A renúncia do Embaixador de Israel no Canadá

Não é sempre que a renúncia de um embaixador faz manchetes, mas o anúncio público no final do shabat de que o Dr. Ronen Hoffman estava renunciando ao seu cargo de embaixador israelense no Canadá enviou ondas de choque através da comunidade judaica canadense – e dos corredores do poder em Ottawa. Todos nós devemos tomar conhecimento.

 

[ por JOE ROBERTS | publicado no Times of Israel | 28|01|2023 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR | www.pazagora.org ]

O anúncio via Twitter, na mesma noite em que judeus canadenses tomaram as ruas de Toronto em solidariedade com centenas de milhares de israelenses em defesa da democracia em Tel Aviv, Jerusalém e Haifa pareceu simbólico. Suas palavras, de que sua “integridade pessoal e profissional” o obrigou a tomar a decisão de renunciar devido ao novo governo e à nova política, soaram alto e claro.

A renúncia do Dr. Hoffman é um ato de verdadeiro amor patriótico que deve ser celebrado.

Muitos judeus canadenses têm se incomodado com as ações da nova coalizão de governo de Israel e a agenda perigosa que ela está empenhada em perseguir em face do clamor público.

Temos assistido com crescente alarme à medida que o governo de Israel tomou medidas para minar as instituições democráticas e cruzou as linhas vermelhas, que há apenas um ano teriam sido inimagináveis. Testemunhamos a ascensão de elementos extremistas dentro dos mais altos níveis de governo e a crescente influência de fanáticos que procuram impor uma visão de mundo estreita a toda a sociedade israelense.

O Dr. Hoffman serviu seu país com distinção durante seu mandato como embaixador, e sua dedicação ao Estado de Israel é inegável. Sua renúncia foi uma escolha, e que não pode ter sido fácil. O filósofo francês Albert Camus disse: “a vida é uma soma de todas as nossas escolhas”. Nossas instituições judaicas e o governo que nos representa também têm escolhas a fazer neste momento – como elas respondem é fundamental.

Escolhas feitas diante de pressões incríveis sobre nossas crenças nunca são fáceis de fazer, mas muitas vezes são as mais importantes. “A escolha foi concedida a cada pessoa… Este conceito é um princípio fundamental e um pilar da Torá e seus mandamentos” (Mishnê Torá, Leis do Arrependimento 5:1) E embora D’us tenha nos concedido livre arbítrio, optar pelo certo é muitas vezes difícil.

À medida que as linhas vermelhas são cruzadas, novas linhas devem ser traçadas. É isso que este momento de crise exige. Como judeus canadenses, devemos pressionar nossas instituições e o governo a incorporar a mesma integridade do Dr. Hoffman. Devemos fazer isso, não por desdém ou para difamar Israel, mas precisamente porque o amamos. Nossa crença no sionismo exige isso.

Nossas instituições judaicas devem enfrentar o desmantelamento da democracia israelense com a mesma urgência feroz que tiveram para a criação dela. O judaísmo canadense desempenhou um papel vital na construção do Estado judeu, agora cabe a nós defender a sua defesa. O nefesh [alma] de Israel está em jogo – as organizações comunitárias devem falar com uma voz clara e evitar as armadilhas de uma perspectiva de que “há pessoas boas de ambos os lados”. Essa é uma posição perdedora e que aprofundará as fendas em nossa comunidade.

Quando confrontados com aliados que se dirigem imprudentemente para o autoritarismo, linhas claras na areia devem ser traçadas pelo nosso governo. Podemos não conseguir escolher os resultados das eleições, mas podemos escolher com quem nos envolvemos e como os valores canadenses se refletem nesses compromissos. Comprometer-se a não construir relações bilaterais com elementos extremistas na coalizão de governo de Israel, cujas ações são contrárias às crenças compartilhadas entre nossas duas nações, são valores canadenses que se manifestam. É a escolha certa, mesmo que não seja a mais fácil.

Há temores dentro da comunidade judaica de que tais ações possam atiçar as chamas do antissemitismo, e elas são justificáveis. Os inimigos de Israel aproveitarão qualquer oportunidade para explorar a divisão. Mas se os sionistas que levantam essas preocupações como um ato de amor são uma granada de mão, o silêncio diante de ministros processados por terrorismo servindo no governo é uma bomba atômica. Não abordar isso, e dizer que isso não é o que define Israel, é mais munição para os antissemitas do que se todos os judeus do mundo falassem juntos.

A boa notícia é que não é tarde demais. As escolhas que fazemos agora podem mudar o curso da História. Devemos seguir a liderança do Dr. Hoffman, inspirados por sua coragem, e fazer a escolha de defender nossa integridade pessoal. Não será fácil, e as vozes em dissidência serão altas – mas é a escolha certa a fazer.

SOBRE O AUTOR

Joe Roberts é veterano estrategista político nos EUA e no Canadá, Presidente do Conselho da JSpaceCanada, a principal voz do judaísmo progressista canadense, e Presidente do Meretz Canadá. Ele lidera o Centro para o Progresso Canadense, um think tank progressista de políticas públicas focado no avanço da sociedade canadense. Roberts passou 10 anos de sua carreira em cargos executivos no sistema da Federação Judaica e vive em Cobourg, Ontário. Completou estudos na Universidade do Alasca-Fairbanks, na London School of Economics and Political Science e na Harvard Kennedy School.

[ por JOE ROBERTS | publicado no Times of Israel | 28|01|2023 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR | www.pazagora.org ]

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