Israel Declara GUERRA à ÁGUA dos Palestinos

Família Hamamdi

[ por Natasha Westheimer | Haaretz | 30|09|2021 ]

Em 17|09, juntei-me a um grupo de ativistas na região de Masafer Yatta, Cisjordânia, para acompanhar um caminhão de entrega de água à família Hamamdi, três pessoas que vivem num pequeno vilarejo sem acesso a água corrente.

Os militares israelenses receberam nossos esforços com uma barragem de gás lacrimogênio. No início da tarde, eu estava num quarto de emergência em Jerusalém, com um osso de minha mão quebrado.

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A família Hamamdi vive numa casa a poucas centenas de metros do assentamento israelense de Avigayil. E, embora Avigayil seja um posto avançado ilegal até mesmo sob a lei israelense, está conectada ao sistema de água, privilégio que o exército não concede aos vizinhos palestinos do assentamento.

Em vez disto,a família Hamamdi é forçada a trazer sua água em caminhões-tanques. Devido às restrições israelenses ao desenvolvimento de estradas locais, as entregas só podem ser feita por veículos 4×4 ‘fora de estrada’ com tanque acoplado. A família paga pelo menos cinco vezes o que eu pago pela água em Jerusalém. Os obstáculos crescem: com a recnte expansão de Avigayil, os motoristas estão muito menos propensos a assumir o risco na estradas esburacadas sob ameaça da violência dos colonos.

Nunca conseguimos entregar a água. Segundos após nossa chegada, o exército nos dispersou com granadas de efeito moral, gás lacrimogênio e violência física extrema, jogando alguns de nós sobre a estrada e detendo outros pressionando seus joelhos em nossos pescoços e nos vendando. A família para quem estávamos tentando entre a água passou mais um dia sem obter suas necessidades básicas.

O grau de violência foi grande o suficiente para chamar a atenção da grande mídia de Israel, e o exército até abriu uma investigação e censurou o oficial responsável pelo comportamento violento. Mas a questão principal permanece: Nada sobre o incidente de 17 de setembro foi anormal. Os esforços do governo, do exército e do movimento dos colonos para restringir o acesso dos palestinos à água fazem uso ustansivo de demolições e confiscos.

A violência, direta ou indireta, é fundamental para o controle israelense sobre os direitos dos palestinos à água.

Na região de Masafer Yatta, neste ano, autoridades israelenses arrancaram e destruíram uma rede crítica de suprimento de água. Realizaram exercícios militares em áreas residenciais e agrícolas, que danificaram encanamentos e cisternas. Demoliram um poço para coleta de águas pluviais e uma das muitas comunidades locais privadas de acesso a água encanada. Alvejar a infraestrutura hidáulica é uma forma precisa e brutal de tornar impossível a vida dos palestinos, especialmente na Área C.

Esta violência militar é reforçada pela violência dos colonos. Nesta semana, dezenas de colonos mascarados causaram estragos no vilarejo de família Hamamdi, ferindo 12 moradores, incluindo uma criança de três anos. E destruíram tudo o que puderam, incluindo tanques de água. Em Masafer Yatta, sete assentamentos ilegais foram criados somente neste ano. Todos contribuíram para um aumento na violência dos colonos através da Cisjordânia.

Muitos desses novos assentamentos ilegais são localizados em áreas de pastagem de propriedade de palestinos, assim destruindo o meio-ambiente, as terras e os meios de subsistência dos moradores da região.

Os pastores enfrentaram assédios e ataques desses colonos quando tentavam acessar água para o seu rebanho. Ativistas solidários nao são imunes à violência. Em maio, dois deles, que acompanhavam um pastor palestino, foram brutalmente atacados por colonos que bloqueavam o acesso a uma fonte. Enquanto a maior parte dos assentamentos israelenses são ligados a um fornecimento de água, os colonos são conhecidos por tomar as fontes e bicas de água para usos recreativos e religiosos.

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A violência do Estado de Israel e dos colonos ilegais contra o acesso à água pelos palestinos não está limitade à região de Masafer Yatta. Um terço da infra-estrutura hídrica de Gaza foi destruída durante a guerra mais recente, e Israel se recusa a reconhecer os direitos a lençóis freáticos acordados nos Acordos de Oslo, 25 anos atrás. Como resultado, o suprimento de água aos palestinos está muito abaixo dos padrões da World Health Organization, e o acesso diário é muito menor do que o que israelenses (e colonos) recebem.

A violência ocorrida antes de 17 de setembro foi horripilante, mas foi só mais uma manifestação de décadas de políticas e ações israelenses. Enquanto os noticiários da mídia já focalizam outras questões, a família Hamamdi não recebeu nem respeito nem soluções. Se as práticas sistemáticas e a crescente tendência de violência continuarem como sinais do futuro, assegurar qualquer acesso confiável à água permanecerá como sonho.

[ Natasha Westheimer, especialista australiana-americana no gerenciamento de água, é uma ativista anti-ocupação residente em Jerusalém | Publicado no Haaretz | 30|09|21 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR ].

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