Esta foi a maior conquista do sionismo

Há uma discussão incessante sobre guerras e luto em Israel. Muito pouco é dito sobre o acordo de paz de Israel com o Egito e suas conquistas surpreendentes e duradouras.

ביקור בגין מצרים

 
Begin e Sadat, reunidos no Cairo em 1979. Por mais fria e alienada que seja, a paz era e continua sendo um sonho. Crédito: Moshe Milner / GPO
Uri Misgav
[ por  Uri Misgav   |  Haaretz  |   01|07|2013  |  traduzido pelo PAZ AGORA|BR  |  WWW.PAZAGORA.ORG ]
 
 
 

No espírito da época e do lugar, à (justificada) preocupação com a cadeia de deslizes e fracassos militares que levaram ao ataque e seus resultados, veio o palavreado do deserto tóxico do Canal de TV 14 ( “… batalhões mistos [soldados com soldadas] são prejudiciais para a capacidade operacional….., as regras de engajamento algemam as tropas de combate…”). Uma das representantes do Tea Party israelense no Knesset, Tally Gotliv, chegou a repreender o governo egípcio (“Sr. Ministro da Defesa do Egito, não zombe da inteligência do povo de Israel…).

Surpreendentemente, o coro de ressentimentos e rancores foi acompanhado por uma voz do Haaretz. “A verdade é que o acordo de paz entre Israel e o Egito é uma ficção, escreveu Chaim Levinson. “É mais um pacto de não agressão que atende aos interesses das elites de segurança egípcia e israelense… Todo governo israelense desde os dias de Menachem Begin negligenciou o requisito básico para os países com os quais Israel tem paz: tomar medidas contra o anti-semitismo e o anti-israelismo… O Egito , por algum motivo, é uma vaca sagrada…”

Isso é um absurdo que reflete uma perspectiva populista, mal-entendidos estratégicos e miopia histórica. É importante responder a ela, porque reflete uma concepção muito difundida entre os que aqui nasceram depois de 1973. Resumindo: A gente se acostumou com a boa vida, a gente se acostumou rápido. A paz com o Egito é percebida como evidente, e suas manifestações cotidianas ocasionalmente causam insatisfação e desconforto. É claro que isso é uma distorção absoluta da realidade.

A paz com o Egito é, sem dúvida, a maior conquista do sionismo. O Egito, líder do mundo árabe e seu país mais populoso, estava em estado de guerra com Israel desde o estabelecimento do Estado judeu. A ameaça que representava era existencial e era vivida como tal. Na perspectiva historiográfica que está se enraizando atualmente, a frente israelo-egípcia de 1948 a 1973 pode ser caracterizada como uma “guerra de 25 anos” em andamento. Incluiu cinco confrontos oficiais: a Guerra da Independência, a Guerra do Sinai, a Guerra dos Seis Dias, a Guerra do Atrito e a Guerra do Yom Kippur. No primeiro e no último deles, o exército egípcio invadiu as fronteiras que Israel defendia, e na véspera do terceiro deles uma nuvem de destruição pairou sobre Israel, cujos cidadãos começaram a preparar valas comuns.

Antes de 1973, uma maioria significativa dos eventos em que israelenses foram mortos, feridos e capturados em guerras e em missões de segurança de rotina ocorreram na frente egípcia. A maioria dos israelenses que serviram como soldados de combate ou em unidades de apoio ao combate o fizeram sob ameaça e fogo egípcios. O poder do Egito e sua aliança estratégica com a União Soviética permitiram unir o mundo árabe atrás de si e criar um eixo egípcio-sírio ameaçador, que agarrou e paralisou o Estado judeu, estratégica e mentalmente. Israel não poderia sequer aspirar à normalidade ou sonhar em se integrar à região.

Egypt & Israel – 40 Years of Peace

It was on Saturday night, November 19th exactly 40 years ago that Egyptian President Anwar Sadat’s plane landed in Israel, President Sadat’s speech at the Israeli Parliament – the Knesset – was an important landmark in the long journey to peace between Israel & Egypt.

