Noa recebeu Prêmio Shulamit Aloni | Quem foi Shulamit Aloni ?

NOA

A cantora Noa recebeu o Prêmio Shulamit Aloni, pela dedicação de sua vida às causas do diálogo e da paz

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Quem foi Shulamit Aloni

1927 – 2014
 Apaixonada, de princípios firmes, provocante e, acima de tudo, rompedora de limites, Shulamit Aloni deixou uma grande marca na vida política israelense e no discurso público, mais que qualquer mulher que amadureceu após a independência de Israel. Se a única primeira-ministra, Golda Meir, foi a última do establishment sionista-socialista do pré-Estado, Aloni (conhecida por seus amigos como Shula) emergiu como a grande sacerdotisa dos direitos individuais, civis e humanos. Ela dedicou a vida a transformar Israel numa sociedade aberta, justa e liberal, baseada na dignidade humana, tolerância à diversidade e igualdade.

Nascida Shulamit Adler, passou sua infância em Tel Aviv e então, quando seus pais se incorporaram ao exército britânico na 2ª Guerra Mundial, mudou para a aldeia juvenil Ben Shemen, onde desenvolveu seu amor pela língua hebraica e por suas raízes bíblicas. Completou a escola secundáia no Colégio Beit ha-Kerem em Jerusalém e continuou seus estudos no Colégio de Treinamento de Professores Beit ha-Kerem (hoje Colégio de Professores David Yellin). Também se juntou ao Palmach, o terreno fértil da elite do Partido Trabalhista, servindo em suas fileiras de 1947 e 1948.

Após a guerra da independência de Israel, armada com um certificado de professora, Aloni retornou a Tel Aviv, onde começou a lecionar, primeiro numa escola para crianças imigrantes que ajudou a fundar em Ramle, e depois em escolas secundárias na região de Tel Aviv. Embora tenha se especializado no ensino de fontes judaicas (daí sua extraordinária capacidade de citar longamente textos bíblicos e do Talmud), ela também foi pioneira na introdução de estudos de cidadania no currículo escolar (sob o estranho título de “Procedimentos de Governo e Jurisprudência”). Seu livro, (“O Cidadão e seu País”), publicado inicialmente em 1958, gerou dez edições e se tornou o texto padrão para gerações de estudantes israelenses no ensino secundário.

Durante os 1950’s, a jovem Shula começou a focalizar o que se tornou seu propósito de toda a vida: Direitos Civis. Estudou direito na Universidade Hebraica, completando seu grau LL.B. em 1955, e em 1957 lançou sua carreira jornalística como âncora do programa de rádio popular “Fora do Expediente”. Um bureau de direitos dos cidadãos no ar, o programa fornecia a indivíduos uma oportunidade de expressar suas queixas contra práticas governamentais e demandar restituições (uma idéia que Aloni depois desenvolveu em 1965, após sua eleição ao Knesset, no escritório do Ombudsman do governo).

Ela também criou um programa de rádio especial para mulheres: “Conheça a Lei”). Tornando-se colunista regular do Yediot Aharonot (o principal jornal do país) e da revista semanal feminina, La-Ishá (Para a Mulher), desenvolveu uma reputação como uma combatente articulada e incansável pelos direitos das pessoas.

Ainda na segunda década e começando o que se tornou uma carreira pública que durou quase meio século, a jovem, atraente e direta professora, advogada e publicitária conheceu e se casou com Reuven Aloni (nasc. 1919), que foi uma leal fonte de apoio para sua carreira. Os Aloni estavam entre os primeiros moradores de Kefar Shemaryahu, onde Shula continuou vivendo após a morte de Reuven em 1991 no modesto bangalô onde criaram três filhos –  Dror (nasc. 1953), Nimrod (nasc. 1956) e Ehud (nasc. 1959), e onde seus oito netos eram visitas frequentes.

No início dos ’60, Shulamit Aloni ganhou a atenção da hierarquia do Mapai, que decidiu incluída para concorrer às eleições parlamentares de 1965. No seu primeiro mandato no Knesset, o único em que serviu como deputada trabalhista, ela começou seus persistentes esforços para criar uma Constituição para Israel que incluísse uma lei de garantia para as liberdades humanas básicas.  Para promover esses objetivos, como membra do Comitê de Constituição, Direito e Justiça, (do qual participou em toda sua carreira parlamentar), ela formou e presidiu o Comitê de Leis Básicas em 1965. Em seu primeiro mandato no cargo, enquanto o país ainda estava completamente preocupado com defesa e desenvolvimento, Shula fundou o Conselho do Consumidor de Israel, que chefiou nos primeiros anos (1966–1970).

