A Mulher na Pandemia em Israel

É DIFÍCIL SER MULHER EM ISRAEL, AINDA MAIS NA PANDEMIA

Alberto Mazor

Os impactos das crises nunca são neutros quanto ao gênero, reconheceu a ONU, e a última provocada pelo coronavírus não seria a exceção. É a triste realidade que desenha a organização, um ano depois que a pandemia sacudiu e atacou Israel e o mundo inteiro.

Suas consequências sociais e econômicas já visibilizam uma brecha ainda maior entre homens e mulheres e ameaçam apagar algumas das conquistas alcançadas em matéria de igualdade. Tudo por que se trabalhou nos últimos 25 anos, poderia se perder em apenas um.

São elas que costumam optar por salário mais baixos, poupando menos; têm menos acesso à proteção social; terminam ocupando-se do trabalho doméstico e o cuidado não remunerado, abandonando o mercado laboral; e em sua maioria, encabeçam as famílias monoparentais. Com o coronavírus em Israel, esta maior vulnerabilidade e exposição às crises tornou-se ainda mais evidente.

Segundo dados da Oficina Central de Estatísticas, 76% dos milhares de cuidadores e enfermeiros de Israel que estão na linha de frente contra o vírus. Ademais, os principais serviços essenciais, como comércios ou depósitos, muitos dos quais permaneceram fechados durante os meses mais duros, são setores altamente feminizados: as trabalhadoras, por exemplo, representam 82% dos caixas dos supermercados e 95% em trabalhos de limpeza e ajuda doméstica.

Elas também são as que se ocupam majoritariamente de empregos submersos na economia informal, o que implica menos direitos trabalhistas, não ter acesso à seguridade social e demais benefícios. Em definitivo, falta de proteção e garantias.

A carga das tarefas de cuidados de pessoas idosas, menores ou enfermas apresenta um risco real de retornar aos estereótipos de gênero dos anos ’50. Se antes da pandemia se estimava que as mulheres realizavam cerca de três quartas partes das milhões de horas de trabalho não remunerado trabalhadas por dia em todo o mundo – o que equivale a três horas de trabalho não remunerado para cada uma que realiza um homem -,  na atualidade a cifra é ainda maior.

A violência de gênero é outra das grandes cargas que se agudizaram durante o último ano. Se bem que as medidas de bloqueio ajudaram a limitar a propagação do vírus, as mulheres e meninas que sofrem violência no lar se encontraram mais isoladas, desprotegidas e sem recursos, com a impossibilidade, em muitas ocasiões, de denunciar devido à convivência com seus agressores. Do mesmo modo, o abuso sexual a meninas também aumentou.

Segundo um estudo do Ministério da Igualdade, só entre 1 de março e 15 de abril de 2020 se multiplicaram por 50 as consultas online ao número de socorro a vítimas.

O ano passado foi terrível em geral, e para as mulheres em particular. Às dificuldades para acabar com a violência de gênero, a sobrecarga no âmbito doméstico e a brecha salarial, se uniu a luta por quebrar a cúpula de cristal: um caminho de obstáculos.

No dia de hoje, a percentagem que estas ocupam em cargos diretivos continua seno escassa, apesar dos avanços. Segundo o último informe do ministério de 2021, a cifra de mulheres diretoras em Israel se estancou pelo segundo ano consecutivo após uma evolução positiva, quando passou de 27% a 30% em 2019 e de 30% a 34% em 2020.

Em 2020, a porcentagem de mulheres que ocupavam altos cargos da Administração Geral do Estado ascendeu ligeiramente até 43,5%. No setor privado hoje é de 27,7% e 35% na direção da administração das empresas. Mas, o que ocorrerá após esta crise? A metade das empreendedoras considera que a pandemia não afetará nem piorará especialmente o acesso das mulheres aos cargos diretivos, enquanto que 39% pensam o contrário.

Fora dos postos diretivos, entretanto, as perspectivas de bem-estar e igualdade para as mulheres não são alentadoras. Até 2018, Israel gozava de um reconhecido posto no índice de bem-estar e igualdade. Mas em 2020, o país caiu notavelmente.

Como fazer frente a este panorama e evitar que as desigualdades continuem agudizando? É fundamental implementar políticas efetivas que ajudem as mulheres a conservar seus empregos com incentivos para regressar ao trabalho remunerado, uma vez se superem as crises.

Quem governar depois das eleições deverá implantar um significativo investimento do orçamento nacional com vistas a garantir que as políticas fiscais promovam a igualdade na recuperação a curto e longo prazo.

[ por Alberto Mazor | publicado em 05|03|21  pelos Argentinos Amigos de PAZ AHORA | traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]

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