MIRAGENS DE PAZ

MIRAGENS DE PAZ

Tenho sido questionado por que uma organização judaica pacifista pró-Israel, como a minha, não está celebrando entusiasticamente a assinatura de um acordo de paz entre Israel e dois países árabes importantes.

Nós saudamos o acordo que Israel está assinando aqui, nesta terça-feira, com os Emirados Árabes Unidos e o Bahrain. A tendência de normalização das relações de Israel com Estados árabes é certamente uma evolução positiva.

Mas isto não está acontecendo num vácuo. Acontece num período em que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu está sob indiciamentos múltiplos por corrupção e suborno, enquanto dezenas de milhares de israelenses estão se reunindo em manifestações de protesto em toda nação, exigindo sua remoção do cargo. E, mais importante, está acontecendo num tempo em que seu governo continua a aprofundar a Ocupação, minando até a esperança por uma Solução de Dois Estados.

A normalização com a UEA e o Bahrain é ótima para os grandes capitalistas que irão dela se beneficiar , mas não faz nada para remediar o problema existencial de Israel: seu conflito com os palestinos e a Ocupação que faz tanto estrago.

Tenho certeza que a cerimônia na Casa Branca proporcionará um belo palco para fotos, mas não estou ansioso por participar de festividades que visam ser uma cortina de fumaça para encobrir a ameaça verdadeira à segurança nacional de Israel, celebrando um “tratado de paz” com países que nunca estiveram em guerra com Israel, enquanto Israel fracassa em conter até a ameaça imediata da pandemia do COVID-19.

É difícil celebrar quando a Ocupação continua e se aprofunda. Enquanto Netanyahu e seus assessores discutem normalização com seus interlocutores dos Emirados, também estão avançando planos para construir um assentamento na área estratégiga da Cisjordânia conhecida como E-1, o corredor entre Jerusalém e o Vale do Jordão. Enquanto negociam com Dubai e Abu Dhabi, autoridades israelenses estão propelindo projetos para um assentamento em Givat Hamatós na fronteira sul de Jerusalém. Estes assentamentos golpeiam no coração qualquer plano que vise um Estado Palestino contíguo e viável.

Embora os EAU concordem em normalizar relações, apenas se Netanyahu comprometer-se a suspender os preparativos para anexação da Cisjordânia, tanto o  primeiro ministro quanto o primeiro ministro alternativo, Benny Gantz , dizem que estão comprometidos a anexar formalmente grandes partes da Cisjordânia no futuro.

Será agradável ter rotas aéreas mais curtas. Mas é difícil encontrar razões para celebrar enquanto as autoridade israelenses de Ocupação aceleram suas demolições de casas palestinas na ´Área C’  da Cisjordânia e na Jerusalém Oriental. Tais casas são construídas sem permissão das autoridades israelenses, porque estas nunca emitem permissões para palestinos .

Nos primeiros oito meses de 2020, Israel demoliu quase 500 estruturas. Na última 6ª feira, o Haaretz reportou uma nova iniciativa do governo israelense para intensificar as demolições de casas de palestinos na ‘Area C’.

Demolições na Cisjordânia e Jerusalém Oriental deslocaram mais de 5.000 palestinos nos últimos cinco anos. São ações cruéis e desnecessárias. Não fazem nada além de semear ressentimentos e ódio e afastar as perspectivas de paz.

A normalização com o mundo árabe é benvinda, mas não como uma ferramenta para normalizar a Ocupação e o conflito com os palestinos. Ela pode e deve ser usada para pavimentar o caminho para uma solução para o fim do conflito.

Enquanto adoraríamos saborear este momento e regozijar-nos com a formalização de relações entre Israel e os EAU, e Israel e Bahrain, nós lamentamos o impacto do conflito não resolvido, de Israel com os palestinos. Francamente, vemos pouca razão para celebrar.

Gostaríamos muito de mobilizar o atual entusiasmo que os norte-americanos tem pela paz na região, trabalhando para uma iniciativa diplomática que traga não apenas “normalização” mas uma paz genuína entre Israel e todos seus vizinhos.

Tal esforço deve incluir, e não substituir, um acordo com os palestinos e o fim da Ocupação.

[ por Hadar Susskind | presidente da APN – Americans for Peace Now –  www.peacenow.org | publicado pela JTA em 15|09|20]

[ tradução e endosso dos Amigos Brasileiros do PAZ AGORAwww.pazagora.org ]

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