Um dia triste para a democracia israelense

 

Netanyahu e Gantz formarão governo de união.

O partido Azul e Branco implode.

 

Netanyahu entregaria o governo ao Azul e Branco em setembro de 2021. Parceiro de Gantz leva o partido Yesh Atid para a oposição. Avodá de Amir Peretz adere a Netanyahu.

 

 

O líder do Azul e Branco Benny Gantz será parceiro do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu num governo de união nacional, servindo inicialmente como Ministro do Exterior e substituindo Netanyahu como primeiro ministro em setembro de 2021, conforme acordo que está sendo finalizado.

A deputada do Meretz,Tamar Zandberg, advertiu Gantz do pódio: “Você terminará como um tapete sob os pés de um bandido, um incitador e racista… Estamos aqui em choque tentando compreender a profundidade da enganação… o desastre que você está infligindo sobre milhões de eleitores [que apoiaram] o bloco da esquerda democrática… que buscavam uma alternativa [a Netanyahu].

A decisão de Gantz de unir forças com Netanyahu imediatamente levaram ao colapso do Azul e Branco, com o número 2 do partido, Yair Lapid, rejeitando a atitude e indo para a oposição com outros da sua facção do Yesh Atid. “Gantz preferiu Netanyahu a Lapid,” reportou sucintamente o Canal 12.

Yesh Atid e a facção Telem de Moshe Ya’alon firmaram um pedido formal para romper com o Azul e Branco nesta tarde de 5ª feira, deixando o Partido Resiliência, de Gantz com o Likud de Netanyahu.

Lapid havia dito a Gantz que preferia que Israel fosse para sua quarta votação a ver o Azul e Branco dividindo o poder com Netanyahu.

A nova coalizão deve se constituir de 78 a 79 deputados — Likud, Resiliência de Israel de Gantz, Avodá, Yamina (direita), Shas e Judaísmo Unido pela Torá — conforme o Canal 12.  Na oposição ficariam o Yesh Atid, de Lapid, o Telem de Ya’alon, Israel Beitenu de Avigdor Liberman, o sionista socialista Meretz e a Lista Árabe Unida, com algumas flutuações.

O acordo de unidade tomou forma enquanto o Knesset se reuniu para eleger um novo Secretário, após a renúncia ontem de Yuli Edelstein, fiel apoiador de Netanyahu.

Gantz se ofereceu como único candidato para o posto de Secretário do Knesset, que deverá manter por um breve período enquanto os termos da coalizão de união são finalizados.

Servirá então como ministro do Exterior pelos primeiros 18 meses do governo de união de emergência, até substituir Netanyahu como primeiro-ministro.

Não ficou claro qual posto Netanyahu ocupará nessa etapa. Ele foi indiciado em três casos de corrupção, em um julgamento que deveria ter-se iniciado na semana passada, mas foi postergado para maio em meio a crise do coronavirus.

Após uma grande luta com o Likud sobre o cargo de Secretário do Parlamento, o Azul e Branco  esperava ver seu deputado Meir Cohen votado, o que daria ao partido o controle da agenda parlamentar.

Mas a iminente parceria com Netanyahu implodiu esse plano, abrindo um abismo no centro do Azul e Branco e pavimentando o caminho para um governo de unidade chefiado por Netanyahu.

Meir Cohen, do Yesh Atid, que até poucas horas antes tinha sido designado para se tornar o próximo Secretário do Knesset, disse ao Canal 12: “Não nos opusemos à unidade, certamente não em tal hora. Mas pensamos que devemos primeiro insistir na democracia… na integridade. Tudo isto foi rudemente anulado hoje por aqueles afobados [para se juntar ao governo]. Poderia ter sido diferente”.

À medida que o acordo de unidade tomava forma, Cohen retirou sua candidatura e membros do Yesh Atid não votariam em Gantz para Secretário do Knesset.

Em vez disto, Gantz deveria receber o apoio do bloco de direita inteiro, assegurando sua vitória.

