Os professores mais dedicados de antissemitismo vivem entre nós

Os professores mais consistentes de antissemitismo, os que lavam as mentes de crianças palestinas com conclusões horríveis e enraivededoras sobre judeus, vivem entre nós. São agentes e inspetores da Administração Civil, funcionários municipais de Jerusalém, soldados do EDI e oficiais da Polícia da Fronteira. E não nos esqueçamos dos arquitetos, engenheiros, empreiteiros e colonos. São todos nossos mensageiros, carne da nossa carte. Nossos amados.

Os livros didáticos que usam são resoluções de gabinete e a realidade. Página após página, dia após dia, ordem militar após outra, dão aos seus alunos palestinos razões variadas e prontas para não nos amar, nós judeus.

Não é um abstrato “Jesus crucificado pelos judeus”, que as crianças vêem, mas uma avó soluçando, um pai silenciosamente indignado e um grande bulldozer rugindo, com tábuas quebradas e dobradiças amassadas desprendendo-se de suas mandíbulas. E eles, pequenos antissemitas que são, ligam estas experiências a coleções que ouviram sobre a grande espulsão e destruição cometida por judeus há 75 anos. Estas crianças atrevidas não sabem que a memória histórica é propriedade exclusiva de judeus.

Não há aqui espaço suficiente para listar todos tópicos geradores de antissemitismo incluídos nos livros didáticos que foram e continuam sendo escritos por sussessivos governos israelenses e cujos ensinamentos são disseminados por soldados, pela Administração Civil e a prefeitura de Jerusalém. Então, apenas mencionaremos duas características que podem ser atribuídas a judeus, conforme esses professores. Uma é a gula por terras. A outra é o padrão duplo.

Veja o  posto avançado (outpost) de assentamento Kida. Ele esteve nos noticiários recentemente, porque o Promotor Geral Avichai Mendelblit nomeou um dos seus moradores, Yair Hirsch, para diretor-geral do Ministério do Interior, apesar de existir uma ordem de demolição pendendo contra sua casa (veja foto), que foi construída ilegalmente conforme a lei israelense (e não apenas contra a lei internacional e a lógica humana).

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Kida tem cinco outposts irmãos, que nos últimos 20 anos similarmente tomaram terras pertencentes às aldeias palestinas de Jalud, Qaryut, Turmus Aya e al-Mughayir. São parentes do assentamento de Shiló e do outpost Shvut Rachel, e irmãs amadas do assentamento de Amihai, construído especialmente para os colonos evacuados [por sentença judicial após longo processo -NT] de Amona.

Todos eles violam a lei internacional e representam fielmente o apetite judaico por terras palestinas; terras para pastagem e caminhadas, cultivo. com potencial para crescimento e construção expandida. A violência de moradores dos outposts , sob os auspícios das Forças de Defesa dos Assentamentos, suas ordens e os Acordos de Oslo, separaram aldeões de suas terras. Isto em si é um exemplo do que ocorre pela Cisjordânia.

Os glutões se empanturram com a terra palestina, e se vangloriam de sua humanidade ao permitir aos seus donos legais permanecer em suas casas atulhadas e ganhar a vida trabalhando para os judeus.

O espaço palestino deve ser judeu e qualquer um que diga o contrário é um antissemita. Como disse Mendelblit, o rei da lei judaico-israelense? Hirsch é elegível para o emprego, apesar de viver numa casa ilegal, porque a terra de Kida será logo declarada “terra do Estado”. Declarar terra palestina como “terra do Estado” é o termo sionisticamente correto para roubo armado organizado.

A outra característica ostensivamente judaica, o padrão duplo, é expressa pelos dados rotineiros e regulares sobre  demolições de casas. Assim, por exemplo, o Escritório da ONU para Coordenação de Assuntos Humanitários reporta que entre 27|7 e 9|8, as autoridades israelenses demoliram ou confiscaram 57 edificações palestinas, privando 97 pessoas, das quais 67 crianças, de suas casas.

Neste ano de 2021. Israel destruiu 592 edificações palestinas, 90 das quais em Jerusalém Oriental. A explicação – de que foram construídas sem autorização – é possível, por causa do nosso talenteo com os padrões duplos.
Palestinos não podem construir em terras palestinas, mas nós, judeus, podemos construir em terras palestinas, com ou sem autorizações.
E quem discordar, é antissemita.
[ por Amira Hass | publicado no Haaretz 17|08|2021 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR].

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