O individualismo e a franqueza de Shula Aloni não se deram bem com seus colegas do partido trabalhista. Ela rapidamente se desentendeu com Golda Meir, a então secretária-geral do partido, que a acusou de vender uma forma israelense de “egoísmo liberal-burguês”, Quando Aloni, por sua vontade, revidou, Golda lhe disse que no partido trabalhista não sabemos o que significa “eu acho”, só conhecemos o que “nós achamos”.  Nessa época, as eleições de 1969 estavam correndo, nos anos embriagados depois da fulminante vitória de Israel no Guerra dos Seis Dias. As duas mulheres que simbolizavam mais do que ninguém o velho Israel e o novo não estavam se entendendo Aloni, sem cerimônia, saiu da lista eleitoral do partido trabalhista.

Shula não ficou parada durante seus quatro anos fora do Knesset. Criou o Bureau para Direitos Civis, que dispensou ajuda legal e assessoria para cidadãos de todos os ramos. Frequentemente intercedia para ajudar pessoas confrontando discriminação em cortes rabínicas. Em 1970 começou a organizar casamentos contratuais civis e estimulou casas desejosos de contornar o monopólio ortodoxo sobre leis pessoais para explorar possibilidades de casamento fora do país. Logo se tornou a principal portavoz da luta contra a coerção religiosa. Seu livro, The Arrangement: From a State of Law to a State of Religion [O Arranjo: de um Estado do Direito para um Estado da Religião], publicado em 1970, deu o tom para a campanha pelo pluralismo religioso no país.

Em 1973, finalmente renunciou do partido trabalhista e criou o Movimento pela Paz e Direitos Civis, conhecido como Ratz [“corre” ou “corredor”]. Ela reuniu ao seu redor um grupo de advogados, intelectuais, ativistas pelas liberdades civis e feministas. Surfando na onda dos descontentes após a Guerra do Yom Kipur, sua lista surpreendentemente ganhou três cadeiras no 8º Knesset, fazendo dla a única mulher a ter fundado com sucesso um partido político em Israel. Continuou na liderança do Ratz—que em 1992 se fundiu com as facções menores Mapam e Shinui para formar o partido Meretz (“energia”) party—until her retirement at the end of the Thirteenth Knesset in 1996.

Durante os 25 anos que se seguiram à criação do Ratz, Shulamit Aloni liderou virtualmente todas causas democráticas progressistas do país. Guiada por sua visão de que os direitos humanos ficam no centro da sociedade moderna e devem ser aplicadas igualmente a todos cidadãos independentemente de gênero, religioso, nacionalidade, idade e persuasão politica, ela batalhou incansavelmente para avançar os direitos das crianças, mulheres e minorias em Israel. Ela não só ditou a agenda israelense para direitos humanos – assim alterando o conteúdo do debate político no país – mas ela continua sendo uma fonte de constante inovação, sendo a primeira a promover a batalha contra a discriminação contra homossexuais e lésbicas, trabalhadores migrantes, deficientes e objetores de consciência.

Estas posições colocaram Aloni e sua facção Ratz diretamente na oposição, primeiro ao partido trabalhista (embora ele tenha servido como Ministra sem Portfólio por alguns meses no primeiro governo Rabin em1974, renunciando por causa da política de assentamentos na Cisjordânia e Gaza) e, após 1977, ao Likud. Seu movimento, entretanto, continuou a prosperar. Após uma aparição pobre nas eleições de 1977, quanto ela tinha voltado sozinha ao Knesset, o partido cresceu consistentemente. Fortalecido por Ran Cohen e a lista radical Sheli, que se juntou ao Ratz em 1981, e Yossi Sarid, que renunciara ao partido trabalhista durante a invasão do Líbano em 1982, o partiro ganhou 3 cadeiras em 1984 e em 1988 registrou seu melhor resultado independente, com 5 membros eleitos para o Knesset.

Durante a década de 1980, Shulamit Aloni consolidou sua plataforma progressista. Ao lado de sua contínua preocupação com questões de direitos civis, status das mulheres e liberdade religiosa, Aloni e seus colegas do Ratz tornaram-se porta-vozes do campo da paz israelense. Ela não apenas aderiu à campanha contra as atividades de assentamento, mas também defendeu abertamente negociações diretas com a OLP e a retirada dos territórios ocupados por Israel em 1967. Uma das fundadoras do International Center for Peace in the Middle East, ela foi membra de seu Comitê Executivo. Nesta qualidade, participou das primeiras reuniões com representantes da OLP [Paris e Cairo em 1988] e New York em 1989. Durante a primeira Intifada Palestina (1987–1993), emergiu como uma das vozes mais fortes condenando a política expansionista do governo do Likud e defendendo a proteção dos Diretos Fundamentais, Humanos e Políticos, do povo palestino,

As eleições de 1992, primeira vez em que a coalizão do Meretz apresentou uma lista unificada para o eleitorado, mostrou um sucesso fenomenal para Aloni e seu partido, Com o apoio de um grupo de jovens eleitores a procura de uma nova voz (muitos eram graduados do movimento jovem Ratz), Meretz ganhou 12 assentos no Knesset e foi chamado pra integrar o segundo governo Rabin (1992–1995). Shulamit Aloni assumiu o Ministério da Educação e foi acompanhada por Amnon Rubinstein [Ministro das Comunicações], Yair Tzaban [Ministro da Absorção de Imigrantes] e Yossi Sarid [Ministro do Meio-Ambiente].

