Grupo de colonos prepara abertamente a criação de 3 assentamentos ilegais nesta semana

O movimento de assentamento ‘Nachala’ faz um esforço inédito para criar postos avançados em massa; voluntários do grupo teriam assassinado um palestino; o PAZ AGORA organiza operação para detê-los

[ por JEREMY SHARON | The Times of Israel | 14|07|2022 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR | ww.pazagora.org ]

A ala direita ativistas do Movimento de Assentamento Nachala constroem uma estrutura temporária na Praça Habima, em Tel Aviv, como parte de um protesto pedindo a criação de novas comunidades na Cisjordânia, em 12 de julho de 2022. (Tomer Neuberg/Flash90)

Um grupo radical de colonos lançou um esforço sem precedentes para estabelecer vários postos avançados ilegais, ao mesmo tempo, na Cisjordânia, e convocou seus seguidores para participar da operação marcada para a próxima semana.

E enquanto o grupo, chamado de ‘Movimento de Assentamento de Nachalá‘, está ocupado mobilizando seus ativistas, a organização de esquerda PAZ AGORA está reunindo seus próprios seguidores para confrontar e deter os colonos.

O projeto volátil, que já levou a uma séria violência, recebeu apoio significativo de figuras públicas de direita e religiosas, incluindo deputados, ex-ministros, rabinos e prefeitos de assentamentos, que falam sobre a importância de tais esforços em termos ideológicos e religiosos.

Esse apoio público ao que é visto por outros como um empreendimento ilegal que atropela o Estado de Direito demonstra o quão dividida a sociedade israelense está se tornando sobre a questão do assentamento na Cisjordânia.

Ativistas participam de uma marcha de protesto contra o “Acordo do Século” do presidente dos EUA Donald Trump, com uma tentativa de estabelecer um novo assentamento chamado “Maalot Halhul” perto de Hebron em 30 de junho de 2020. Ativistas do Movimento de Assentamento Nachalá estiveram envolvidos nos esforços para estabelecer o posto avançado. (Gershon Elinson/Flash90)

O PLANO

O Movimento de Assentamento de Nachalá vem trabalhando no que chama de ‘Operação Torre e Paliçada’ desde abril. Eles planejam estabelecer três novos postos avançados em locais não revelados na Cisjordânia, na próxima quarta-feira.

Novos assentamentos na Cisjordânia só podem ser legalmente estabelecidos através de uma resolução de gabinete ministerial, e com a autorização do Ministro da Defesa. Assentamentos ou postos avançados não autorizados, estabelecidos fora deste quadro, são ilegais.

No entanto, o Nachalá diz que tem centenas ou milhares de ativistas preparando-se para participar de seu esforço para criar novos postos avançados de assentamento.

A ideologia por trás do Nachalá

Em comentários no início desta semana, o diretor do Nachalá, Tzvi Elimelech Sharbaf, expôs o objetivo do projeto em termos simples.

“Estamos fazendo uma demanda clara. Diga ‘não’ aos árabes que assumem o controle de espaços abertos [na Área C da Cisjordânia], e diga ‘sim’ aos judeus que assumem o controle de todos esses espaços abertos”, disse Sharbaf em um vídeo de conteúdo promovido no site de notícias da direita Israel National News.

A Área C refere-se às partes da Cisjordânia onde Israel mantém controle total civil e de segurança. Cerca de 330.000 palestinos e 450.000 colonos israelenses vivem nos 60% da Cisjordânia que compõem a Área C.

Ayelet Shlissel, porta-voz do Nachalá, disse que a iniciativa de assentamento tinha raízes bíblicas e deveria manter a terra fora do controle palestino: “A nós [o povo judeu] foi prometida a Terra de Israel na Bíblia. A Terra de Israel foi prometida a Abraão, nosso antepassado”, disse ela.

“Se não estabelecermos assentamentos, os árabes tomarão esta terra. Os árabes estão tomando conta da terra na Área C, então nosso objetivo é exigir que novos assentamentos sejam construídos lá”, disse ela.

Grupos ativistas de assentamentos e políticos de direita têm protestado cada vez mais nos últimos anos contra a construção ilegal palestina na Área C. Mas as licenças de construção raramente são emitidas para projetos de habitação palestinos na Área C, de acordo com a ONU.

A União Europeia fornece vários milhões de euros por ano para o desenvolvimento palestino na Área C, que os grupos ativistas dos colonos argumentam que muitas vezes viola a lei israelense.

“Nenhum outro país do mundo permitiria que suas terras fossem apreendidas desta maneira”, disse Schlissel.

O plano da ação

Ela explicou que a estratégia por trás da operação é que os ativistas desçam em massa até o local onde foram alocados, estabeleçam presença lá e declarem o local como um novo assentamento.

