Anexação pode ser jogada de Netanyahu para Desmantelar a Democracia de Israel

Anexar É RUIM para Israel

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A expropriação proposta de terras da Cisjordânia é tão patentemente desequilibrada, que acende suspeitas de desígnios mais ambiciosos e sinistros.

A pressa de Benjamin Netanyahu para anexar partes da Cisjordânia no 1º de julho é, por qualquer padrão racional, completamente desequilibrada. Por um pequeno momento de arrogância nacionalista, que não muda nada no terreno, Israel está arriscando violência, derramamento de sangue, condenação, isolamento, sanções, laços regionais, uma ruptura com a Jordânia e o colapso da Autoridade Palestina. E isto só para começar.

Netanyahu, e não mais do que um punhado de devotos direitistas em Israel e nos EUA, mantém que os meses restantes da administração de Donald Trump criam uma única e histórica janela de oportunidade que deve ser explorada, antes que se feche sua potencialidade. Aos olhos de todos outros, Netanyahu – e Israel por extensão – está à beira de tomar territórios disputados, como ladrões na noite, protegidos por um presidente americano fora da lei, que é universalmente insultado. Custará um inferno, advertem.

Anexação é um presente divino para qualquer um que deseje prejudicar Israel. Ela força a comunidade internacional a se focalizar na atual ocupação sobre os palestinos, que tem sido muito esquecida. Ela corrobora longevas alegações de que Israel não tem interesse de conquistar a paz. E, dada a assertiva de Netanyahu de que os palestinos dos territórios não receberão cidadania, a anexação irá de fato provar o que Israel há muito tem sido descrito como o “libelo de sangue” do apartheid.

A anexação priva Israel de qualquer superioridade moral que até aqui tentou manter. Após a anexação, defensores de Israel – inclusive os judeus americanos [e brasileiros NT] serão muito pressionados a argumentar que a justiça está a seu lado ou a atribuir a culpa pelas hostilidades à intransigência palestina. A anexação irá legitimar o tipo de violência palestina que Israel até aqui venceu com sucesso.

E a parte mais louca é que esta mudança momentosa, que pode ter um impacto dramático sobre a segurança, relações exteriores e coesão interna de Israel, é basicamente um one-man show do começo ao fim.  Netanyahu pressionou Trump a formular e publicar seu assim chamado “Acordo do Século” e foi instrumental em desenhar o mapa absurdo que o acompanha. Agora, está tentando manobrar o governo americano para endossar a anexação, sem abordar as outras provisões, patéticas que sejam, do “plano de paz” patético de Trump.

O primeiro-ministro está guardando suas cartas tão próximas do seu queixo que ninguém sabe realmente se ele pretende  prosseguir com a anexação. Está deixando todos a adivinhar, pressionando Israel a fazer uma decisão crucial sem revelar qualquer detalhe, enquanto desenvolve uma ampla campanha de Relações Públicas para minimizar seu potencial desabamento. “Conversar prejudica a anexação”, disse Netanyahu no domingo, esperando que os israelenses sigam cegamente seus passos.

Netanyahu está tomando o mundo para dar forma aos seu legado como o primeiro-ministro que estabeleceu a reivindicação pelas terras judaicas bíblicas da Judéia e Samária, alguns dizem. Na verdade, outros afirmam, ele irá voltar atrás no último minuto, colocar o fracasso da anexação sobre seus rivais políticos, incendiará um frenesi público e pedirá novas eleições, que como todo resto que Netanyahu tentou nos dois últimos dois anos – deve lhe dar uma saída para suas desgraças legais.

Talvez seja arrogância. Nos últimos anos, Netanyahu reforçou sua reputação como mestre da diplomacia e grande mago na política. Ele sobreviveu a repetidas eleições onde se previa que iria perder. Ele não apenas refutou advertências sobre o alto preço a pagar pelo seu confronto hostil com Barack Obama, foi premiado com a simpatia de Donald Trump e uma carta branca presidencial para seguir a sua visão da agenda nacionalista da direita. Agora, ele tem todo o mundo nas mãos, aguardando cada palavra sua.

Não obstante, a corrida incansável de Netanyahu para anexar, é para ele uma aberração. Ele pode ter saído do fundo da política doméstica, igualando e às vezes superando o próprio Trump em plantar teorias de conspiração, sabotar o domínio da lei e disparar guerras perigosas na mídia, mas ele tem principalmente  sido amarrado a um cauteloso rejeccionismo e contenção no manejo de assuntos de segurança e relações internacionais de Israel. A anexação marca a expansão da demência doméstica de Netanyahu para seu manejo dos assuntos de Estado também – e isto provavelmente não é coincidência.

A anexação, de fato, pode ser o instrumento que Netanyahu empunha para castigar a democracia de Israel e salvar a si próprio. Se a reação  internacional à anexação revelar-se bem pior do que sua mordida prevista, como tem sido no passado, Netanyahu emergirá vitorioso. Ele será coroado como herói e provavelmente ganhará apoio público suficiente para conquistar a maioria absoluta do Knesset que queria, mas até aqui não conseguiu. A democracia e o domínio da lei estarão sob seu controle.

Nablus - 30|05|2020

Nablus – 30|05|2020

Se, por outro lado, previsões de violência, caos e repúdio internacional emergirem, Netanyahu irá encontrar-se ostensivamente numa situação mais difícil, mas onde poderá manipular uma virada de mesa. Ele irá culpar a mesma grande conspiração sobre aqueles que atiram nele pessoalmente pelo isolamento internacional de Israel, pela erupção das hostilidades na Cisjordânia e por quaisquer convulsões internas.

Confrontado pela corrente pandemia do coronavirus e armado de poderes emergenciais que estão para  lhe ser concedidos por seu gabinete e o Knesset, a anexação poderia ficar diretamente nas suas mãos. O isolamento internacional e a violência palestina iriam inevitavelmente enfurecer o público israelense, rapidamente apagando sua consciência de que tinha sido a ação unilateral de Netanyahu que detonou a conflagração em primeiro lugar. Para um campeão em manipulação da opinião pública como ele é, atiçar o frenesi público, canalizar a raiva contra inimigos externos e internos, decretar um Estado de Sítio a implementar medidas de emergência para enfrentar os desafios seria um jogo de crianças.

Visto nesta luz sinistra, os persistentes esforços de Netanyahu para reforçar uma mentalidade universal de “nós contra eles” e minar a confiança dos cidadãos israelenses em suas próprias instituições seriam meramente uma preparação para o decisivo momento em que aconteça a anexação,

Isto poderia prover Netanyahu com o gatilho para seu jogo final de evitar seu julgamento e assegurar um domínio autocrático.

Com o benefício da retrospectiva, a anexação pode vir a ser vista não como um fim em si mesmo, nem mesmo como uma assertiva por direitos históricos, mas como um prelúdio para o desmantelamento da própria democracia de Israel.

[ por Chemi Shalev – publicado no Haaretz em 15|06|20 – traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]



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