[ por David Gritten e Yolande Knell | BBC News Brasil 30/05/2025 ]
Por que a maior expansão de Israel na Cisjordânia em décadas pode inviabilizar o Estado Palestino?
Ministros israelenses afirmam que 22 novos assentamentos judeus foram aprovados na Cisjordânia ocupada — a maior expansão em décadas.
Vários já existem como postos avançados, construídos sem autorização do governo, mas agora serão legalizados de acordo com a lei israelense. Outros são completamente novos, segundo o ministro da Defesa, Israel Katz, e o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich.
Os assentamentos — que são amplamente vistos como ilegais pelo direito internacional, embora Israel conteste isso — são uma das questões mais controversas entre Israel e os palestinos.
Katz disse que a medida “impede o estabelecimento de um Estado palestino que colocaria Israel em perigo”, enquanto a presidência palestina classificou a iniciativa como uma “escalada perigosa”.
A organização israelense Peace Now (PAZ AGORA), que monitora a expansão e se opõe aos assentamentos, classificou a ação como “a mais abrangente do tipo” em mais de 30 anos — e alertou que a medida “transformaria drasticamente a Cisjordânia e consolidaria ainda mais a Ocupação”.
Israel construiu cerca de 160 assentamentos que abrigam aproximadamente 700 mil judeus desde que ocupou a Cisjordânia e Jerusalém Oriental — terras que os palestinos reivindicam, assim como Gaza, para seu almejado futuro Estado — na Guerra dos Seis Dias de 1967. Estima-se que 3,3 milhões de palestinos vivam ao lado deles.
Sucessivos governos israelenses permitiram o crescimento dos assentamentos. Mas a expansão aumentou acentuadamente desde que o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, voltou ao poder no fim de 2022, à frente de uma coalizão de direita, pró-colonos, assim como no início da guerra em Gaza, desencadeada pelo ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023.
Nesta quinta-feira (29/5), Israel Katz e Bezalel Smotrich — líder ultranacionalista que tem controle sobre o planejamento na Cisjordânia — confirmaram oficialmente uma decisão que acredita-se ter sido tomada pelo governo há duas semanas.
Um comunicado anunciou que eles haviam aprovado 22 novos assentamentos, a “renovação do assentamento no norte de Samaria [norte da Cisjordânia] e o fortalecimento do eixo oriental do Estado de Israel”.
O texto não inclui informações sobre a localização exata dos novos assentamentos, mas os mapas que estão circulando sugerem que eles vão estar espalhados por toda a Cisjordânia.
Katz e Smotrich destacaram o que descreveram como “retorno histórico” a Homesh e Sa-Nur, dois assentamentos no norte da Cisjordânia que haviam sido evacuados ao mesmo tempo em que Israel retirou suas tropas e colonos de Gaza em 2005.
Há dois anos, um grupo de colonos estabeleceu uma escola religiosa judaica e um posto avançado não autorizado em Homesh, que, segundo o PAZ AGORA, estaria entre os 12 assentamentos legalizados pela lei israelense.
Nove dos assentamentos seriam completamente novos, de acordo com a agência de monitoramento. Eles incluem Mount Ebal, ao sul de Homesh e próximo à cidade de Nablus, e Beit Horon Norte, a oeste de Ramallah, onde a construção já havia começado nos últimos dias, segundo a organização.
O último dos assentamentos, Nofei Prat, era atualmente considerado oficialmente um “bairro” de outro assentamento próximo a Jerusalém Oriental, Kfar Adumim, e agora seria reconhecido como independente, acrescentou o PAZ AGORA.
Katz disse que a decisão foi um “movimento estratégico que impede o estabelecimento de um Estado palestino que colocaria Israel em perigo, e serve como uma proteção contra nossos inimigos”.
“Essa é uma resposta sionista, de segurança e nacional — e uma decisão clara sobre o futuro do país”, acrescentou.
Smotrich chamou a medida de uma “decisão única em uma geração”, e declarou: “A próxima etapa é a soberania!”
Mas um porta-voz do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas — que governa partes da Cisjordânia que não estão sob total controle israelense —, classificou a decisão como uma “escalada perigosa”, e acusou Israel de continuar a arrastar a região para um “ciclo de violência e instabilidade”.
“Esse governo israelense extremista está tentando, por todos os meios, impedir o estabelecimento de um Estado palestino independente”, afirmou Nabil Abu Rudeineh à agência de notícias Reuters.
Lior Amihai, diretor do PAZ AGORA, acrescentou: “O governo israelense não finge mais – a anexação dos territórios ocupados e a expansão dos assentamentos é seu objetivo central.”
Elisha Ben Kimon, jornalista israelense do popular site de notícias Ynet que cobre a Cisjordânia e os assentamentos, disse ao programa Newshour, da BBC, que de 70% a 80% dos ministros queriam declarar a anexação formal da Cisjordânia.
“Acho que Israel está a poucos passos de declarar esta área como território israelense. Eles acreditam que este período nunca mais vai voltar, esta é uma oportunidade que eles não querem perder — é por isso que estão fazendo isso agora”, afirmou Ben Kimon ao Newshour.