O Nachalá organizou seus ativistas em 28 “núcleos centrais” cada um compreendendo aproximadamente 5 a 10 famílias, juntamente com um número maior de jovens, alunos do ensino médio ou jovens estudantes yeshivá.

Cada núcleo central tentará estabelecer seu próprio posto avançado de assentamento, embora apenas três se proponham a fazê-lo nesta semana.

Schlissel disse que não tinha certeza se estruturas temporárias seriam erguidas nesses locais, embora ativistas do Nachalá tenham simulado uma demonstração de como construir tais edificações no centro de Tel Aviv no início desta semana.

“Se o público vier em massa, tenho certeza de que teremos sucesso”, disse ela, embora tenha reconhecido a probabilidade de que a polícia e o exército provavelmente tentariam removê-los em curto prazo.

“Se voltarmos na semana seguinte e em duas semanas, tenho certeza que algo vai mudar. É assim que sempre funcionou com os assentamentos na Judéia e Samaria [Cisjordânia Ocupada]. A determinação do público em dizer que não abandonaremos a terra para o inimigo funciona”, disse ela.

Questionado se acreditava ou não que os ativistas do Nachalá estariam infringindo a lei, Schlissel afirmou que há definições diferentes do que é legal ou ilegal, e acrescentou que o grupo não pretendia estabelecer postos avançados em terras privadas palestinas, o que foi proibido desde uma decisão histórica da Suprema Corte em 1979.

Uma missão de exploração fatal


Em preparação para a próxima operação, ativistas do Nachalá realizaram várias missões de reconhecimento no final de junho para identificar locais adequados para novos assentamentos, e a organização postou fotos dessas viagens em suas plataformas de mídia social.

Uma dessas missões de reconhecimento terminou na morte de um homem palestino, quando um grupo de ativistas, aparentemente procurando um local adequado para um novo posto avançado perto do assentamento de Ariel, foi confrontado por palestinos da cidade vizinha de Iskaka.

A violência eclodiu e, em circunstâncias contestadas, um membro do grupo ativista dos colonos esfaqueou um dos manifestantes palestinos, Ali Hassan Harb, no peito. Harb, 27 anos, morreu devido aos ferimentos.

Imagens de vídeo de pouco antes do incidente mostram pelo menos um dos ativistas colonos segurando um implemento de escavação, ostensivamente para preparar o terreno para a criação de um posto avançado.

Adi Keidar, advogado do principal suspeito do esfaqueamento, cujo nome está sob ordem de sigilo, confirmou ao The Times of Israel que o agressor estava participando de uma missão de reconhecimento para o Nachalá.

Schlissel insistiu, no entanto, que o grupo de colonos envolvidos no confronto não era do Nachalá e estavam apenas em uma caminhada.

Em 22 de junho, dia do esfaqueamento fatal, o Nachalá postou em seu perfil no Twitter que seus ativistas haviam iniciado um dia de visitas de reconhecimento no assentamento de Peduel, a 30 minutos de Iskaka. O tweet indicou, no entanto, que o grupo viajou para o sul depois de deixar Peduel, longe de Iskaka.

Em outro tweet no dia seguinte, a organização disse que seus ativistas tinham ido examinar um possível local perto do posto avançado de Pnei Kedem, nordeste de Hebron.

E na semana passada, a organização disse no Facebook que seus ativistas haviam percorrido um local conhecido como Maalot Halhul, uma antiga base do exército, onde o Nachalá tentara duas vezes estabelecer um posto avançado em julho e dezembro de 2020.

Modelo para estabelecimento de postos avançados não autorizados

A organização fez várias tentativas de criar novos postos avançados no passado, mais notavelmente quando estabeleceu o posto avançado de Evyatar ao sul de Nablus em maio de 2021.

Local de outra antiga base do EDI, Evyatar foi voluntariamente evacuado pelos ativistas do Nachalá em julho daquele ano, depois que o grupo chegou a um acordo com o governo de que as estruturas do local não seriam destruídas até que uma revisão sobre a propriedade da terra em Evyatar fosse concluída.

Schlissel citou favoravelmente o que aconteceu em Evyatar como modelo para o tipo de ativismo que sua organização planeja para esta próxima semana, observando que “a bandeira de Israel agora flutua em Evyatar e os soldados do EDI ficam de guarda lá”.

Pouco depois da evacuação de Evyatar, o Nachalá tentou estabelecer outro posto avançado chamado Aliot Eliyahu a leste da cidade palestina de Tubas em julho de 2021.

Em preparação para sua última operação, Nachalá divulgou suas intenções em toda parte, inclusive em conteúdo promovido em veículos de notícias de direita, como a Israel National News, e inúmeras postagens no Facebook, Twitter e Instagram.

