Amos Oz : Reajam à Covardia!

O escritor israelense será poupado da pequenez dos líderes israelenses e palestinos.

Amos Oz em sua cada de Tel Aviv, in 2015.CreditDan Balilty/Associated Press
Diz-se que Napoleão declarara que se fosse morto em 1812 quando entrou triunfalmente em Moscou, entraria para a História como o maior general que existira. Aí veio a retirada , a longa jornada de volta a França e uma perda indizível.

Um bom timing na morte, como em qualquer partida, é importante, Tenho pensado nisto com relação ao falecimento no mes passado de Amos Oz, o grande romancista israelense que eu considerava como amigo. Ele era a consciência de Israel, fiel aos ideais fundadores da nação e ao próprio judaísmo, e marcava presença em qualquer idéia que defendia – paz, compromisso, dignidade, decência e direitos humanos – na Terra Santa ou no exterior.

Oz, ao menos, será poupado do espetáculo de Benjamin Netanyahu, o primeiro ministro israelense, bajulando um presidente americano, Donald Trump, cuja noção de paz no Oriente Médio parece se resumir ao desprezo de qualquer reivindicação palestina. Ele será poupado da pequenez dos líderes de Issrael e Palestina. Será poupado de suas covardias. Será poupado da farsa da idéias de Jared Kushner sobre paz.  A História está girando para trás.

Encontrei Oz em seu apartamento de Tel Aviv. Era um madrugador. Suas melhores horas eram entre 6:30 e 8:30 da manhã. “É necessário trabalhar muito turo para que seus leitores não notem numa única falha”, me disse. “Este é o negócio de 3/4 milhão de decisões”. Falou com aquele sorriso e sua piscadela característica, sobre ter recebido um prêmio literário da China e dizer a uma multidão em Beijing o quão honrado estava, pois entre chineses e judeus, estava representada quase 20% da Humanidade.

Ele achava que judeus deviam rir.

Desprezando o fanatismo, ele também acreditava que judeus jamais deveriam abandonar o debate controverso , a “enquete intergeracional que assegura a passagem da tocha”, como ele coloca em “Os Judeus e As Palavras”, escrito com sua filha  Fania Oz-Salzberger. Acrditava que os judeus precisam de uma Pátria, Israel. Seu pai, quando jovem na Lituânia sofria o refrão: “Judeus, vão pra casa na Palestina!”. Agora, muita gente grita: “Judeus, saiam da Palestina!”.  Está falado,

Ou não o suficiente. Judeus ficarão bem num Estado binacional dividido com os Palestinos! Judeus ficarão bem quando o anti-semitismo renascer. Judeus ficarão bem esquecendo os milênios de perseguições e insultos na diáspora! Judeus ficarão bem confiando naqueles em quem não tem razão para cofiar…!

Oz, que combateu em duas guerras, não acreditava nisso. Eu não acredito nisto, Como ele disse para mim sobre o princípio mais sagrado dos palestinos? “O direito de retorno é um eufemismo para a liquidação de Israel”.

Ao mesmo tempo, Oz via com clareza a corrupção insidiosa de Israel por mais de meio século de ocupação na Cisjordânia.  Como os israelenses se tornaram gradualmente cegos à humanidade de milhões de palestinos. Como foram introduzidos hábitos de arrogância, Como  se alimentou a guinada para a direita  que sepultou num nacionalismo messiânico o sonho de uma paz de dois Estados e abrigou um líder, Netanyahu, que tomou como sua tarefa enterrar a iniciativa de Yitzhak Rabin por aquela paz.

Oz me dizia que Netanyahu era um “covarde”, o anti-Rabin em sua incapacidade de ter um pensamento grande ou generoso.

“Construir assentamentos em territórios ocupados foi o êrro singular mais grave e maior pecado na História do sionismo moderno, porque foi baseado na recusa a aceitar o simples fato de que não estamos sozinhos nesta terra”, dizia Oz.

Uma vez resumi o credo de Oz  desta maneira: “Dois Estados, absolutamente, são a única resposta.” Palestinos e outros árabes uma vez trataram Israel como uma infecção passageira. Se esfregassem combastante força, ele iria embora

 Israel tratava a Palestina como não mais que “uma invenção viciosa de uma máquina de propaganda Pan-Árabe”. Essas  ilusões passaram. A realidade atual demanda um compromisso –  ‘e compromissos não são alegres; Não existe algo como um compromisso alegre”.

Isto foi há alguns anos. Hoje, é mais difícil acreditar que “a realidade” demanda um compromisso de Dois Estados. A realidade está empurrando para outra direção. Os fanáticos etnonacionalistas estão em marcha.

Em sua obra-prima, “Um Conto de Amor e Escuridão”, Oz descreveu suas saídas bem cedo a cada manhã  para o  deserto próximo à sua casa em Arad. “Agora”, escreveu, “pode-se ouvir as totais profundezas do silêncio do deserto. Não é o silêncio antes da tempestade, ou o silêncio do fim do mundo, mas um silêncio que apenas cobre outro silêncio, mais profundo”.

É assim que imagino Oz agora, inalando o silêncio bíblico – um silêncio que é também uma interpelação à covadia daqueles que se autodenominam líderes.

Roger Cohen Roger Cohen é colunista do The New York Times desde 2009 , tendo servido como correspondente estrangeiro e editor de exterior.

[ traduzido por Moisés Storch para o PAZ AGORA|BR – www.pazagora.org ]

 

 

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