Editorial 18|12 do Haaretz | Palestinos da Cisjordânia indefesos diante da violência israelense

Numa altura em que os olhos de todos estão voltados para Gaza, estão ocorrendo acontecimentos graves na Cisjordânia que estão criando novos fatos no terreno, muitos deles irreversíveis.

Muitos colonos vêem a guerra em Gaza como uma oportunidade para efetuar mudanças fundamentais na Cisjordânia e fazer coisas que nunca ousariam fazer em tempos normais. Estão abusando dos seus vizinhos palestinos, atacando-os e vandalizando as suas propriedades de forma mais violenta do que jamais no passado.-

As Forças de Defesa de Israel não só não conseguiram detê-los, mas em muitos casos apoiaram-nos, agindo agressivamente e com força letal excessiva contra os palestinos.

Os dois desenvolvimentos estão interligados e produziram os mesmos resultados, nomeadamente forçar os palestinos a abandonarem as suas aldeias e as suas terras, em particular em dois locais – nas colinas do sul de Hebron e no norte do Vale do Jordão.

Lá, uma população totalmente indefesa – comunidades de pastores sem meios de se protegerem – tornou-se vítima do que é, na verdade, uma transferência da qual ninguém fala em Israel.

Desde o início da guerra, os residentes de 16 comunidades de pastores nas colinas do sul de Hebron foram forçados a abandonar as suas aldeias sob a ameaça dos colonos. No norte do Vale do Jordão, 20 famílias abandonaram as suas aldeias pela mesma razão.

Entretanto, cada vez mais palestinos são mortos quase diariamente, em toda a Cisjordânia, muitos deles inocentes de qualquer crime. Só na área de Tul Karm, 50 pessoas foram mortas desde 7 de outubro; na área de Ramallah, mais de 30 pessoas foram mortas. Muitas das vítimas foram mortas a tiros por colonos cujos dedos estão mais leves do que nunca no gatilho, sabendo que entre a guerra de Gaza e o governo de extrema direita no poder, eles não enfrentarão consequências.

Os soldados também atiram nos palestinos com uma facilidade inaceitável, enquanto ataques aéreos mortais contra densas concentrações de pessoas ocorrem frequentemente nos campos de refugiados perto de Jenin e Tul Karm.

Com as mortes, vem a destruição: Gideon Levy e Alex Levac relataram na semana passada que os danos causados ​​ao campo de refugiados de Jenin transformaram-no numa Pequena Gaza. O Washington Post descreveu isso em termos semelhantes em um relatório especial sobre Jenin.

No norte do Vale do Jordão, o exército desempenhou um papel em tudo isso, por exemplo, impedindo o fornecimento de água aos residentes das aldeias da região durante vários dias. Para a já difícil situação económica decorrente da proibição de os palestinianos da Cisjordânia trabalharem em Israel, dezenas de barreiras internas adicionais foram erguidas desde a guerra, o que amarga ainda mais a vida dos palestinianos.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu falhou miseravelmente em 7 de outubro. Agora, com o apoio que ele está dando aos colonos e ao exército, e sua retórica venenosa contra a Autoridade Palestina, ele está preparando Israel para o surgimento de uma segunda frente na Cisjordânia.


O artigo acima é o principal editorial do Haaretz, publicado em 18|12|2023 nos jornais hebraico e inglês em Israel, traduzido ao português pelos Amigos Brasileiros do PAZ AGORA| www,pazagora.org

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