Judeus americanos se livraram de dois relacionamentos tóxicos neste ano

Uma rápida pesquisa de manchetes relativas ao Rosh Hashanah na mídia judaica no mundo traz uma sensação de déjà vu: assim como no ano passado, a COVID-19 está dominando a conversação, pairando como ameaça sobre cada refeição em família e reunião comunitária. Mas seria muito errado concluir desta triste realidade que o ano judaico que está acabando não foi de grandes mudanças – especialmente em Israel, na comunidade judaica americana e no relacionamento entre as duas.

Quando os judeus americanos deram boas vindas ao ano que está por acabar, os Estados Unidos estavam em meio a uma eleição perigosa. Donald Trump tentava assegurar para si outro mandato no cargo, e estava disposto a incendiar a Casa Branca se os eleitores decidissem tirá-la de lá. No primeiro debate presidencial contra seu rival e futuro vencedor, Joe Biden, os moderadores ofereceram a Trump uma oportunidade fácil para se distanciar dos apoiadores violentos, extremistas de direita e antissemitas. Em vez disso, disse a eles para manter a pressão [ “stand back and stand by” ]

Trump perdeu a eleição, mas recusou-se a reconhecer o resultado, e moveu uma campanha de terra arrasada por dois meses nu esforço para inverter os resultados. Foi ridículo e nenhuma pessoa sã achou que poderia funcionar, mas pavimentou o caminho para um ataque terrorista fatal ao Congresso Americano, liderado pela mesma multidão que gritava “judeus não irão nos substituir” nas ruas de Charlottesville durante seu último verão como presidente. Em 06|01, essas mesmas pessoas estavam prontas para derrubar um governo  apoiado por mais de 70% dos judeus americanos.

Enquanto tudo isso acontecia, Trump tamém estava ocupado instalando um grupo de oportunistas e extremamente legalistas cínicos no Pentágono. e contemplando uma guerra com o Irã em sua saída. Tal guerra poderia levar a uma massiva destruição e perdas humanas em Israel. Seus próprio generais o impediram de executar esse plano absurdo, temendo que este seria o precursor de um golpe pelo candidato perdedor numa eleição recente.

O homem que tomou o lugar de Trump, o Presidente Joe Biden, quis ser presidente por décadas e fracassou por dus vezes a concorrer ao cargo máximo. Mas conforme o ex-congressista Steve Israel, foi a marcha antissemita em Charlottesville, conduzida pela “gente muito boa” de Trump, que convenceu Biden a voltar do seu retiro político, com 78 anos de idade e concorrer à presidência pela última vez. Biden ganhou a eleição, não por causa do pequeno voto judeu – na verdade, ele perdeu no único “swing state” onde os judeus são conhecidos por fazerem a diferença: a Flórida. Mas foi seu desgosto e horror sobre eventos como a marcha em Charlottesville e o ataque terrorista de 2018 à sinagoga “Tree of Life” em Pittsburgh que levou ao seu principal motivo de escolha na última eleição – “Uma batalha pela alma da América.”

Essa batalha não acabou após Trump deixar a Casa Branca. Ela continua e continuará no ano judaico de 5782 e nos peóximos. Mas para os judeus americanos, 5781, com todos os momentos, imagens e memórias terríveis que criou, também trouxe uma sensação de alívio. Uma vitória eleitoral para Trump, ou pior, uma reversão dos resultados legítimos da eleição, seriam desastrosos para a democracia americana. Teria fortalecido mais ainda a extrema-direita, e elementos de ódio aos judeus que prosperaram durante sua presidência. Esse cenário horrível foi detido nos portões com a estreita vitória de Biden no Colégio Eleitoral.

Trump também teve um impacto negativo sobre como os judeus americanos se relacionam a Israel. Foi um presidente que abraçava seu parceiro político e ideológico em Israel, Benjamin Netanyahu, com uma mão e acusava judeus americanos de “deslealdade” com a outra. Netanyahu contribuiu com isso. Ele gozava dos benefícios políticos da parceria com Trump e ignorava as advertências de importante aliados de Israel nos Estados Unidos sobre o preço a longo-prazo que o país pagaria por se associar com um presidente fracassado e impopular.

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Não é coincidência que a queda de Netanyahu do poder como primeiro-ministro, após 12 anos, aconteceu apenas meses após Trump se ter tornado incapaz de lhe fornecer assistência política desde a Casa Branca. A ajuda política que Trump oferecia a Netanyahu foi um dos fatores que o ajudaram a sobreviver a mútiplos fracassos eleitorais, prolongando o miserável capítulo das “quatro eleições em dois anos”. Afortunadamente, esse pesadelo também terminou neste ano – e como o atual governo de Israel está perto de aprovar um Orçamento, há sinais esperançosos de estabilidade política.

Trump e Netanyahu não estão mais pilotando o relacionamento EUA-Israel, mas enquanto este ano vai terminando, os prejuízos criados por seus esforços, conjuntos e separados, ainda persistem. Levará mais de um ano de normalidade, em Washington e em Jerusalém, para consertá-los.

[ por Amir Tibon | Haaretz | 02|09|21 | traduzido por Moisés Storch para o PAZ AGORA|BR]

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