O primeiro ano do Meretz no governo não foi feliz para Shulamit Aloni. Embora estivesse encantada por sua indicação para o Ministério da Educação, seus parceiros de coalizão, do partido ultra-ortodoxo Shas, que não conseguiam concordar com seu secularismo explícito, atacavam cada palavra sua. No início de maio, após uma discussão pública com o líder espiritual do Shas, Rabi Ovadia Yosef, eles demandaram a renúncia dela.

Aloni viu-se pressionada por seus colegas de Ministério e pela bancada parlamentar do Meretz que, com uma notável exceção, lhe recomendaram renunciar à pasta de Educação, pelo bem da estabilidade da coalizão.

Ela aceitou, com tristeza, trocando de lugar com Amnon Rubinstein no Ministério das Comunicações no início de junho de 1993. Dois meses depois, ela também assumiu o Ministério da Ciência e Cultura. Sua liderança dentro do Meretz, porém, havia sido desafiada. Rapidamente perdeu seu apetite pela política interna do movimento que havia fundado.

Aloni, ainda assim, continuou a por sua marca na sociedade israelense. Como Ministra das Comunicações, ela abriu as ondas eletromagnéticas à competição e orquestrou a revolução celular no país.

Como Ministra da Cultura, promoveu as artes performáticas e guiou Israel através de um período extraordinário de inovação artística.

Mais importante, ela acompanhou o processo de Oslo desde seus primeiros dias, tornando-se uma das mais influentes e consistentes advogadas do fim da ocupação israelense e da criação de um Estado Palestino ao lado de Israel.

Yitzhak Rabin e Shulamit Aloni

Yitzhak Rabin e Shulamit Aloni

O assassinato de Yitzhak Rabin em novembro de 1995 afetou-a profundamente. Aloni continuou realizando seus deveres ministeriais, mas ela se encontrou em desacordos crescentes tanto com seu substituto, Shimon Peres, como com gente que havia recrutado para o Meretz. Decidiu não concorrer a novo mandato, retirando-se do Knesset à véspera das eleições de 1996, distanciando-se da nova liderança do Meretz sob a égide de Yossi Sarid.

Aloni nunca deixou a cena pública. Continua a protestar contra violações de direitos humanos de palestinos por Israel, e a clamar por uma solução justa de Dois Estados. Ainda é considerada uma liderança na questão da separação entre religião e Estado em Israel, Tem um prestígio imenso em círculos feministas. E não faz compromissos nos seus esforços para equipar os cidadãos israelenses com uma Lei de Direitos.

Suas conquistas foram amplamente reconhecidas em Israel e no exterior. Recebeu o Kreisky Prize for Human Rights (1985), a Decoration of Honor da International Academy of Humanism (1996), a Certificate of Honor of the Association for Civil Rights in Israel (1998) e o Israel Prize pela sua contribuição especial à sociedade israelense (2000). Recebeu doutorados honorários de Hebrew Union College (1991), Kon-Kon University in South Korea (1994), da Free University of Brussels (1997) e do Weizmann Institute of Science (1999).

Desde 1996, Shulamit Aloni lecionou na Ben-Gurion University, Tel Aviv University, Princeton University e no Interdisciplinary Center in Herzliyah. Continuou escrevendo com frequência na imprensa de Israel, aparecendo em programas de rádio e TV, apresentando a voz mais lúcida do país para direitos humanos, justiça social e liberdades civis,

Shulamit Aloni faleceu em 24|01|2014 em sua casa em Kfar Shmaryahu, subúrbio de Tel Aviv. Ela tinha 86 anos.

SELECTED WORKS BY SHULAMIT ALONI

Hebrew

The Citizen and His Country. Tel Aviv: 1958;

Children’s Rights in Israel. Tel Aviv: 1964;

The Arrangement: From a State of Law to a State of Religion. Tel Aviv: 1970;

Women as Human Beings. Tel Aviv: 1976; with Idit Zertal.

I Can Do No Other (Ani Lo Yecholá Aheret): A Political Biography of Shulamit Aloni. Tel Aviv, 1997.

 

[ por Naomi Chazan | publicado pelo  jwa.org  | traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]

 

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