Biden Puxa o Tapete de Israel

Biden Puxa o Tapete das Justificativas para a Ocupação Israelense

Nas suas memórias de 2010.  “Decision Points” o ex-presidente George W. Bush escreveu, “Afganistão foi a última missão de construção de nação. Libertamos o país de uma ditadura primitica e tínhamos uma obrigação moral de deixar para trás algo melho. Também tínhamos um interesses estratégico em ajudar o povo afegão a construir uma sociedade livre, “porqueum Afganistão democrático seria uma alternativa de esperança à visão dos extremistas”.

No mês passado, antes da  tomada do Afganistão pelo Taliban, o presidente Joe Biden desviou da abordagem de Bush. “Não fomos ao Afganistão para construir uma nação”, disse. Em vez disso, foi para eliminar o líder da Al-Qaida Osama bin Laden e para reduzir a ameaça do terrorismo aos Estados Unidos, Nesta semana, ao se dirigir ao povo americano, Biden declarou que a “missão para degradar a ameaça terrorista da Al-Qaeda no Afganistão e matara Osama bin Laden foi um sucesso.”

Bin Laden de fato foi assassinado em 2011, mas a redução da ameaça do terrorismo – do  Taliban – ainda demanda prova. O que não precisa ser provado é que os EUA deixaram de ser uma potência ocupante no Afganistão. Também parece que os americanos irão logo se retirar inteiramente do Iraque, e com isto por um fim no capítulo das ocupações modernas dos EUA. Isto também marcará o fim da fraternidade ideológica ligando Israel e os Estados Unidos como dois países ocupantes.

De agora em diante, Israel será o último país ocidental envolvido numa ocupação – à qual atribui importância de segurança estratégica, num esforço de não muito sucesso para camuflar seu plano-mestre ideológico, histórico e messiânico-religioso.

Construção de nação ou democratização, cumprimento da visão dos profetas ou exploração econômica – nada disto está incluído em seu “manual de uso para ocupantes”.  Neste processo, ele também puxou o tapete debaixo das justificativas que Israel criou ao longo de muitos anos para continuar mantendo a ocupação.

Isto também lembra o ultrajante discurso ao Congresso Americano em 2011, pelo então Primeiro Ministro Benjamin Netanyahu onde este explicou aos anfitriões: “Meus amigos, vocês não precisam fazer construção de nação em Israel. Nós já construímos. Vocês não tem que exportar democracia para Israel. Já a temos”.

Mas ele só estava contando parte da verdade. Mesmo 10 anos após o discurso, período quase todo sob governo de Netanyahu, Israel ainda está engajado em construir para si uma nação. E sua democracia precisa se reconstruída.

==> mais sobre Afganistão e Ocupação

Porque, diferentemente da ocupação americana. quando se trata de seu objetivo, para Israel a ocupação  é uma fundação central para moldar a sociedade e a cultura israelense, um componente essencial na construção da nação judia, que ao instilar uma consciência do direito de controlar outro povo e trazer à fruição promessas divinas, informa uma política colonialista e cria uma forma distorcida de democracia israelense.

Com tal forma de pensar, Israel não pode retirar-se dos territórios. Não tem o luxo de se retirar que os Estados Unidos tem.  Esta é a base do temor sobre a retirada americana e particularmente das observações de Biden no mes passado, quando ele disse: “São o direito e a responsabilidade exclusivas do povo afegão decidir seu futuro e como querem governar seu país”,

É uma heresia na visão de muitos em Israel, sacudindo as fundações da nação judia e negando seu direito a uma ocupação ideológica que vê como completando a visão de seu  estabelecimento como Estado.

Porque hoje, Biden está falando sobre os afegãos. Amanhã falará as mesmas coisas sobre os palestinos. Israel pode argumentar que o direito de seus cidadãos a governar o seu país como quiserem não é inferior ao dos afegãos. O problema é que Israel não pode ficar sentado enquanto os Estados Unidos o deixam para trás.

 

[ por Zvi Bar’el | publicado no Haaretz 19|08|2021 | treduzido pelo PAZ AGORA|BR ]

Comentários estão fechados.