Surto de Ocupação na Cisjordânia durante a guerra em Gaza

No rescaldo de três meses de guerra em Gaza, estamos testemunhando um aumento sem precedentes nas atividades de colonização na Cisjordânia, incluindo a construção de postos avançados, estradas, cercas e bloqueios de estradas promovidos pelos colonos. Os colonos persistem na tomada do controle da Área C na Cisjordânia, marginalizando ainda mais a presença palestina. 

Juntamente à violência contínua dos colonos, relatórios de novembro destacaram a criação de novos postos avançados ilegais e a pavimentação de estradas, contribuindo para um fenómeno generalizado de bloqueios de estradas. 

Estes obstáculos impedem o acesso dos palestinos às estradas principais da Cisjordânia; são erguidas barreiras ao longo destas estradas, para impedir o movimento e a presença palestina em várias zonas tampão.

  • Um número recorde de 9 novos postos avançados num período de cerca de três meses.
  • Um número recorde de 18 estradas ilegais pavimentadas ou abertas pelos colonos.
  • Os colonos regressaram a Amona, um posto avançado que foi evacuado em 2017 por ordem judicial. Os colonos o haviam evacuado em troca de compensação financeira, e o assentamento de Amihai foi estabelecido.
  • A estrada de desvio de Huwara está quase deserta desde os esforços para abri-la.
  • Há um novo fenómeno de colonos que fecham rotas de tráfego palestino contrariando ordens militares.
  • Construção de cercas em ambos lados de estradas, impedindo movimento entre núcleos palestinos.
  • Parte significativa dos postos avançados e das estradas está localizada em terras palestinas privadas.

“Os três meses de guerra em Gaza estão sendo explorados pelos colonos para estabelecer fatos consumados e assumir efetivamente o controle de extensas áreas na Área C.

Os colonos decidem onde construir estradas e postos avançados continuamente, desconsiderando o estatuto legal da terra . Eles persistem na construção de postos avançados em terras palestinas privadas, na definição de áreas abertas e na restrição ao movimento palestino na Cisjordânia. 

O ambiente militar e político permissivo permite a construção ilegal e a apreensão de terras quase sem controle, sem um mínimo de cumprimento da Lei. 

Os resultados não são apenas danos físicos aos palestinos e às suas terras, mas também uma mudança política significativa na Cisjordânia. A violência desenfreada dos colonos deve ser interrompida AGORA.”

Desde o início da guerra em Gaza, os colonos estabeleceram ou restabeleceram pelo menos dez postos avançados, alguns dos quais haviam sido evacuados no passado e depois reconstruídos. Alguns postos avançados que foram estabelecidos foram posteriormente desmantelados pela Administração Civil. Por exemplo, dois postos avançados foram estabelecidos perto do posto avançado de Asael, na região sul de Hebron Hills, e o posto avançado em Amona foi reconstruído após a sua demolição no início da guerra.

De acordo com o exame da Equipe de Monitoramento de Assentamentos do PAZ AGORA, nove postos avançados foram estabelecidos ou restabelecidos no terreno:

  1. Posto avançado ao norte de Asael, numa colina em frente ao posto avançado.
  2. Posto avançado a oeste de Amihai, no bloco Shiloh, e a leste da aldeia palestina de Turmus Aya.
  3. Nos últimos dois anos, os colonos tentaram várias vezes estabelecer o posto avançado de Givat Haktora entre os assentamentos de Ali e Shiloh, em terras pertencentes à aldeia palestina de Karyut. Foi evacuado pela Administração Civil por um determinado período; após o início da guerra, o posto avançado foi ampliado e ganhou acesso a partir do assentamento de Shiloh.
  4. Posto avançado reconstruído de Sde Yonatan, ao sul da aldeia palestina de Dir Dibwan, em terras palestinas privadas.
  5. Posto avançado de Or Meir, localizado ao sul do assentamento de Ofra, em terras palestinas privadas.
  6. Posto avançado adjascente à comunidade Tuba, na região sul de Hebron Hills
  7. Posto avançado de Yachish Zion, perto do assentamento Psagot, foi reconstruído em terreno privado depois de ter sido despejado diversas vezes.
  8. Posto avançado de Amona foi reconstruído apesar de ter sido demolido durante a guerra pela Administração Civil e ter sido evacuado por ordem judicial.
  9. Posto avançado situado a oeste da aldeia palestina de Battir, localizado numa área designada como Património Mundial da UNESCO. Leia mais sobre este posto avançado, aqui .

No momento da redação destas linhas, havia pelo menos nove postos avançados estabelecidos ou restabelecidos desde o início da guerra em Gaza.

As obras de construção de estradas para os assentados continuam a todo vapor e, até o momento, não temos conhecimento de casos em que a Administração Civil tenha impedido ou cancelado estradas pavimentadas. Além disso, tanto quanto sabemos, nenhum equipamento pesado utilizado para pavimentação de estradas foi confiscado, em contraste com o fenómeno generalizado de confisco de equipamento pesado quando os palestinianos constroem sem licença.

Até agora, pelo menos 18 novas estradas foram documentadas. Estimamos que o número real seja maior. A pavimentação destas estradas permite a apreensão de novas áreas extensas ao longo do caminho da estrada, marcando território inacessível aos palestinos devido à presença dos colonos e ao seu acesso conveniente à área.

