Pesq: Saída de Arafat não mudará as coisas

A maioria que apóia o plano de desligamento se mantém estável mesmo após a luta vociferante sobre sua aprovação no Knesset. Mas a população israelense judia está dividida entre aqueles que acham que a saída de Arafat do cenário político não deve afetar a implementação em Gaza do plano de desligamento e os que dizem que à luz do afastamento de Arafat deve primeiro uma tentativa de coordenar o processo na Faixa de Gaza com a nova liderança palestina, deixando Gaza unilateralmente apenas se tal coordenação não puder ser conseguida.

Também há uma divisão sobre o tema de se – dada a nova situação criada pela morte de Arafat – é preferível tentar alcançar uma paz abrangente com a liderança palestina que o substitua e, assim, suspender por enquanto a implementação isolada do plano de desligamento de Gaza, com uma percentagem maior daqueles a fafor desta suspensão..

A doença de Arafat de forma alguma moderou a animosidade contra ele no lado israelense, e sua imagem permaneceu muito negativa. Como no passado, uma maioria dos judeus israelenses o vê como um terrorista e apenas uma minoria muito pequena vê o líder palestino como um estadista. Uma clara maioria também acha que, em retrospecto, Israel errou em permitir seu retorno de Túnis em 1994 no contexto dos acordos de Oslo. Também há um aumento substancial na parcela dos que acham que Arafat de fato controlava as ruas palestinas desde o início da intifada, com respeito aos atos violentos contra Israel.

Mesmo assim, não há otimismo entre os judeus israelenses de que, com outros líderes palestinos, será possível alcançar um acordo com os  palestinos. Esse pessimismo pode ser explicado por um amplo (e estável há anos) consenso na população judia de que a maioria dos palestinos jamais aceitou a existência do Estado de Israel e o destruiria se pudessem.

Confiança no Exército

Em vista das lutas sobre a aprovação do plano de desligamento neste mês e as mudanças políticas previstas em seguida à mudança na liderança palestina, checamos como a população avalia o desempenho de líderes e instituições no contexto de administração do conflito com os palestinos.

O único órgão cuja performance foi avaliada positivamente pela maioria judia nesse contexto foi o Exército de Defesa de Israel, e após ele, bem atrás, a mídia. O desempenho do governo e do Knesset foi avaliado de regular a ruim.

Entre os líderes, a maioria avaliou positivamente o desempenho do ministro da defesa Shaul Mofaz, e um pouco atrás dele o chefe do Estado-Maior Moshe “Boogie” Ya’alon. As avaliações comuns do chefe da oposição, Shimon Peres, e do ministro do Exterior Silvan Shalom foram médias, enquanto o ministro das finanças (Bibi) Netanyahu recebeu a nota mais baixa de todos eles.

Tendo decorrido nove anos desde o assassinato do primeiro-ministro Yitzchak Rabin, quisemos pesquisar como esse evento afetou o debate político em Israel. A visão disseminada, como descobrimos, é de que o assassinato não afetou os debates entre direita e esquerda ou entre religiosos e seculares.

Essas são as principais revelações da pesquisa Peace Index  de outubro de 2004, realizada entre os dias 01 e 03 de novembro.

Apesar das grandes reservas levantadas durante o debate no Knesset e as duras declarações de membros da comunidade dos colonos e seus líderes, hoje uma maioria de cerca de 60% da população de judeus israelenses apóia fortemente ou moderadamente o plano Sharon de desligamento de Gaza (o nível de apoio pelos árabes israelenses é ainda maior, ultrapassando 70%).  


Coordenação com a Autoridade Palestina (AP)

Ao mesmo tempo, com a deterioração da saúde de Arafat e seu remoção de fato da esfera política, há desacordos com relação às opções de realizar o desligamento unilateralmente (40% a favor) ou tentar alcançar entendimentos com a nova liderança palestina sobre a retirada de Gaza (também 40%). Entre os árabes, uma parcela consideravelmente maior de 53% prefere tentar um entendimento com os palestinos, em oposição a continuar unilateralmente com o plano (29%).

