O Braço Executivo dos Colonos

[ Editorial do Haaretz | 15|12|2021 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]

O Estado de Israel e todas as suas entidades têm investido muito esforço para estimular judeus a se estabelecerem no coração dos bairros palestinos em Jerusalém Oriental. Uma das agências mais criativas e irrestritas neste esforço combinado foi o Departamento Geral de Administração do Ministério da Justiça. O Administrador Geral, responsável pela gestão da propriedade e dos fundos de indivíduos cuja identidade é desconhecida, bem como daqueles que não conseguem gerenciar seus próprios ativos, tornou-se um braço executivo das organizações de colonos.

O Monte do Templo visto do Muro em Abu-Dis

 

Desde a década de 1980, o Administrador Geral tem ajudado colonos a tomar casas em Silwan, Sheikh Jarrah e em outros lugares. Em 2018, o Haaretz revelou que o portfólio de Jerusalém Oriental estava sendo gerenciado por Hananel Gurfinkel, um ativista de direita que também criou uma organização sem fins lucrativos para aumentar a presença de Judaica em Jerusalém Oriental [tomada da Jordânia em 1967]. Nessa direção, o escritório do administrador-geral intensificou os esforços para despejar famílias palestinas e ajudar as organizações de colonos. Na semana passada, foi revelado que o administrador-geral tem trabalhado para estabelecer Givat Hashaked, um novo bairro com 470 unidades habitacionais, ao lado de Beit Safafa, em Jerusalém.

O bairro palestino de Beit Safafa tem uma grave escassez de habitações, bem como escassez de terras para o desenvolvimento. No entanto, Givat Hashaked está programado para ser um bairro judeu “isolado dos bairros existentes”, como dizem os documentos de planejamento. Na segunda-feira, Nir Hasson divulgou no Haaretz que, além de Givat Hashaked, o administrador-geral está promovendo a construção de cinco conjuntos habitacionais para judeus dentro de bairros palestinos de Jerusalém Oriental ou adjacentes a eles.

Dois deles estão em áreas de atrito em Jerusalém Oriental – em Sheikh Jarrah e ao lado do Portão de Damasco. Os outros estão planejados para Beit Hanina, Sur Baher e outro complexo em Beit Safafa – todos os quais bairros palestinos lotados que precisam desesperadamente de espaço para desenvolvimento e novas moradias.

Em Sheikh Jarrah, o plano também inclui o despejo de famílias palestinas que vivem lá há décadas. Tal atividade de desenvolvimento é altamente incomum no contexto das operações do Administrador Geral em outras regiões do país,  além da outra grande assistência que o departamento vem prestando às organizações que trabalham para aumentar a presença judaica em Jerusalém Oriental. Essas atividades são baseadas em uma lei discriminatória, que só permite que os judeus exijam a devolução de suas propriedades abandonadas em 1948.

O principal objetivo do movimento de assentamento em Jerusalém Oriental é afastar qualquer perspectiva de um futuro acordo diplomático com os palestinos. Enquanto isso, os assentamentos servem como uma ferramenta adicional para oprimir e humilhar os moradores palestinos da cidade. Prejudicam o tecido das relações entre os residentes palestinos e o Estado, exacerbam as tensões e contribuem para o aumento do nível de violência.

O administrador-geral deve parar de promover a construção judaica em Jerusalém Oriental e considerar como a propriedade que administra pode ser usada para um planejamento adequado e para facilitar a vida dos residentes palestinos da cidade. E o Ministro da Justiça Gideon Sa’ar deve instruir o Departamento Geral de Administradores a se concentrar nos poderes que foram conferidos a ele por lei e não para servir como um braço das organizações de colonos.

[ Editorial do Haaretz | 15|12|2021 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]

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