A política de Israel em Gaza: receita para escalada

 

Não há razão discernível para duvidar da explicação  dada pelo porta-voz do exército de Israel, Brig. Gen. Hidai Zilberman, que chamou o comandante sênior da Jihad Islâmica em Gaza, Baha Abu al-Ata de “bomba relógio.” Alguém pode até acreditar que não havia outra opção a enviar a força aérea para eliminá-lo. Diferente do movimento palestino Fatah, a Jihad Islâmica não é um parceiro para um diálogo de paz. Diferente do Hamas, esta organização não é parceira para um cessar-fogo.  O Exército de Defesa de Israel (EDI) merece aplauso pela operação “altamente cirúrgica”, conforme Zilberman.

O representante do EDI deixou claro que o exército havia se preparado com vários dias de antecedência para ataques vindos de Gaza e providenciou defesa aérea e cobertura para moradores da região central de Israel, não apenas para os do sul. Noutras palavras, os tomadores de decisão levaram em conta o preço que centenas de milhares de israelenses teriam que pagar, assim como pagaram desde a primeiras horas de 12|11. A experiência acumulada em décadas de desarme de tais “bombas relógio” (ameaças a segurança) mostra que uma alternativa pode ser encontrada para cada bomba. Por outro lado, os israelenses ganham alguns meses de calma enquanto a organização terrorista concebe um herdeiro para seu líder assassinado.

Cena do ataque de Israel que matou o comandante da Jihad Islâmica Baha Abu al-Ata.
Gaza – |12|11|2019

Deixando de lado a análise de custo-benefício de matar líderes terroristas,  maus quanto possam ser, existe uma questão de timing. Zilberman disse que o exército aguardou uma semana por uma oportunidade de realizar o “ataque cirúrgico com um mínimo de vítimas civis”. Esta é uma explicação razoável para o aspecto tático do timing. Entretanto, toda operação israelense nos territórios ocupados tem uma dimensão política. Assim, por exemplo, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu fez de sua promessa de eliminar o Hamas o slogan de campanha para a eleição de 2006 pelo Likud. Pouco mais de uma década depois, Netanyahu arranjou um meio de sobrevivência para a mesma organização, com fundos do Qatar. O líder falcão do partido Yisrael Beitenu, Avigdor Liberman, advertiu em 2016 que Israel iria matar o líder do Hamas Ismail Haniyeh dentro de 48 horas, se ele não devolvesse israelenses detidos.  Pouco depois, justificou, após ser nomeado ministro da defesa, que Netanyahu o impediu de cumprir sua promessa.

Se esta era a realidade em tempos normais, com Israel conduzido por um governo com crédito público, isto vale em dobro para tempos como o presente, quando os tomadores de decisão em Israel não gozam da confiança da maioria do público. Quando Netanyahu incessantemente adverte das ameaças de segurança enfrentadas por Israel, para pressionar pela formação de um governo de unidade, com ele no comando, claro, é particularmente difícil traçar uma linha  entre o ataque militar que ordenou neste timing particular e os seus interesses pessoais-políticos como suspeito em três casos de corrupção . cujo julgamento deve ocorrer até o fim do ano.

BIBI NÃO TEM MANDATO PARA GUERRA

BIBI NÃO TEM MANDATO PARA GUERRA [PAZ AGORA]

À véspera das eleições de 17|9, o Promotor Geral Avichai Mandelblit bloqueou uma tentativa de Netanyahu ordenar uma ofensiva militar em Gaza, à revelia dos principais comandantes do país, de forma a se vingar de sua embaraçosa evacuação forçada de um comício eleitoral na cidade de Ashdod quando um alarme advertiu sobre um foguete que vinha de Gaza.

Não só considerações de segurança devem ser isentas de considerações inapropriadas, mas devem ser assim percebidas aos olhos de Israel e do mundo.   Mas como se poderia ver com equanimidade a decisão recente de Netanyahu de apontar o político de extrema-direita Naftali Bennett como ministro da defesa? Há apenas dois anos, em novembro de 2016, Netanyahu classificou o homem que agora é responsável pela segurança do Estado como “infantil e irresponsável”.  O deputado pelo Likud, Gen; Res.Yoav Galant, que também pretendia a pasta da defesa, exprimiu seu desprazer  e descreveu a nomeação de Bennett como “irresponsável e inapropriada”. Disse: “Há limites, mesmo em política”

Mesmo se a reação de apoio do líder do Azul e Branco, Benny Gantz à operação do EDI não tivesse partido de considerações políticas expressas, aqui e agora ela pode ser percebida como tentativa de tirar vantagem da séria situação de segurança  para catapultá-lo para o próximo governo. Pesquisas de opinião indicam que os israelenses apreciam uma política de pulso de ferro com os palestinos.

A combinação de crise de segurança com crise política deve servir como oportunidade para restabelecer para a agenda a crise crítica no processo de paz  com os palestinos, que foi afastado para bem longe  do palco central do debate político.

Mais uma vez, a política de Israel isolar Gaza do mundo gira o tabuleiro da noite para o dia e isola a região central de Israel, mandando os moradores para os abrigos fechando escolas, negócios e escritórios. Agora, os moradores das comunidades na fronteira de Gaza não são mais os únicos reféns do isolamento — os moradores de Tel Aviv também são.

 

Akiva Eldar é colunista do Al-Monitor’s Israel Pulse. Foi colunista, editorialista e correspondente diplomático do Haaretz.  Seu mais recente livro (com Idith Zertal), “Lords of the Land” [Senhores da Terra], sobre os assentamentos judeus, esteve na lista de best-sellers em Israel e foi traduzido para Inglês, Francês, Alemão e Árabe.

 

[ por Akiva Eldar publicado no www.ak-monitor.com/pulse/israel |12|11|2019 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]

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