Sobre a questão de se, à luz da nova situação na AP, é preferível tentar um retorno a negociações para um acordo de paz abrangente com a nova liderança palestina enquanto se suspende temporariamente o desligamento de apenas Gaza, 48% apóiam a suspensão com uma tentativa de acordo abrangente, enquanto 43% se opõem. Como previsto, aqui também, a população árabe prefere o diálogo com a liderança palestina: 58 % prefere a suspensão do desligamento para buscar uma paz abrangente, enquanto 30% prefere manter o plano.

A doença de Arafat não suavizou a animosidade contra ele entre a população judia, como 79% descrevendo-o como um terrorista e apenas 5% como um estadista. 15% o colocaram no meio. Uma segmentação desta caracterização por eleitores de partidos, mostra que esta maioria claramente varia conforme o partido. 93% dos eleitores da União Nacional classificam Arafat de terrorista, seguidos de 88% dos eleitores do Likud, 82% do Shinui, 76% do Shas e 50% do Meretz/Yahad e Avodá [Trabalhista]. Como estadista, Arafat é classificado por 11% dos eleitores trabalhistas, 10,5% do Shinui, 10% do Meretz, 5% do Shas, 3% do Likud e do PRN, e nenhum dos eleitores da União Nacional.

Um êrro deixá-lo voltar

De toda a população judia, uma clara maioria de 64% acha que Israel não agiu direito quando permitiu que Arafat voltasse para cá no quadro da implementação dos Acordos de Oslo (23% acredita que Israel agiu corretamente e 13% não tinha opinião sobre o assunto).

As opinões da população árabe nesta questão é claramente diferente: numa amostra pesquisada, 3/4 o caracterizam como estadista, 15% o colocam entre terrorista e estadista, e apenas 7% definem Arafat como terrorista. Quanto à permissão que Israel deu a Arafat para voltar para cá em 1994, cerca de 69% acham que a decisão foi correta, enquanto 12,5% disse que não foi a coisa certa a fazer.

No passado, a população judia se dividia sobre se, desde a erupção da intifada, Arafat tinha o controle das ruas palestinas com relação a atos violentos contra Israel, mas o que prevalece hoje é a crença da liderança política e militar de que Arafat controlava o que estava acontecendo (75%), com apenas 20% dizendo agora que os eventos estavam fora de seu controle.  Esta interpretação quanto ao controle por Arafat de atos contra Israel é comum entre eleitores de todos os partidos. Interessantemente, a visão da maioria da população árabe também é a de que Arafat estava no controle do que estava acontecendo (54%), enquanto 32% diz que ele não tinha o controle.

Na questão de se o processo de Oslo teria fracassado por causa de Arafat, agora seria possível alcançar a paz com uma liderança palestina diferente ou se, pelo contrário, seria impossível conseguir a paz com os palestinos não importando  quem estivesse no poder, a populãção judia se divide, com uma pequena vantagem para os que acreditam que a paz pode ser alcançada com uma diferente liderança (49%), sobre os que a paz é impossível, não importando quem os lidera (43%). Mas a maioria (58%) acredita que as chances de alcançar um acordo abrangente de paz com os palestinos hoje, após a saída de Arafat da vida política, é baixa ou inexistente (32% enxergam essas chances como grandes ou muito grandes).

As disparidades aqui, entre eleitores de partidos diferentes, são grandes, com uma maioria de otimistas nos partidos de esquerda (80% dos eleitores do Meretz/Yahad e 63% dos trabalhistas) e uma maioria  de pessimistas nos partidos de direita (63% do PRN, 81% do Shas, 79% da União Nacional e 64% dos eleitores do Likud).

As opiniões dos árabes são em geral similares às dos judeus israelenses, com uma clara liderança dos pessimistas (53,5%) sobre os otimistas (27%) com relação às chances de uma paz abrangente, mesmo com a saída de Arafat.