O tratado de paz com o Egito, assinado em 1979, transformou radicalmente essa situação. Seu produto físico era uma longa fronteira de 240 quilômetros ), surpreendentemente silenciosa em termos estratégicos. É verdade que há atividade criminosa de contrabando, vigorosa e em expansão (drogas, armas, trabalhadores migrantes, refugiados). Mas o número de confrontos dolorosos envolvendo seguranças egípcios e terroristas que se infiltraram do território egípcio pode ser contado nos dedos de uma mão. A necessidade israelense de manter a vasta península desértica do Sinai, que na década anterior ao tratado de paz foi considerada sacrossanta, como uma região de alerta e defesa antecipada, tornou-se supérflua. Juntamente com o tratado de paz assinado pelo governo Rabin em 1994 com a Jordânia – outra grande conquista do sionismo,

Esse desenvolvimento transcende em muito as fronteiras e os militares. Como parte do acordo de paz, o Egito reconheceu a existência de Israel e o direito dos israelenses de viver e prosperar no Oriente Médio. Na esteira do Cairo vieram os jordanianos, os palestinos (a Conferência de Madri, os Acordos de Oslo), os Estados do Golfo (os Acordos de Abraham, que foram precedidos por acordos de normalização e laços econômicos), os países do norte da África e até os sírios, que mantiveram intensas conversações com os governos Rabin, Netanyahu e Barak.



Por isso, é intrigante constatar quão pouco se fala e menciona a paz com o Egito na rua israelense – quando deveria ser motivo de celebração e júbilo. Em Israel, há discussões e deliberações incessantes sobre as guerras e o terrível luto que elas trazem consigo, e as batalhas das operações militares são analisadas em detalhes. Estamos prestes a ser inundados por uma onda de publicações comemorando o aniversário de meio século da Guerra do Yom Kippur . Mas quantos israelenses sabem a data histórica em que o tratado de paz gerado por aquela guerra foi assinado no gramado da Casa Branca (26 de março de 1979)? Por que as consequências dramáticamente positivas relacionadas ao acordo não são ensinadas – quem sabe quantos caixões e famílias despedaçadas o tratado nos poupou?

É uma fascinante saga diplomática, repleta de altos e baixos. Começou com as negociações dos oficiais sobre um cessar-fogo no quilômetro 101 ao longo da estrada que liga Cairo e Suez, e continuou com o Acordo Provisório em 1975; com conversas secretas e emocionantes no Marrocos e em outros lugares; com a enérgica mediação americana da qual participaram três governos; e, claro, com a visita seminal do presidente Anwar Sadat a Jerusalém, seguida pelos acordos de Camp David e a retirada de Israel do Sinai. Como resultado, o Egito foi expulso da Liga Árabe, denunciado como traidor e isolado no mundo muçulmano.

Para a maioria dos israelenses, essa é uma história amplamente esquecida. Também foram esquecidas as suspeitas e desconfianças sobre a iniciativa egípcia (o chefe do Estado-Maior das FDI, Mordechai (Motta) Gur, estava convencido até o último minuto de que uma força de comando egípcia invadiria o aeroporto de Lod do avião de Sadat), e os contra- a oposição política insignificante em Israel ao acordo finalmente alcançado e à evacuação dos assentamentos surrealistas no Sinai; há pessoas que ainda choram por eles.

Agora vem Levinson e reclama dos egípcios: Eles não são legais, eles não gostam de nós. No nível do intestino, há algo nisso. O ódio a Israel é muito difundido entre as massas nos países árabes. Isto é deprimente, perturbador e preocupante. No entanto, é justo observar a este respeito a parte do tratado de paz que não foi implementada: o acordo de Israel para a concessão de autonomia aos palestinos e para chegar a uma futura solução permanente para o conflito judaico-palestino.

Por outro lado, centenas de milhares de israelenses se divertem todos os anos, quase sempre em total segurança, nas praias do Sinai, sem sequer a exigência de visto. Há uma travessia terrestre em funcionamento em Eilat-Taba e uma travessia ativa para mercadorias comerciais em Nitzana. Voos estão disponíveis de Israel para o Cairo e para Sharm el-Sheikh. A cooperação diplomática de segurança entre os dois países possibilitou um esforço conjunto contra as células terroristas no Sinai, e os egípcios estão muito envolvidos em um papel mediador e de apoio em relação à Faixa de Gaza.

O acordo de paz sobreviveu a duas guerras israelenses no Líbano, duas intifadas, dois assassinatos de líderes por fanáticos fundamentalistas, mudanças de governos e governantes e até mesmo um governo de curto prazo dos Irmãos Muçulmanos no Egito. 

Por mais fria e alienada que fosse, a paz era e continua sendo um sonho. “Felizes somos nós por termos conseguido isso”, declarou Menachem Begin após a evacuação e retirada do Sinai. “Sim, há dificuldades na paz, há. Há dores na paz, há. Existem vítimas em nome da paz, existem. Todos são preferíveis às vítimas da guerra.”

ABC News – Death on the Nile: Anwar Sadat

Summary from the VHS Box – “The story of Egyptian President Anwar Sadat, who turned his back on history and wishes of the nation he led to begin the struggle for peace in the Middle East and lost his life in the process, cut down by assassin’s bullets.”

 

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