Sem motivos para uma ilusão otimista

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Mais 4 anos com Bush

Sem motivos para uma ilusão otimista  [uma visão palestina por Ali Jarbawi]

Em política, existe uma vasta diferença entre a capacidade de influenciar o processo de tomada de docisões e o simples desejo por mudança. No momento, esta diferença está em evidência com respeito à posição de alguns círculos palestinos e árabes em relação à reeleição de Bush.

Nos últimos quatro anos, estes círculos sofreram tremendamente com as políticas de Bush para a região, seu apoio inquestionável a Israel, sua guerra contra o Iraque, e as ramificações da assim chamada guerra contra o terrorismo. Entretanto, eles nunca se manifestaram ativamente contra essas políticas. Apenas ficaram esperando, na vã esperança de que Bush não ganharia um segundo mandato.

Após a reeleição, estas pessoas agora se aterão à possibilidade de que mudanças irão, assim mesmo ocorrer, nos próximos quatro anos. Este ‘wishful thinking’ está baseado na hipótese de que, em seu segundo mandato, o presidente americano estará livre das pressões de lobbies e grupos eleitoralmente influentes de cujos votos ele não mais necessita. Assim, algumas pessoas argumentam que a influência de Israel sobre o presidente Bush irá decrescer junto à influência dos lobbies pró-Israel.

Isto, argumentam, acabará levando Bush a adotar políticas mais positivas e equilibradas. especialmente quando se fala de um acordo político e o estabelecimento de um Estado Palestino soberano, independente e viável nas fronteiras de 1967. Como evidência da validade de sua teoria, essas pessoas indicam as preocupações e temores expressados por círculos israelenses neste sentido.

Seria um terrível êrro, porém, recorrer a argumento tão superficial. É verdade que Bush poderia se libertar de pressões eleitorais no segundo mandato, mas isto depende de sua vontade de fazê-lo. Portanto, a questão permanece: Bush quer realmente mudar suas políticas?

A resposta, em minha opinião, é um veemente não. Há três razões para isto. Primeiro, a perspectiva de Bush em suas políticas para a região em geral, e Israel e a causa palestina em particular, são guiadas por crenças ideológicas e religiosas e não apenas por políticas baseadas em interesses. Esta visão ideológica nasce das convicções da direita americana, particularmente dos neo-conservadores, e continuará a determinar as políticas americanas para a região.

Segundo, Israel tornou-se uma parte integral da política doméstica, mais do que da política exterior dos Estados Unidos, e Israel goza de amplo apoio popular. Portanto as decisões políticas são feitas não apenas na Casa Branca mas também no Congresso, e qualquer presidente americano ou mesmo candidato à presidência não pode se dar ao luxo – mesmo que o queira – de não levar isto em consideração.

Terceiro, para haver qualquer mudança radical nas políticas americanas para a região árabe em geral e o caso palestino em particular, a total ausência de qualquer esforço árabe em aplicar pressão sobre Washington deve ser retificada. O esforço árabe neste sentido foi reduzido a uma questão de pedir. Pedir é evidência de fraqueza, e não mudará nenhuma política. Ao contrário, apenas convida a exploração.

Bush e Sharon na Casa BrancaDizer que não haverá mudança nas políticas de Bush para a região e a causa palestina durante seu segundo mandato, porém, não significa que não haverá ação nos bastidores para um acordo político. Pelo contrário, Bush está muito interessado nisto, especialmente enquanto Israel tenha participação e quando Ariel Sharon quer que seu plano de retirada seja um sucesso.

O interesse de Sharon reside em seu desejo de determinar a forma de qualquer Estado Palestino de acordo com os interesses israelenses.

Além disso, os aliados de Bush, particularmente a Grâ-Bretanha, querem incrementar as relações americano-européias e desejam abordar o conflito palestino-israelense, assim como a política com relação ao Iraque e a região árabe em geral.

Neste sentido, os Estados Unidos podem pressionar por um acordo político no conflito israelense-palestino para aplacar seus aliados europeus, especialmente por acreditarem, tanto Washington quanto Israel, que a ausência do presidente Arafat da cena política irá abrir a porta para uma aceitação palestina de um acordo mínimo.

Mas os palestinos e árabes que expressam otimismo devem se preparar para tremendas pressões para aceitar um acordo conforme condições israelenses, que lhes concederia apenas um ‘Estado’ nominal com ‘autonomia’ limitada.

Se essas pessoas esperam que Bush vá pressionar Israel a aceitar o estabelecimento de um Estado Palestino independente e soberano nas fronteiras de 1967, continuarão sendo o que sempre foram: iludidos.

Ali Jarbawi  é professor de Ciência Política na Universidade de Birzeit, em Ramalah.

© bitterlemons.org  08/11/2004 versão brasileira PAZ AGORA|BR

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