Estas são as estradas e caminhos construídos desde o início da guerra:    

  1. Posto avançado [outpost] Sneh Yaakov/Givaat Ronen próximo à vila de Burin – Estrada não autorizada nas terras da vila de Burin.
  2. Reserva Natural Nahal (Wadi) Kana – Novo trecho na estrada do posto avançado Alonei Shilo em direção ao assentamento Immanuel. Toda a estrada passa pelo território da Reserva Natural Nahal Kana. A estrada foi inicialmente aberta em 2018 e o PAZ AGORA apresentou uma queixa à polícia relativamente aos trabalhos em curso.
  3. Rota de fuga do assentamento Emanuel.
  4. Estrada Sul até ao povoado de Peduel.
  5. Interferências rodoviárias no bloco Shiloh.
  6. Estrada para o posto avançado da fazenda Machach em Wadi a-Siq.
  7. Estrada para o posto avançado de Sde Yonatan.
  8. Estrada para o novo posto avançado próximo ao assentamento Negohot.
  9. Estrada ao sul do assentamento da Fazenda Yair, em direção à aldeia palestina de Qarawat Bani Hasan, em terras palestinas privadas.
  10. Estrada a oeste do assentamento Revava numa área parcialmente privada.
  11. Nova estrada ao sul da a aldeia palestina de Beit Awwa, ao norte do assentamento Negohot.
  12. Rompimento da estrada oriental para o assentamento Sham’a na região sul de Hebron Hills.
  13. Rodovia a leste do assentamento Itamar e nordeste da fazenda Itamar.
  14. Trecho na estrada perto de Ein Rashash até a estrada Alon. A estrada fica perto do posto avançado de Melech Hashalom e do local onde a comunidade beduína foi expulsa no início da guerra.
  15. Trecho ao norte até o posto avançado de Kida Leste, no leste.
  16. Abertura de uma estrada ao sul para o assentamento Susya, no sul das colinas de Hebron.
  17. Abertura de uma estrada perto do posto avançado de Abigail em direção ao leste.
  18. Abertura de uma estrada a noroeste do povoado de Ateret.

No total, desde o início da guerra, os colonos abriram ou pavimentaram pelo menos 18 novas estradas.

Outra forma de assegurar o controle sobre extensas áreas abertas envolve a construção de cercas que se estendem de centenas de metros e até quilómetros. Por exemplo, na segunda quinzena de Novembro, os colonos começaram a erguer cercas ao longo da Estrada Alon (Rota 578), no norte do Vale do Jordão. A cerca corre paralela ao assentamento Maskiot em direção ao sul, passando pelo posto avançado da Fazenda Eretz Shemesh e continuando por mais 2 quilômetros ao sul. A cerca destina-se a impedir que os pastores palestinos pastoreiem na área.

Cercas adicionais foram instaladas perto do posto avançado de Asael, na região sul de Hebron Hills, estendendo-se por centenas de metros. A cerca foi construída ao longo da Rota 317 até o cruzamento Shani. Até o início da guerra, duas comunidades beduínas palestinas residiam na colina ao sul da estrada. Ambas as comunidades foram deslocadas à força pelos colonos em outubro. Depois disso, um novo posto avançado foi estabelecido no morro, mas posteriormente despejado pela Administração Civil. Em vez de restabelecer o posto avançado (nessa fase), os colonos ergueram cercas ao longo da estrada, impedindo o regresso dos palestinos ou mesmo dos seus rebanhos à área, como tinham feito dezenas de vezes nos últimos anos.

Durante a atual guerra na Faixa de Gaza, assistimos a um aumento no envolvimento dos colonos na área de segurança e nas decisões civis relacionadas com a vida dos palestinos na Cisjordânia. Uma tendência emergente desde o final de outubro é o bloqueio de estradas para a utilização por veículos palestinos e o fechamento de entradas nas aldeias palestinas.

Desde 7 de Outubro, os militares fecharam centenas de pontos de entrada e saída de cidades e aldeias palestinas ao longo dos principais eixos de transporte na Cisjordânia. No final de outubro, as FDI começaram a levantar alguns bloqueios, permitindo um pouco mais de liberdade de circulação aos veículos palestinos nas principais estradas da Cisjordânia. Desde essa decisão, ocorreram protestos e fechamentos de estradas, iniciados por colonos que alegam que o exército “coloca em risco a sua segurança” ao permitir que os palestinos saiam das suas aldeias. Em muitos casos, os colonos, incluindo famílias, mulheres e crianças, juntamente com os jovens, fecham as rotas de tráfego. Na maioria dos casos, o exército assegura os protestos e cumpre a exigência dos colonos de manter as rotas de tráfego fechadas aos palestinos.

A maioria dos protestos e fechamentos de estradas ocorrem perto de povoações localizadas entre Ramallah e Nablus. Por exemplo, ao longo de outubro, colonos de Shavei Shomron, liderados por mulheres colonas, protestaram todas as noites, exigindo a continuação do fechamento da Estrada Tul Karem (Rota 57) ao tráfego palestino. Os moradores de Ariel também impediram diversas vezes a abertura da estrada desde a via de acesso ao caminho que leva à Rodovia nº 5.

Um dos projetos de infraestrutura em andamento desde o início da guerra é a Estrada de Contorno de Huwara . Por iniciativa da Ministra dos Transportes, Miri Regev, decidiu-se adiantar a sua abertura . A estrada foi inaugurada em 11/11/23 para beneficiar quatro assentamentos na área de Nablus, com um investimento de 350 milhões de shekels. 

Mesmo após a abertura da estrada, os colonos continuam a viajar por dentro da aldeia de Huwara, fazendo também uma declaração política ao afirmar que “a Estrada Huwara pertence aos judeus e que não deveria haver nenhuma concessão sobre ela”. Até a data desta publicação, a estrada de contorno é usada com moderação pelos colonos, com tráfego diário mínimo.

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