Israel anexou efetivamente Jerusalém Oriental em 1980, em uma ação não reconhecida pela grande maioria da comunidade internacional.
Soldados israelenses escoltam colonos na reimplantação de Homesh em maio de 2023
Esta última medida é um golpe contra os esforços renovados para reavivar o ímpeto de uma Solução de Dois Estados para o conflito entre Israel e os palestinos, que já dura décadas — a fórmula internacionalmente aprovada para a paz que propõe a criação de um Estado Palestino independente ao lado de Israel — com uma cúpula franco-saudita planejada na sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York no próximo mês.
O Ministério das Relações Exteriores da Jordânia condenou o que chamou de “violação flagrante do direito internacional” que “prejudica as perspectivas de paz ao consolidar a Ocupação”.
Hamish Falconer, do Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido, disse que a medida era “um obstáculo deliberado à criação do Estado Palestino“.
Desde que assumiu o poder, o atual governo israelense decidiu estabelecer um total de 49 novos assentamentos, e iniciou o processo de legalização de sete postos avançados não autorizados, que serão reconhecidos como “bairros” de assentamentos existentes, de acordo com o PAZ AGORA.
No ano passado, o principal tribunal da ONU emitiu um parecer consultivo afirmando que “a presença contínua de Israel no Território Palestino Ocupado é ilegal”. A Corte Internacional de Justiça (CIJ) também afirmou que os assentamentos israelenses “foram estabelecidos e estão sendo mantidos em violação ao direito internacional”, e que Israel deveria “retirar todos os colonos”.
Netanyahu disse na época que o tribunal havia tomado uma “decisão de mentiras”, e insistiu que “o povo judeu não é ocupante da sua própria terra”
AMIGOS BRASILEIROS DO PAZ AGORA:
CISJORDÂNIA E GAZA SÃO DO POVO PALESTINO !!
LUGAR DE NETANYAHU É NA CADEIA
– EM HAIA !!

Israel está submetendo população de Gaza ‘à fome forçada’, diz alto funcionário da ONU à BBC
- [ Fergal Keane | correspondente eapecial | BBC News Brasil 30/05/2025 ]
O subsecretário-geral de ajuda humanitária da Organização das Nações Unidas (ONU), Tom Fletcher, afirmou que as pessoas em Gaza estão sendo submetidas à fome forçada por Israel.
Em entrevista à BBC, ele disse acreditar que isso levou a uma mudança na resposta internacional a Gaza.
Questionado se sua avaliação de fome forçada equivalia a um crime de guerra, ele respondeu: “Sim. É classificado como um crime de guerra. Obviamente, estas são questões para os tribunais julgarem e, em última análise, para a história julgar.”
Fletcher também lamentou ter dito recentemente que 14 mil bebês poderiam morrer em 48 horas em Gaza se não fosse permitida a entrada de ajuda humanitária — uma afirmação que a ONU posteriormente retirou —, e reconheceu a necessidade de ser “preciso” com a linguagem.
Israel começou a permitir a entrada de ajuda humanitária limitada em Gaza na semana passada, depois que um bloqueio de quase três meses interrompeu a entrega de suprimentos como alimentos, medicamentos, combustível e abrigo.
Também retomou sua ofensiva militar duas semanas depois de impor o bloqueio, encerrando um cessar-fogo de dois meses com o Hamas.
Israel disse que as medidas tinham o objetivo de pressionar o grupo armado a libertar os 58 reféns ainda mantidos em Gaza, dos quais acredita-se que pelo menos 20 estejam vivos.
Desde a flexibilização do bloqueio, cenas de caos foram testemunhadas nos centros de distribuição de ajuda humanitária administrados pela Gaza Humanitarian Foundation (GHF) — um grupo apoiado pelos EUA e por Israel.
A ONU, que se recusa a cooperar com a GHF, informou que 47 pessoas ficaram feridas no início desta semana depois que uma multidão se aglomerou em um dos centros.
“Estamos vendo alimentos sendo deixados nas fronteiras, e não sendo autorizados a entrar, quando há uma população do outro lado da fronteira que está passando fome, e estamos ouvindo os ministros israelenses dizerem que isso é para pressionar a população de Gaza”, afirmou Fletcher.
Ele disse que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, deveria repudiar “completamente” uma declaração feita pelo ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, que havia dito que as pessoas em Gaza estariam “totalmente desesperadas ao entender que não há esperança e nada a esperar em Gaza”, e buscariam realocação para começar “uma vida nova em outros lugares”.
“Esperamos que governos ao redor do mundo defendam o direito humanitário internacional, a comunidade internacional é muito, muito clara quanto a isso”, acrescentou Fletcher.
Ele pediu a Netanyahu que garanta que “esta linguagem e, em última análise, esta política… de desalojamento forçado, não seja implementada”.
Israel tem enfrentado cada vez mais críticas internacionais sobre sua conduta na guerra.
Na terça-feira (27/5), a chefe de política externa da União Europeia, Kaja Kallas, afirmou: “Os ataques israelenses em Gaza vão além do que é necessário para combater o Hamas”.