Yoav Kisch, deputado do Likud, usou o debate que precedeu o voto para elogiar Gantz por sua atitude “corajosa” ao se tornar parceiro de Netanyahu neste período de crise do coronavírus.

A deputada do Meretz ,Tamar Zandberg, advertiu Gantz do pódio: “Você terminará como um tapete sob os pés de um bandido, um incitador e racista… Estamos aqui em choque tentando compreender a profundidade da enganação… o desastre que você está infligindo sobre milhões de eleitores [que apoiaram] o bloco da esquerda democrática… que buscavam uma alternativa [a Netanyahu].

Ela lamentou: “O que você fez, Benny Gantz? Como você pode fazer isto aos milhões de eleitores que o apoiaram?

Fontes próximas a Gantz disseram ao Canal 12 nesta tarde que um acordo entre sua facção Resiliência e Likud não estava fachado, mas que queria deixar esta opção aberta – algo que não seria possível se Cohen, do Yesh Atid fosse nomeado Secretário.

A coalizão emergente incluirá o partido Avodá, que se separará do Meretz. Gantz só será Secretário do parlamento por um breve período e uma vez que o governo de unidade seja formado e ele for nomeado ministro do Exterior, o Likud retomará o secretariado.

O ex-chefe do Estado Maior, deputado Gabi Ashkenazi — No. 4 do colapsado partido Azul e Branco – seria o ministro da Defesa, e o deputado  Chili Tropper o ministro da Justiça.

Ontem, Netanyahu e Gantz discutiram a possibilidade de estabelecer um governo de emergência para enfrentar o  coronavirus, tomando um passo efetivo raro na direção de uma coalizão,

Gantz foi incumbido em 16/3 de formar um governo, num prazo de 28 dias, após 61 deputados terem-no apoiado para primeiro-ministro.

Presidente Reuven Rivlin (d) incumbe Benny Gantz de formar novo governo – Jerusalém 16|03|2020 

Apesar de ter o apoio de 61 deputados, Gantz se viu imobilizado sem nenhum caminho simples para o governo, com membros do seu partido se opondo a cooperar com a Lista Árabe Unida, mesmo num governo minoritário. Seu Azul e Branco descartaria tal opção na terça-feira.

O Azul e Branco não teve qualquer rota alternativa para o governo, pois todos os outros partidos no bloco direita/religiosos de Netanyahu recusavam-se a quebrar sua lealdade ao premier.

O partido centrista tinha publicamente declarado não participar de um governo chefiado por Netanyahu.  Mas os líderes do Likud se agruparam atrás de Netanyahu, apesar das acusações contra ele.

Netanyahu tuitou na terça que a pandemia do coronavirus era um tempo crucial no qual a liderança e a responsabilidade nacional deviam ser exercidas, alegando que desacordos entre os rivais com vistas a especificidades de um governo de união eram pequenas e podiam ser superadas.

“Os cidadãos de Israel precisam de um governo de união que aja para salvar suas vidas e bens”, disse dirigindo-se a Gantz. “Este não é o tempo para uma quarta eleição. Vamos nos encontrar agora e formar um governo hoje. Estou à sua espera”.

Ele repetiu o apelo ontem, tuitando que “precisamos por isto de lado. Somos uma nação e um povo e a ordem do dia é unidade. Estou clamando por um imediato governo de união nacional para lidar com a crise”,

Após parecer suavizar sua posição nos últimos dias, Gantz disse na terça que estava demandando ser o primeiro a ser primeiro-ministro num acordo rotativo.

“Eu tenho uma expectativas e uma demanda por um governo de união chefiado por mim”, disse a ativistas do seu partido que se manifestavam diante da sua casa, chamando-o a formar uma coalizão de unidade e não um governo de minoria apoiado pela Lista Unida.

 

[ por Raouls Wootliff | Publicado em 26|05|2020 | The Times Of Israel | Traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]

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