A lorota trágica do ‘Assentamento Jovem’

 

Uma nova rodada de violência e vandalismo dos colonos contra correligionários israelenses (para não mencionar os palestinos) não impediu ministros do governo, da direita e do centro, de avançar planos para premiar roubos de terras e outras atividades ilegais na Cisjordânia, desenvolvendo e trabalhando para legalizar outposts. Shaqued Morag, do PAZ AGORA, expõe uma nova maneira do lobby dos assentamentos para vender à população israelense mentiras às custas dos interesses nacionais.

Assentamentos Ilegais se Espraiam na Cisjordânia

O engodo do “Assentamento Jovem”

“Assentamento Jovem” é um nome criado para camuflar a construção, pelo movimento dos colonos, de dez postos avançados de assentamentos ilegais por ano.

Atentados a pessoas e patrimônio

Esses senhores da terra entendem, sem dúvida, que não há problema em desobedecer à Lei. E os resultados destes entendimentos são evidentes nas suas manifestações.

Nas últimas duas semanas, os “Jovens das Colinas”, têm semeado a violência sem restrição. E o governo se mantém em silêncio. Por quê? Porque acima de qualquer carro da polícia, de qualquer policial sangrando e vidros estilhaçados brilha a manchete: “Assentamento Jovem”.

À medida que o mandato de Donald Trump chega ao fim, temos assistido recentemente ao nascimento da campanha “Assentamento Jovem”, parte da tentativa final da direita dos colonos de promover o roubo de terras e mudar a realidade física da Cisjordânia, antes que um adulto reassuma a cadeira do Presidente dos Estados Unidos.

Embora não tenhamos assistido em 2020 a uma anexação oficial da Cisjordânia, vimos o maior nível anual de aprovação de planos para construção de assentamentos das últimas duas décadas.

Agora, o empreendimento de colonização está tentando cavar mais algumas conquistas finais. “Assentamento Jovem” é o novo rótulo ‘limpo’ dado às dezenas de postos avançados de assentamentos ilegais (outposts), que a liderança direitista utiliza para “legitimar” (autorizar retroativamente) a criação e desenvolvimento de novos assentamentos. O governo israelense está participando ativamente desta campanha. “Um passo humanitário, proclama o ministro Michael Biton. “Sal da Terra”, exclama o ministro Omer Yankelevich. As palavras de apoio de Tzachi Hanegbi e Yuval Steinitz nem merecem menção especial.

E quanto a esses representantes do “Assentamento Jovem”, vestidos em seus uniformes militares ou até ternos, e a “Juventude das Colinas” (bandos de colonos fanáticos que vandalizam as aldeias palestinas e plantações vizinhas), com suas peyot, sandálias e pedras voadoras?  Bem, todos os habitantes dos outposts compartilham uma visão de mundo, pela qual toda a terra além da Linha Verde (Cisjordânia) é nossa. E deve ser conquistada de um jeito ou de outro.

Cada outpost tem sua própria história sobre a forma como a terra foi tomada, como foi construído e as operações por trás do seu estabelecimento. Mas o que todos têm em comum é o descarado desrespeito à Lei e à Ordem. Porque somos os senhores da terra, todos meios são permitidos e legítimos de forma a cumprir nossa visão. Nos últimos anos, cerca de dez novos outposts ilegais foram construídos a cada ano. Com a suficiente insistência, um pouco de sorte e muita pressão política, cada um desses outposts logo receberão uma estrada de acesso e conexões às redes de água e eletricidade de algum assentamento próximo.

Ao longo dos anos, seus moradores baterão nas portas de escritórios do governo e irão requerer o melhor tratamento – a legalização. Em seus esforços para legalizar esses outposts ilegais, o governo está sinalizando aos colonos que a lei pode ser aplicada seletivamente, e até pode premiá-los.

Então, onde está a surpresa de que, após essa construção criminosa, venham outros tipos de crime, incluindo a violência severa do tipo que vimos nas incursões recentes da Juventude das Colinas?

Precisamente quando o povo israelense e seus líderes preferiram a paz à anexação, uma realidade alternativa continua emergindo nos Territórios Ocupados.

Os senhores da terra estão se amotinando, as força de segurança lhes dão proteção, o governo lhes dá apoio. E a anexação de facto continua a avançar teimosamente. Em casos particularmente chocantes, a liderança dos colonos irá denunciar alguns “frutos podres” de sua sociedade, mas não têm a mínima intenção de selar a fenda de onde eles brotam.

O terrorismo judeu se provou muito eficaz em remover palestinos da terra e limpar o caminho para o próximo assentamento a ser construído, apesar da raiva da maioria da população israelense, que prefere a paz. Isto é o que a campanha do “Assentamento Jovem” prefere esconder.

Quando a lei é uma mera recomendação, sinaliza uma descida íngreme. Quando se fecha os olhos para o crime, ele se torna a norma. E quando isso acontece além da Linha Verde [na Cisjordânia], é só uma questão de tempo antes que se espraie para Israel.

Todo dia em que continuamos nosso controle militar sobre a Cisjordânia, a linha se torna ainda mais apagada. Muito em breve, perceberemos que a questão essencial que nos deve incomodar não é se Israel está interessado em anexar os assentamentos.

A principal consequência da ocupação ilegal e violenta é, além da desumana opressão sobre o povo palestino, a corrupção e putrefação da democracia israelense.

 

[ por Shaqued Morag, Diretora Executiva do PAZ AGORA | publicado em hebraico no Ynet e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]

 

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