Este pessimismo sobre as chances atuais, mesmo após a ascensão de uma nova liderança palestina, de alcançar uma paz abrangente entre Israel e os palestinos, pode ser explicado à luz da interpretação das intenções palestinas com relação a Israel. Como no passado, cerca de 2/3 da população concorda com a afirmação de que a maioria dos palestinos não aceitaram a existência de Israel e o destruiria se pudessem (13%  discorda desta afirmação ). Entre os árabes, uma maioria de 58% discorda desta afirmação sobre as intenções destrutivas dos palestinos e 22% concorda com ela.

Aprovação para Mofaz

Dados o forte apoio ao plano de desligamento e a probabilidade de que Israel tenha de reconsiderar sua política com relação aos palestinos com a substituição de sua liderança, nós pesquisamos o grau de confiança da população em algumas personalidades israelenses e instituições importantes, em termos de seu desempenho em administrar o conflito com os palestinos.

No topo dos que receberam boas colocações entre a população judia, ficou o ministro da defesa Shaul Mofaz, com 57% avaliando sua performance como boa ou muito boa, 23% como média e 11% como fraca ou muito fraca.

Os respectivos números para o primeiro-ministro Ariel Sharon foram de 52%, 29% e 17%, enquanto o chefe do Estado Maior Moshe “Boogie” Ya’alon obteve os índices de 51%, 19% e 7%.

As avaliações de Shimon Peres e do ministro do Exterior foram mais mornas. Peres teve  33% de bom, 28% de médio e 29% de fraco. Shalom teve 26,5%, 36% e 21%. As notas dadas ao ministro das finanças Benjamin “Bibi” Netanyahu foram mais baixas: 30%, 23% e 39%. 

Entre as instituições israelenses, o exército obteve uma avaliação muito positiva: 79% de bom, 11% de média e apenas 4% de fraca.  A mídia veio em segundo lugar, com 19%, 43% e 40,5%.

Os resultados no setor árabe foram nitidamente diferentes: aqui apenas Shimon Peres ganhou uma avaliação positiva, enquanto dos os outros tomadores de decisão e instituições israelenses receberam notas baixas.

Trauma do assassinato de Rabin

Com este mês marcando o nono aniversário do assassinato do primeiro-ministro Yitzchak Rabin, voltamos a pesquisar como a população vê retrospectivamente os efeitos do traumático evento sobre o debate político israelense entre direita e esquerda e entre os religiosos e seculares. Em ambas as dimensões, a visão atual que prevalece, exatamente como há quatro anos no 5º aniversário do assassinato, é de que ele não afetou o debate político entre direita e esquerda (41%) nem entre religiosos e seculares (44%). Uns 33% acha que o assassinato agravou o debate direita-esquerda, enquanto 18% diz que o moderou.

Quanto à divisão religiosos-seculares, os resultados foram similares: 39% diz que o assassinato agravou a situação e 7% que a moderou. Interessantemente, a maioria da população árabe acha que nas duas dimensões o assassinato agravou o debate político em Israel: 56% acham isso em relação a divisão direita-esquerda e 65% sobre o debate religioso-secular.


              Os índices da Paz (Peace Indexes) para este mês foram:

               –  Índice Oslo:  38,2 para toda a amostra (34,9% para os judeus)

               –  Indice Negociação: 52,7%  (51,1% para os judeus).

 

O projeto Peace Index [ www.tau.ac.il/peace/ ] é realizado no Centro para Pesquisa da Paz Tami Steinmetz, da Universidade de Tel Aviv, dirigido pelos professores Ephraim Yaar e Tamar Hermann. As entrevistas telefônicas foram realizadas pelo Instituto B. I. Cohen da Universidade de Tel Aviv de 1 a 3 de novembro de 2004, e incluiu 579 entrevistados que representam a população adulta judia e árabe de Israel (incluindo os territórios e os kibutzim). O êrro amostral é de aproximadamente +- 4,5%.

[ publicado no Haaretz, em 09|11|04 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]


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