Tem usado as plataformas para convidar potenciais participantes a participar do projeto, anunciar seminários preparatórios online e chamar a atenção para sua campanha de crowdfunding para a iniciativa.

De acordo com Nachalá, ele levantou cerca de 3 milhões de NIS (US$ 856.000) em financiamento até agora, de cerca de 5.000 doadores, e atraiu mais de 500 participantes para uma videoconferência no início desta semana.

A organização preparou 3.000 kits para os ativistas que incluem carregadores de telefone portáteis, luminárias solares, galões de 20 litros para água, latrinas portáteis, produtos para higiene pessoal, etc…

Os kits serão distribuídos a todos os ativistas participantes antes da quarta-feira.

Apoio público para o empreendimento

A Operação ‘Torre e Paliçada’ recebeu apoio público de deputados do Knesset e prefeitos de assentamentos.

Na quinta-feira, o líder do ‘Partido Sionismo Religioso’ [extrema-direita racista] e ex-ministro dos transportes, deputado Bezalel Smotrich, endossou o empreendimento e pediu à população doações para a campanha de arrecadação de fundos do Nachalá .

“Qualquer um que possa abrir seu coração e seu bolso, deve fazer parte dessa mitzvá (obrigação religiosa) de se assentar na Terra da maneira mais bonita”, disse Smotrich, ex-membro do gabinete de segurança, em uma declaração em vídeo postada na página do Nachalá no Facebook.

O rabino-chefe de Jerusalém, Aryeh Stern, deu a bênção ao projeto em uma conferência na noite de quarta-feira, enquanto o chefe do Conselho Regional de Samaria [assentamentos do norte da Cisjordânia], Yossi Dagan, e o prefeito do assentamento Beit El, Shai Alon, também endossaram o projeto.

Oposição à operação


Toda essa preparação não passou despercebida.

A organização PAZ AGORA, que se opõe fortemente ao movimento de assentamento, tem procurado chamar a atenção para o que chama de “operação criminosa” que está sendo planejada por Nachalá.

Na quarta-feira, o PAZ AGORA enviou uma carta ao primeiro-ministro Yair Lapid pedindo-lhe que instruisse o ministro da Defesa Benny Gantz e o ministro da Segurança Interna Omer Barlev para impedir a operação planejada e processar aqueles que a planejam pressionando os cidadãos a realizar atividades ilegais.

O PAZ AGORA também disse que formou sua própria unidade ativista, somando várias dezenas de voluntários, que irão para a Cisjordânia e tentarão impedir fisicamente os ativistas do Nachalá de criar os novos postos avançados.

Alec Yefremov, chefe de atividades públicas do PAZ AGORA , reconheceu que tal ação poderia levar a confrontos violentos entre os dois lados, mas disse que sua organização estava tomando medidas à luz do que disse ser o fracasso do Estado em impedir a criação de outros postos avançados.

“Em 20 de julho, uma gangue muito perigosa realizará um ataque terrorista contra os interesses do Estado de Israel e do Estado de Direito, e criará postos avançados que servirão como estufas para roubar terras e para semear terroristas judeus”, disse Yefremov.

Ele disse que os ativistas do PAZ AGORA “são pessoas que amam o Estado e estão vindo para deter aqueles que estão agindo contra os interesses deste país”.

Dror Etkes, um veterano ativista anti-assentamento, disse acreditar que o esforço para estabelecer vários postos avançados ao mesmo tempo era sem precedentes.

Ele também disse que não se lembrava de uma situação em que uma organização tenha declarado publicamente com antecedência que iria infringir a lei.

“O modelo antigo era que os colonos secretamente saíam e criavam um posto avançado e depois tentavam lidar com a reação do Estado”, disse Etkes.

“Mas estamos vivendo em tempos diferentes agora, em que as pessoas não se importam que a lei esteja sendo quebrada. Isso mostra que há setores em crescimento neste país que acham que a lei é apenas uma sugestão.”

A polícia e o FDI recusaram-se a responder a pedidos de comentários sobre como lidarão com a operação do Nachalá ou enfrentarão possíveis conflitos entre seus ativistas e os do PAZ AGORA .



==> Leia o Comunicado do Movimento PAZ AGORA de 05|07|2022 

VAMOS DETER OS TERRORISTAS DOS POSTOS AVANÇADOS

Ato inter-religioso “Bruno e Dom presentes: em defesa dos povos indígenas do Brasil
Venha participar do ato promovido pela Frente Dom Paulo Evaristo Arns com o apoio da Comissão Arns, do Instituto Vladimir Herzog e da OAB-SP

Apoio Amigos Brasileiros do PAZ AGORA

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Data: sábado, 16 | julho | 2022
 Horário: 10h00-11h30
 Local: Catedral da Sé

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Leia e assine o Manifesto:
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