Voto árabe em Israel – participar ou se abster?

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Pesquisas de opinião publicadas durante o mês passado mostram uma crescente inclinação por parte da minoria árabe-palestina em Israel a se abster de votar, numa extensão maior que no passado. Esse é um novo fenômeno, pois ao longo das três décadas passadas houve um gradual crescimento na percentagem de votantes árabes. A explicação está numa revisão dos fatores que determinaram o nível de participação nas eleições e a natureza dos votos entre a minoria árabe.

As'ad Ghanem - Palestinian Politics after Arafat

As'ad Ghanem - Política Palestina Após Arafat

Adiantando uma boa solução para o conflito: Através dos anos, a minoria palestina em Israel, como parte do povo palestino, adotou a linha da OLP com relação à solução do problema palestino. A população palestina em Israel apóia o princípio de um Estado Palestino na Cisjordânia e Gaza, ao lado de Israel, apóia a remoção de assentamentos, a divisão de Jerusalém, o retorno dos refugiados palestinos à sua terra natal, etc.. Por anos apoiou forças e partidos políticos que desejavam avançar para uma solução através de negociações com a OLP. Este apoio encontrava expressão em direcionamento de votos ou apoio para a coalizão governante pelos partidos árabes.

O fracasso de dois governos trabalhistas, durante a última década, em trazer uma conclusão ao conflito, traz o questionamento da viabilidade de uma solução e a extensão do compromisso do Avodá com um resultado justo, com isso reduzindo a percentagem dos palestinos em Israel que estão prontos a se empenhar para o sucesso de um governo de esquerda.

Envolvimento de forças externas: Em consequência ao primeiro fator, a liderança da OLP sobre os palestinos se tornou crescentemente envolvida no curso das últimas duas décadas na determinação da natureza do voto árabe. Ela apoiou uma grande mudança no eleitorado árabe, mesmo encorajando o voto no campo pacifistam, transferindo fundos para alguns dos partidos árabes. e pressionou pela formação de uma coalizão de forma a evitar a perda de votos árabes. O declínio do status de Yasser Arafat nos últimos dois anos, e a ausência da esperança em uma solução imediata enfraqueceram tanto o envolvimento da liderança palestina como a a repercussão sobre a população árabe em Israel dos apelos ou indicações vindas da OLP.

Surpreendentemente, nas últimas duas semanas, o canal de TV libanês pró-Síria Al-Mustakbal  tem feito apelos à população árabe de Israel para não votar. Este estranho apelo provavelmente não será seguido, particularmente em vista do fato transparente de que o regime sírio (que é detestado pelos palestinos em geral, e particularmente pela minoria palestina em Israel, em função de sua longa história de hostilidade ao movimento de libertação palestino) e seus funcionários no Líbano, incluindo seus órgãos de inteligência, envolvidos como parte de um esforço de apoio a candidatos próximo àquele regime.

Dissenso dentro do cenário político árabe: A característica mais proeminente do alinhamento político-partidário árabe em Israel é a desunião. De fato, estamos discutindo um sistema que aperfeiçoou um dissenso interno a um ponto em que cada membro árabe do Knesset tem seu próprio partido político e explora seu mandato sem qualquer conexão com o humor e as preferências da população, mas apenas de acordo com seus próprios caprichos. A vasta maioria da população árabe apóia a unidade, e está frustrada com este nível de cisão e o prejuízo causado aos seus objetivos, e certamente não deseja apoiar os instigadores do dissenso.

Falta de influência dos membros árabes do Knesset: Após as eleições, os parlamentares árabes tem regularmente adotado a posição de “oposição permanente”. Historicamente nunca tiveram a opção de se tornar parceiros do corpo tomador de dicisões no Estado de Israel. Há duas explicações para este fenômeno: um, estratégico, nega o envolvimento de “não judeus” nos escalões mais altos do estado judeu; o outro, tático, atribui importância às inclinações da população judaica a se opor ao envolvimento de árabes , ou ameaça punir na urna qualquer primeiro-ministro que proponha incluir partidos políticos árabes no governo. Esse estado de coisas está começando a fortalecer a visão de que não há diferenças entre enviar representantes ao Knesset ou se abster de votar.

Natureza do regime israelense: Alguns daqueles que boicotam eleições em Israel argumentam que a participação árabe nas votações tem, de fato, facilitado o conceito de que Israel tem um “regime democrático”. Na visão deles, o regime israelense é não-democrático, e serve os judeus, à expensa de árabes.

Desempenho da liderança árabe: O voto árabe e sua seleção de membros do Knesset tem esvaziado a ilusão de haver uma liderança coletiva árabe em Israel que efetivamente cuide dos problemas da população. Esse argumento não tem base na realidade. A liderança árabe sobre de uma grande falta de unidade. É incapaz de manter um efetivo fórum conjunto de lideranças, é personalista ao extremo, carece de ligações com as bases e é incapaz de mobilizar a população para atos de protesto ou ações políticas significativas (com a exceção do movimento islâmico). O estado de coisas dentro da liderana árabe israelense é mais um fator que estimula a abstenção, e certamento não contribui na mobilizaçãopara o sucesso das liestas eleitorais árabes.

Tomados em conjunto, esses fatores dão uma boa explicação do voto árabe e suas divisões. Eles certamente explicar o novo fenômeno de abandonar a política, adotando uma posição de abstenção nas eleições, e abandonando a política parlamentar em favor do estabelcimento de corpos políticos árabes alternativos externos à estrutura de poder na qual o Knesset cumpre um papel central.


Sikkui

Sikkui

As’ad Ghanem é co-diretor do Sikkui, Associação para o Avanço das Oportunidades Civis Iguais (The Association for the Advancement of Civic Equality in Israel), e professor de Ciência Política na Universidade de Haifa.

[Original em inglês publicado em  20|01|2003 pelo (c)bitterlemons.org., como parte de uma matéria sobre o voto árabe nas próximas eleições israelenses que inclui ainda os seguintes artigos (visite o www.bitterlemons.org);

“Direitos Iguais e o Estado Judeu” – por Ghassan Khatib (Ministro do Trabalho da Autoridade Palestina): Parece que os palestinos em Israel estão perdendo sua legitimidade aos olhos da maioria judaica…

“Um provável recuo nas relações entre judeus e árabes –  por Yossi Alpher (Ex-diretor do Centro Jaffee Center de Estudos Estratégicos, de Israel) : Mesmo que os árabes israelenses continem a votar de acordo com os padrões “tradicionais”, estas eleições representam um crescente sinal de alarme…

“Um Estado para Todos Seus Cidadãos ?”  – por Azem Bishara (advogado e ativista político, ex-representante da União de Estudantes Árabes na Universidade Hebraica): Sempre que um parlamentar árabe no Knesset vence, o faz à despeito da posição da maioria judaica, especialmente da direita…

 

[ traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]

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