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06|02|2012

As Revoluções Árabes e a Paz Israel-Palestina

 

UMA VISÃO PALESTINA
Objetivo é democratização
Ghassan Khatib

 

O relacionamento entre as atuais revoltas e revoluções no mundo árabe e o processo de paz palestino-israelense é uma mistura enrolada de causa e efeito. Enquanto israelenses tendem a argumentar que os acontecimentos recentes no mundo árabe justificam a estagnação do processo de paz (porque as revoluções árabes “provam” a instabilidade constante na vizinhança, inconstância árabe ou radicalização ameaçadora), árabes e palestinos pensam que um dos fatores que contribuem para alimentar as revoluções é a frustração com as décadas de ocupação israelense e o fracasso do processo de paz.

Francamente, a resposta de Israel aos eventos no mundo árabe é difícil de entender. A tendência mais óbvia nesses acontecimentos é o esforço de substituir regimes não democráticos por outros que tenham o apoio da população. Um dos resultados mais imediatos foi e será eleições livres e democráticas. Na Tunísia e no Egito, as eleições foram acompanhadas por transformações rumo à democratização e liderança transparente. Israel, que gosta de se retratar como “a única democracia na região”, deveria comemorar as novas matrículas para este clube.

Da mesma forma, o temor de Israel pelo crescimento dos islamistas é difícil de engolir, quando tudo sinaliza que a democracia em Israel está levando o país para o extremismo religioso de direita. Seria útil aqui recordarmos que os partidos que tomaram a maior parte da Europa após a segunda guerra mundial foram definidos por um ethos cristão de direita, e a maioria dos partidos que assumiram o poder após a transformação da Europa Central e Oriental também eram religiosos. Todos precisamos apoiar essas revoluções árabes no difícil processo de construir uma estrutura para a democracia e instituições que permitam uma transferência de poder suave e ordeira.

Os temores de Israel são exageradamente dramáticos. A melhor forma de entender o efeito da primavera árabe sobre o conflito e sobre Israel é que os acordos de paz que foram alcançados entre Israel e alguns regimes árabes, especialmente o Egito, não foram nem um pouco populares. Eles foram possíveis, quando assinados, principalmente por que não existia democracia funcionando naqueles países.

 

Isto não significa, por outro lado, que a maioria dos árabes não tenham interesse na paz com com Israel. Ao contrário, o público árabe que recentemente encontrou sua voz não se contenta com arranjos pacíficos que negligenciem a ocupação israelense dos territórios palestinos. Assim, os novos regimes árabes tentarão manter seus compromissos de paz com Israel, mas vinculando isto à necessidade de alcançar uma solução pacífica que acabe com a injustiça da ocupação.

Um efeito positivo da primavera árabe e do crescente fortalecimento dos partidos islâmicos é sua influência sobre as posições e o comportamento do Hamas. Alguns líderes do Hamas, incluindo o chefe do movimento, têm dito que foram inspirados pela natureza pacífica da exitosa revolução tunisiana. Seu exemplo influenciou Khaled Meshaal a se mover para admitir uma luta não-violenta como alternativa à tatica de resistência armada.

Concluindo, a primavera árabe terá um impacto positivo nas perspectivas para um acordo justo e pacífico entre Israel e os palestinos, na medida em que leve à democratização do mundo árabe.

Ghassan Khatib

Ghassan Khatib

 

Ghassan Khatib é coeditor da família bitterlemons de publicações via internet e diretor do ‘Government Media Center’ da Autoridade Palestina, onde ocupou vários ministérios. Este artigo representa suas idéias pessoais. 

 

 

 

 

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