Shoá – Lembrança – Renascença

Semana da Morte / Semana da Lembrança

Algumas das implicações de crescer no Estado de Israel são viver a cada ano dias inteiramente dedicados à morte. Se você não sabe, comece pelo Dia do Holocausto, vá ao Dia da Recordação (Iom Hazicarón) e termine no Dia da Independência.

Ao menos quando criança, eu não tomava esses rituais e esses dias tão seriamente. Era um menino bem mais interessado em PlayStation do que num adesivo do “Sangue dos Macabeus”.

Mas, à medida que você amadurece, o ambiente em que vive te fisga. Transforma uma falta de entendimento em ideologia e a ideologia em ação. Foi assim que me tornei um jovem ativista de um movimento juvenil, cheio de motivação para recrutar e cheio de sentimentos patrióticos pelo Estado.

Ainda hoje, tenho um forte sentimento de amor pelo Estado de Israel, seja resultado da propaganda sionista ou não, sou um prisioneiro visionário. Mas hoje, posso olhar criticamente e me perguntar algumas questões realmente difíceis, formatar a realidade e não ser simplesmente influenciado por ela.

Que nossa gente perdeu suas vidas por serem judeus ou por defenderem o ideal sionista.

A memória coletiva tem muitos problemas, é muito inclusiva, ressalta algumas coisas e omite outras, focaliza em quantidades e não em qualidade. E assim perde seu conteúdo original – o ódio do outro é mau, morte é má, a vitória não é tudo, a importância da compaixão. O discurso coletivo é parte do rim da máquina de propaganda em Israel.

Lamentavelmente, na minha curta vida, a memória pessoal também foi adicionada à memória coletiva. A memória pessoal é importante porque tem mais conteúdo e profundidade, e a identificação é absoluta mas a História tem mais degraus e camadas para você entende-la melhor.  A memória pessoal me permite ver a pessoa como pessoa e não sob o rótulo de judeu, sionista, árabe ou chines. A história pessoal é mais dolorosa, mas permite melhor entendimento da identidade com o dia sem sacrificá-lo sem pensar.

Assim escrevo, em memória do meu avô, David Zbanovich, que faleceu há um ano. Perdeu sua mãe e sua irmã em Treblinka [campo de extermínio na Polônia], sobreviveu três anos num poço escondido dos nazistas, atravessou o inferno tentando emigrar para Israel e finalmente conseguiu [com a ajuda do Shomer Hatzair]. No momento em que deixou o navio, foi alistado no exército israelense e lutou na Guerra da Independência, sem falar hebraico.

E, finalmente, construiu uma família e construiu uma casa em Israel.

É graças a ele que eu escrevo este texto e agora, no início da Semana da Recordação, quando penso nisso, entendo um pouco melhor o significado da memória e como ela dá forma às nossas vidas.

NÃO ESQUECER!

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