A declaração dela foi feita após uma intervenção do chanceler alemão Friedrich Merz, que declarou “não entender mais” os objetivos de Israel.
No início deste mês, os líderes do Reino Unido, da França e do Canadá pediram ao governo israelense que “interrompesse suas operações militares” e “permitisse imediatamente a entrada de ajuda humanitária em Gaza”. Em resposta, Netanyahu os acusou de estarem do lado do Hamas.
Em 14 de maio, Fletcher instou o Conselho de Segurança da ONU a agir para impedir o genocídio em Gaza.
Quando perguntado por que havia feito essa declaração, ele se referiu aos relatos de colegas que estavam em Gaza.
“O que eles estão relatando é desalojamento forçado. Estão relatando fome, tortura e mortes em grande escala”, afirmou.
Fletcher disse que nos casos de Ruanda, Srebrenica e Sri Lanka, “o mundo nos disse depois que não agimos a tempo, que não emitimos um alerta”.
“E este é o meu apelo ao Conselho de Segurança [da ONU] e ao mundo neste momento: ‘Vocês vão agir para impedir o genocídio?”
Fletcher foi alvo de fortes críticas de Israel depois de afirmar que 14 mil bebês em Gaza morreriam em 48 horas se não fosse permitida a entrada de ajuda humanitária no território.
O Ministério das Relações Exteriores de Israel acusou Fletcher de ignorar as atrocidades cometidas pelo Hamas e de fazer eco à sua propaganda. “Não é trabalho humanitário, é calúnia”, disse o ministério, na ocasião.
Fletcher afirmou: “No momento em que fiz esses comentários, estávamos tentando desesperadamente conseguir a entrada da ajuda humanitária”
“Disseram que não conseguiríamos, e sabíamos que provavelmente teríamos alguns dias, uma janela para conseguir o máximo de ajuda possível, e isso estava sendo negado, e estávamos desesperados para conseguir. Então, sim, precisamos ser totalmente precisos com nossa linguagem, e já esclarecemos isso.”
Questionado sobre sua afirmação — repudiada por Israel — de que milhares de caminhões estavam esperando na fronteira para entrar em Gaza, Fletcher repetiu que precisava ser especialmente “cuidadoso e muito preciso”.
Ele concordou que havia o risco de ser visto como alguém que estava exagerando a situação, mas acrescentou: “Não vou parar de falar sobre a necessidade de salvar essas vidas em Gaza, de salvar o maior número possível de sobreviventes. Esse é o meu trabalho, e tenho que fazer isso melhor, e vou fazer”.
Ele disse que a mediação e a negociação são o caminho para resolver a crise em Gaza, e repetiu seu apelo para que o Hamas liberte os reféns israelenses mantidos pelo grupo militante.
Palestinos desesperados por comida se aglomeraram em centros de distribuição administrados pela Gaza Humanitarian Foundation desde que o bloqueio foi flexibilizado
“Todos nós queremos ver esses reféns libertados e de volta às suas famílias”, ele afirmou.
“Não sei mais qual é o objetivo desta guerra. Acho que claramente foi além da libertação dos reféns. Fala-se muito em acabar com o Hamas.”
“E, claramente, como muitas pessoas disseram, não pode haver um papel para o Hamas na nova equação, na nova governança de Gaza e dos territórios palestinos.”
Fletcher rejeitou as alegações israelenses de que o Hamas estava roubando grandes quantidades de ajuda alimentar.
“Não quero que nenhuma parte desta ajuda chegue ao Hamas. Isso é importante para nós porque estes são nossos princípios: neutralidade, imparcialidade e independência. É do nosso interesse impedir que essa ajuda chegue ao Hamas, e garantir que ela chegue aos civis.”
“Como humanitário, meu interesse é apenas fazer chegar o máximo de ajuda possível, o mais rápido possível, e salvar o máximo de vidas que nos for permitido no tempo que temos.”
Fletcher também está lidando com crises na Ucrânia, Sudão e Síria, entre outras, e disse que o mundo está enfrentando um momento “profundamente perigoso”.
“O Conselho de Segurança está polarizado, dividido”, ele afirmou.
“Isso significa que é muito mais difícil acabar com os conflitos; os conflitos com os quais estamos lidando são mais ferozes, há mais impunidade, e estão durando mais tempo.”
“Está ficando cada vez mais difícil acabar com as guerras, e nós, profissionais humanitários… enfrentamos as consequências.”
Israel lançou uma campanha militar em Gaza em resposta ao ataque pela fronteira do Hamas em 7 de outubro de 2023, no qual cerca de 1,2 mil pessoas foram mortas e outras 251 foram feitas reféns.
Pelo menos 54.249 pessoas foram mortas em Gaza desde então, incluindo 3.986 desde que Israel retomou sua ofensiva, de acordo com o Ministério da Saúde do território administrado pelo Hamas.
Com reportagem adicional de Olivia Lace-Evans e Maarten Lernout.
CISJORDÂNIA E GAZA SÃO DO POVO PALESTINO !!
LUGAR DE NETANYAHU É NA CADEIA, EM HAIA !!
BASTA DE ASSASSINATOS !
CESSAR FOGO E
PAZ – AGORA !